Ucrânia diz que Cloudflare e SAP devem sair da Rússia agora
Quase 500 empresas de tecnologia deixaram a Rússia desde o início da guerra


Mykhaiilo Fedorov, ministro de Transformação Digital da Ucrânia, não saía do país desde que a Rússia o invadiu há três meses.
Mas ele viajou centenas de quilômetros de Kiev para Davos, na Suíça, para enviar uma mensagem a algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo. E o recado foi: precisamos que vocês façam mais.
Fedorov disse em entrevista ao CNN Business que se encontrou com Nick Clegg, chefe de assuntos globais na Meta, empresa-mãe do Facebook (FB), no Fórum Econômico Mundial de Davos.
O ministro também teve reuniões com representantes da Microsoft (MSFT) e Google (GOOGL). “Cada um de nós pode fazer melhor”, afirmou.
Quase 500 empresas de tecnologia deixaram a Rússia desde que o presidente Vladimir Putin enviou tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro, segundo a contagem do próprio Fedorov. No entanto, ele criticou as empresas de tecnologia Cloudflare e SAP por continuarem operando na Rússia, uma atitude que, segundo ele, mina a eficácia do “bloqueio digital”.
“Quando uma empresa está trabalhando no mercado russo, ela injeta fundos para o orçamento russo e, dali, o dinheiro chega ao exército russo, o que permite matar ucranianos”, apontou Fedorov.
A SAP, da Alemanha, que faz softwares para empresas, disse em abril que planejava sair de Rússia. Mas Fedorov disse que a empresa está agindo muito lentamente na partida e precisa de se mover mais depressa.
“Estou convencido de que eles acabarão saindo da Rússia mais cedo ou mais tarde – mas mais cedo [é melhor] do que mais tarde, porque as pessoas estão sendo assassinadas”, afirmou.
A SAP disse em uma declaração ao CNN Business que está tendo “um diálogo contínuo com o governo ucraniano, que incluiu conversações em Davos”.
“A SAP tem sido solidária aos ucranianos desde o início da guerra injustificada da Rússia, inclusive iniciando o fechamento de nosso negócio direto na Rússia e fornecendo ajuda tecnológica e humanitária significativa à Ucrânia”, declarou a empresa.
“Os princípios que orientam as nossas decisões incluem a implementação integral de sanções como membro responsável da comunidade global, bem como ir além das sanções onde e como pudermos”.
A Cloudflare, entretanto, disse que ainda está trabalhando na Rússia a fim de proteger o fluxo de informação não censurada para os russos.
“Eles dizem que estão lá supostamente para defender algum tipo de democracia”, acusou o ministro ucraniano.
Em uma declaração, a operadora de serviços em nuvem disse que “tem atividade comercial e de vendas mínimas na Rússia” e “encerrou contratos com qualquer cliente que identificamos como vinculado a entidades sancionadas”.
A companhia disse que “também trabalhou de forma cuidadosa e doou serviços gratuitamente para sites ucranianos, redes e infraestrutura crítica para ajudá-los a permanecer online e seguros”.
O ministro Fedorov enfatizou que um “bloqueio digital” é uma ferramenta importante para lutar contra a Rússia, já que isso pode fazer o país regredir “duas ou três décadas”, e encoraja engenheiros e outros especialistas a sair da nação.
“Também queremos que os russos entendam que algo está errado. E eles têm que se erguer contra a guerra”, acrescentou Fedorov.
Em reuniões com Meta e Google, Fedorov disse que discutiu o combate à desinformação, bloqueando canais de propaganda política e criando “um corredor verde” para a informação dos meios de comunicação ucranianos e blogueiros para que eles não fiquem bloqueados.
O ministério digital da Ucrânia também continua pressionando por doações diretas para apoiar a defesa e reconstrução do país. Na Casa da Ucrânia, o centro da delegação do país em Davos, os visitantes podem contribuir através de cartão de crédito, transferência bancária, PayPal ou com criptomoeda.
Na quarta-feira (25), a banda ucraniana Kalush Orchestra, vencedora do concurso de música Eurovision deste ano, anunciou que iria rifar seu troféu para levantar dinheiro para os militares da Ucrânia. Os lances podem ser feitos em criptografia.
No entanto, a recente queda nos mercados de criptografia tem prejudicado os esforços de angariação de fundos do governo ucraniano.
O ministro Fedorov disse que, há algumas semanas, o governo havia conseguido cerca de US$ 70 milhões (cerca de R$ 333,5 milhões) em cripto. Agora, ele estima que o valor esteja entre US$ 60 e 65 milhões (cerca de R$ 286 e R$ 310 milhões).