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    Testamos os novos óculos de realidade virtual da Apple

    Recém-anunciado headset Vison Pro de realidade mista parece um protótipo inicial e caro do futuro

    A tela como vista pelo óculos Vision Pro.
    A tela como vista pelo óculos Vision Pro. Divulgação/Apple

    Samantha Murphy Kellydo CNN Business

    É raro encontrar uma nova tecnologia que pareça inovadora. Mas, ontem à noite, sentada em um sofá numa sala de demonstração privada no campus da Apple usando o recém-anunciado headset (ou fone) Vision Pro de realidade mista, parecia que eu tinha visto o futuro. Ou, pelo menos, um protótipo inicial e muito caro do futuro.

    Na demonstração, que durou 30 minutos, uma borboleta virtual pousou no meu dedo; um dinossauro com escamas detalhadas tentou me morder; e eu fiquei a poucos metros do piano de Alicia Keys enquanto ela cantava para mim, no estúdio.

    Quando um filhotinho de urso nadou comigo em um lago tranquilo durante outro vídeo imersivo, parecia tão real que eu me lembrei de algo que vivi com uma pessoa querida que recentemente faleceu. As lágrimas correram soltas dentro do meu headset.

    A Apple revelou o acessório, seu novo produto de hardware mais ambicioso e arriscado em anos, em um evento para desenvolvedores e especialistas durante a manhã de segunda (5). O headset combina realidade virtual e realidade aumentada, uma tecnologia que sobrepõe imagens virtuais em vídeo com aquelas ao vivo, do mundo real.

    No evento, o CEO da Apple, Tim Cook, destacou o Vision Pro como um “produto revolucionário”, com potencial de mudar a forma como os usuários interagem com a tecnologia, uns com os outros e o mundo ao seu redor. Ele o chamou de “o primeiro produto com o qual você olha através dele, e o não olha para ele”.

    Mas é claramente um trabalho ainda em andamento. Os aplicativos e as experiências permanecem limitados; os usuários ficam restritos a uma bateria do tamanho de um iPhone com duração de apenas duas horas; e os primeiros minutos usando o dispositivo podem ser decepcionantes.

    A Apple também planeja cobrar US$ 3.499 (cerca de R$ 17.180,00) pelo dispositivo, que será vendido a partir do início do próximo ano. O preço é maior do que se imaginava e muito mais salgado que o de outros headsets no mercado que já tentaram conquistar os usuários.

    Com seus seguidores leais e histórico impressionante em hardware, a Apple pode conseguir convencer desenvolvedores, usuários de primeira hora e alguns clientes corporativos a pagar pelo dispositivo. Mas, se quiser atrair um público mais amplo e fora do nicho, a empresa vai precisar de um “aplicativo matador”, termo que o setor usa muito. Ou vários aplicativos matadores.

    Com base na minha demonstração, a Apple ainda tem um longo caminho a percorrer, mas está começando de forma convincente.

    Um edifício especial

    Horas após o evento principal, cheguei a um prédio no amplo campus da Apple em Cupertino, Califórnia, construído especificamente para apresentar demonstrações e briefings do novo fone de ouvido.

    Fui recebido por um funcionário da Apple que digitalizou meu rosto para ajudar a personalizar o ajuste do fone de ouvido. Daí entrei numa pequena sala onde um técnico em optometria perguntou se eu usava óculos ou lentes corretivas. Eu fiz cirurgia Lasik para miopia anos atrás e não uso nada, mas outros que estavam ali tiveram seus óculos digitalizados para que o headset pudesse apresentar o grau preciso dos óculos.

    É uma façanha incrível que diferencia a Apple dos concorrentes e garante que nenhuma armação de óculos precisa ficar pressionada pelo fone, de forma incômoda. Mas não está claro como a empresa planeja lidar com esse processo em escala se milhões comprarem o dispositivo.

    O processo de configuração inicial foi um pouco desagradável: eu me senti meio enjoada e claustrofóbica enquanto me ajustava ao dispositivo. O técnico rastreou meus olhos, digitalizou minhas mãos e mapeou a sala para melhor adaptar à experiência de realidade aumentada.

    De fato, a Apple informou que tomou medidas para reduzir o problema de enjoo de movimento que atormentou usuários de outros acessórios desse tipo. O headset usa um processador R1, um chip personalizado que reduz o problema de latência encontrado em produtos similares que podem resultar em náuseas.

    Como muitos leitores foram rápidos em apontar na segunda-feira, o fone de ouvido em si parece um sofisticado par de óculos de esqui. Ele possui uma alça ajustável macia na parte superior, uma “coroa digital” na parte traseira – uma versão maior do que a de um Apple Watch – e outra coroa digital na parte superior que serve como uma espécie de botão “home”. Há também um fio que conecta a uma bateria externa.

