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    Rivalidade entre Meta e Apple entra na realidade virtual

    Lançamentos de headsets chegou a ser comparado com disputa na era Blackberry x iPhone; mais uma vez a Apple se vê envolvida em uma grande disputa tecnológica

    CEO da Apple, Tim Cook, fala sob uma imagem do Apple Vision Pro no Apple Park em Cupertino, Califórnia, EUA
    CEO da Apple, Tim Cook, fala sob uma imagem do Apple Vision Pro no Apple Park em Cupertino, Califórnia, EUA 05/06/2023Joe Pugliese/Apple Inc./Handout via REUTERS

    Clare Duffyda CNN

    Nova York

    Meses depois de a Apple revelar uma mudança nas configurações de privacidade que ameaçou o negócio de publicidade do Facebook, a empresa de redes sociais se rebatizou como Meta e mudou seu foco para a realidade virtual.

    Agora, menos de dois anos depois, a Apple pode estar ameaçando os negócios da Meta nesse campo também.

    A Apple divulgou no dia 5 seu novo headset de realidade mista, o Vision Pro, em um de seus lançamentos de produtos mais ambiciosos em anos. No início da conferência anual de desenvolvedores da empresa, o CEO da Apple, Tim Cook, apresentou o Vision Pro, um dispositivo que custará US$ 3.499 (cerca de R$ 17 mil) que combina realidade virtual e realidade aumentada, como um “produto revolucionário”, com o potencial de mudar a forma como os usuários interagem com a tecnologia.

    O novo produto da Apple, que será lançado no início do próximo ano, põe a Apple em concorrência direta com a Meta, que vem desenvolvendo headsets há anos.

    Quatro dias antes da conferência WWDC, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, tentou superar o esperado anúncio do fone da Apple ao promover o Meta Quest 3. O novo headset da Meta promete desempenho melhorado, novas funcionalidades de realidade mista e um design mais elegante e confortável, a um preço muito mais acessível (US$ 499, ou cerca de R$ 2.450) que o produto da Apple.

    Cada nova era da tecnologia de consumo parece ser moldada por rivalidades acaloradas. A concorrência da Apple com a Microsoft (MSFT) foi fundamental para a era da computação pessoal. O falecido CEO da Apple, Steve Jobs, declarou “guerra termonuclear” contra o Google por causa dos smartphones. Agora, a Apple e o Meta podem estabelecer a rivalidade definidora da era do VR/AR.

    As duas empresas têm vivido uma relação tensa mesmo antes da entrada da Apple no mercado. Elas competiram por recursos de notícias e mensagens, e seus CEOs trocaram ataques sobre privacidade de dados e políticas das lojas de aplicativos. Em fevereiro do ano passado, a Meta disse que esperava um prejuízo de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 48 bilhões) em 2022 por causa da medida da Apple de limitar a forma como aplicativos como o Facebook coletam dados para anúncios segmentados.

    Mas a rivalidade parece pronta para alcançar um novo nível.

    A Meta tem sido até agora o player dominante no mercado de headsets. No entanto, a realidade virtual e aumentada continua a ser um mercado nascente, com pouca adoção do consumidor. O jornal “The Wall Street Journal” informou no ano passado que a Meta tinha apenas 200 mil usuários ativos no Horizon Worlds, seu aplicativo de socialização em VR. Além disso, em 2023, a consultoria americana IDC estima que apenas 10,1 milhões de headsets AR/VR serão enviados globalmente de todo o mercado, muito abaixo das dezenas de milhões de iPhones que a Apple vende a cada trimestre.

    Os analistas do banco Morgan Stanley chamaram o Vision Pro da Apple como um esforço de “projeto moonshot” (jargão para definir soluções que mudam os parâmetros do mercado) após seu anúncio na segunda-feira. Eles dizem que o produto “tem o potencial de se tornar a próxima plataforma de computação da Apple”, mas que a empresa tem “muito a provar” antes do lançamento do headset no ano que vem.

    “Sempre ficamos felizes quando mais pessoas se juntam a nós para construir o futuro”, disse Sheeva Slovan, porta-voz da unidade Reality Labs da Meta, em um comunicado à CNN.

    Mercado incerto

    A Apple e a Meta podem acabar correndo para ver não só quem pode levar os consumidores a escolher o seu produto, mas se qualquer um deles pode fazer com que milhões de clientes adotem essa nova onda de tecnologia.

    A Apple parece estar em vantagem em vários pontos, com sua base de clientes fiel de mais de dois bilhões de dispositivos, hardwares impressionantes e acesso a centenas de lojas onde os consumidores podem potencialmente experimentar o dispositivo.

