Tubarões-brancos podem ter colaborado na extinção do megalodonte, diz estudo
Para chegar à descoberta, pesquisadores usaram uma nova técnica, medindo isótopos de zinco presentes nos dentes dos tubarões
O megalodonte, um tubarão gigante que viveu há mais de 23 milhões de anos e foi a inspiração para o filme “Megatubarão” (2018), era quase quatro vezes maior que o tubarão branco que cruza nossos oceanos hoje.
No entanto, as duas espécies de tubarão, que já coexistiram em algum momento, provavelmente caçavam algumas das mesmas presas. Essa competição pode ter sido uma das razões pela qual o megalodonte, de 20 metros de extensão, tenha sido extinto, sugere um novo estudo.
Para chegar nesta descoberta, os pesquisadores envolvidos no estudo usaram uma nova técnica. Eles analisaram traços dietéticos deixados nos dentes de 13 espécies extintas de tubarões e de 20 tubarões modernos para entender onde se encaixam na cadeia alimentar – lugar conhecido cientificamente como nível trófico.
“O megalodonte é muitas vezes retratado como um tubarão enorme e monstruoso na ficção, mas a realidade é que sabemos muito pouco sobre esse tubarão extinto”, disse o autor do estudo Kenshu Shimada, professor de paleontobiologia na Universidade DePaul, em Chicago, e pesquisador associado do Museu Sternberg de História Natural, no Kansas.
“Nosso novo estudo mostra que o leque dietético do tubarão-branco do início do Plioceno é muito parecido com o do megalodonte, indicando que nossos dados não contrariam a hipótese da competição”, ele disse via e-mail.
Os pesquisadores puderam recolher essas informações observando a presença de diferentes isótopos, ou variantes, do elemento químico zinco preservado no esmalte dos dentes dos tubarões.
O zinco é essencial para seres vivos e tem um papel importante no desenvolvimento dos ossos. O equilíbrio entre isótopos de zinco mais pesados e mais leves nos dentes preservam um registro do tipo de matéria animal que os tubarões comiam.
“Isótopos de zinco podem ser usados como indicadores ecológicos pois a taxa de dois isótopos diferentes mudam conforme você sobe a cadeia alimentar”, disse o coautor Michael Griffiths, geoquímico e professor no departamento de ciência ambiental na Universidade William Paterson, em Nova Jersey.
Por exemplo, se o megalodonte comesse tubarões-branco, sua posição mais alta na cadeia alimentar teria sido refletida nos registros de isótopos. Mas os estudos mostraram que as espécies tinham partes em comum, o que sugere que dividiam itens parecidos.
No entanto, os autores alertaram para o fato de que não podem afirmar que os megalodontes não predavam tubarões-brancos, dado que seus valores de isótopos, principalmente de um parente próximo do megalodonte chamado Chubutensis megalodon, tinham valores menores do que os de qualquer fóssil de vertebrados ou modernos analisados.
Alimentar-se no mesmo nível trófico não implica necessariamente competição direta entre o megalodonte e o tubarão-branco pela mesma presa. No entanto, pelo menos alguma sobreposição entre os itens alimentares das duas espécies é provável, segundo o estudo.
“Como os tubarões-brancos de hoje, eles [os megalodontes] provavelmente se alimentavam de grandes peixes. Os tubarões-brancos menores presumivelmente não precisavam de tanto alimento quanto o megalodontes, então possuíam a vantagem competitiva se estivessem disputando as mesmas presas”, disse Griffiths.
A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications na terça-feira (31).
Esse estudo representa a primeira vez em que foi provado que isótopos do zinco relacionados à dieta são preservados nos dentes de tubarões.
Uma técnica similar, usando isótopos de nitrogênio, estuda os registros dietéticos de outros grupos de animais, é bem estabelecida, diz o estudo. Entretanto, o nitrogênio não é tão bem preservado nos dentes o suficiente para estudar animais que foram extintos há milhões de anos.
A técnica que usa isótopos de zinco pode ser aplicada em outros animais extintos para entender sua dieta e ecologia.