    O headset em si parecia leve o suficiente no início, mas, mesmo com os cortes consideráveis do design da Apple, eu sentia o tempo todo que havia computador no meu rosto. Felizmente, ao contrário de outros produtos de informática, o headset permaneceu fresco, sem esquentar meu rosto, durante toda a experiência, graças em grande parte a um ventilador silencioso e ao fluxo de ar que passa pelo sistema.

    Ao contrário de outros headsets, o novo fone de ouvido de realidade mista também exibe os olhos de seus usuários do lado de fora, então “você nunca fica isolado das pessoas ao seu redor; você pode vê-las e eles podem vê-lo”, explicou Alan Dye, vice-presidente de interface humana, durante a apresentação do produto.

    Infelizmente, eu não consegui ver como estavam meus próprios olhos ou o de qualquer outra pessoa durante a demonstração.

    Uma experiência mista

    Depois de colocar o dispositivo, vi uma interface semelhante à do iOS. Dava para entrar e sair facilmente de aplicativos, como Messages, FaceTime, Safari e Photos, usando apenas meus movimentos oculares e tocando meu polegar e dedo indicador juntos para agir como o botão “selecionar”.

    Foi mais intuitivo do que o esperado e funcionou mesmo quando minhas mãos descansavam no meu colo.

    Algumas experiências de aplicativos foram melhores do que outras, no entanto. Foi lindo ver imagens no app Photos apresentadas diante de mim de uma maneira maior do que a vida real, mas é difícil imaginar sentir a necessidade de fazer isso muitas vezes lá do sofá de casa.

    O Vision Pro também oferece uma opção de foto espacial, que permite aos usuários visualizar imagens e vídeos em 3D para que você sinta que está diretamente na cena. Mais uma vez, legal, mas desnecessário.

    Durante outra demonstração, uma funcionária da Apple usando um headset Vision Pro me chamou no FaceTime do outro lado do campus. Sua “persona” – uma representação digital que não a mostrava usando o Vision Pro – apareceu na minha frente enquanto conversávamos sobre o evento no início do dia.

    Ela parecia real, mas estava claro que ela não era; ela era uma espécie de pseudo humana. (A Apple não digitalizou meu rosto para criar minha própria persona, o que seria feito por meio de seu recurso de segurança OpticID durante a fase de configuração.)

    A funcionária da Apple então compartilhou um quadro branco virtual – arrastando, soltando e destacando imagens de decoração. Cook concentrou-se no potencial da AR para promover a colaboração, e está claro como essa ferramenta pode ser usada em reuniões para cumprir essa promessa. O que é menos claro é por que a maioria dos empregadores gastaria 3,5 mil dólares por dispositivo por funcionário para fazer isso acontecer, em vez de simplesmente usar o Zoom.

    A revelação do produto e a “venda” para os demonstradores pareceu ocorrer na hora errada. No início da pandemia, mais pessoas poderiam ter agarrado a chance de criar essas experiências virtuais enquanto trabalhávamos e socializávamos quase inteiramente de casa.

    Agora, com mais funcionários no escritório e empresas buscando reduzir custos em meio à incerteza econômica, a justificativa para esse dispositivo caro parecia menos clara.

    A verdadeira magia do Vision Pro, no entanto, está nos vídeos imersivos. Assistir a uma cena subaquática de “Avatar 2” em 3D, por exemplo, era surreal, aparentemente me colocando bem no oceano com as criaturas fictícias do filme. É fácil imaginar a adoção por cineastas de Hollywood para criar experiências apenas para o headset.

    A Apple também está posicionada de forma única aqui para lotar o dispositivo com essas experiências. Ela tem relações estreitas no setor de entretenimento, incluindo com o ex-membro do conselho da Apple e CEO da Disney, Bob Iger, que anunciou em um vídeo pré-gravado durante o evento que a Disney deixará disponível no headset quando ele for lançado. A Apple também lançou novas experiências da National Geographic, Marvel e ESPN para o produto.

    Quase todos os novos produtos Apple, do iPhone ao Apple Watch, prometem usar telas de tamanhos variados para mudar a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos com o mundo. O Vision Pro tem o potencial de fazer tudo isso de uma forma ainda mais marcante.

    Mas, ao contrário da primeira vez que peguei um iPhone ou um smartwatch, depois de 30 minutos de uso do Vision Pro, fiquei muito contente em tirá-lo e voltar ao mundo real.

    CEO da Apple, Tim Cook, fala sob uma imagem do Apple Vision Pro no Apple Park em Cupertino, Califórnia, EUA / 05/06/2023 Joe Pugliese/Apple Inc./Handout via REUTERS