    Imagem da nova tecnologia de realidade aumentada da Apple / Divulgação/Apple

    “Até hoje, tudo isso parece ser o pré-jogo, o preparo para o momento em que a Apple leva o produto para a consciência pública e deixa as pessoas saberem que essas tecnologias são reais, que não são apenas um truque”, opinou Eric Alexander, fundador do aplicativo de experiências de música VR Soundscape.

    A fabricante do iPhone também parece estar comercializando seu dispositivo de forma diferente. A Apple optou por não se concentrar no termo “realidade virtual”, nem mostrou avatares desencarnados sem pernas que habitavam um mundo virtual, como a Meta fez no início. Em vez disso, a Apple aumentou o potencial do headset para se integrar mais perfeitamente com a vida do mundo real dos usuários através da realidade aumentada, uma tecnologia que pode sobrepor objetos virtuais em vídeo ao vivo do mundo real.

    “Não acho que a Apple se vê concorrendo com a Meta”, afirmou Julie Ask, analista principal da empresa de pesquisa e consultoria americana Forrester. Zuckerberg está apostando “tudo no mundo virtual, e não é disso que a Apple trata. A Apple está dizendo que não acha que as pessoas querem ser desconectadas do mundo real, que quer melhorar o mundo onde os consumidores estão”.

    O headset Quest 3 que o Meta anunciou na semana passada também é um fone de realidade mista com recursos de realidade aumentada, então parece provável que a Meta possa se aproximar da abordagem da Apple no futuro. No entanto, um vídeo de demonstração que Zuckerberg postou no Instagram parece implicar que o dispositivo ainda está em grande parte focado em jogos.

    Muitos analistas dizem que o maior obstáculo para a adoção de headsets de realidade mista é garantir que haja uma ampla gama de usos e experiências potenciais disponíveis nos dispositivos.

    Embora a Meta tenha introduzido recursos que permitem aos usuários jogar, explorar mundos virtuais, assistir a vídeos do YouTube, treinar, conversar com amigos e muito mais, ela ainda não convenceu a maioria dos consumidores de que o dispositivo vale a pena.

    O anúncio da Apple na WWDC parece ter como objetivo garantir que a grande base de desenvolvedores em seu ecossistema ajudará a criar novas experiências atraentes para o dispositivo antes de seu lançamento.

    Para Alexander, desenvolver novos aplicativos de AR e VR requer um investimento significativo, para não mencionar o tempo prático de uso, por isso pode demorar um pouco até que uma ampla gama de experiências esteja disponível para o Vision Pro. A falta de controles e outros acessórios também pode dificultar a criação de certos tipos de aplicativos, como jogos, para o novo dispositivo.

    Ainda assim, no evento de segunda-feira, a Apple apresentou recursos da Disney, como o Disney+, e a empresa de jogos Unity, que estarão disponíveis no dispositivo desde o início, além do conjunto de serviços existente da fabricante do iPhone.

    O Vision One da Apple “não é um dispositivo que eu vou adquirir e depois ficar pensando no conteúdo que tenho de comprar”, disse a especialista Ask, da Forrester. “É um dispositivo com uma interface muito intuitiva, um lugar para ver a minha Apple TV, filmes e outras coisas. Não é algo do tipo que a gente compra e depois não saber para que serve”.

    Tom Forte, analista de D.A. Davidson, comparou o lançamento do Vision Pro com a introdução do iPhone após o BlackBerry, uma comparação desfavorável que provavelmente faria Zuckerberg ficar vermelho de raiva. Mas ele observou que o fone de ouvido da Meta parece menos provável de desaparecer em irrelevância, como aconteceu com o BlackBerry.

    “O BlackBerry provou que havia um mercado para smartphones e tinha construído uma posição dominante, mas não fazia aplicativos”, lembrou Forte, acrescentando que o iPhone introduziu a ideia de ter uma variedade de casos de uso diferentes para um dispositivo. “Em alguns aspectos, é como o iPhone no qual vamos precisar ver o ecossistema se desenvolver ao longo do tempo para que isso seja um sucesso”.

    Mas, se a Apple for bem-sucedida em impulsionar a adoção generalizada de headsets de realidade mista, a Meta ainda pode se beneficiar por extensão, sendo a escolha por causa do preço, de acordo com o mesmo analista.

    Aliás, as ações da Meta subiram ligeiramente na terça-feira após o anúncio da Apple.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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