Por que Marte? Saiba mais sobre o fascínio em explorar o planeta vermelho
Em fevereiro, três espaçonaves chegaram a Marte depois de partir de diferentes pontos de lançamento na Terra


A mística de Marte parece irresistível aos humanos. O planeta vermelho capta o nosso interesse há séculos, é muito presente em livros e filmes de ficção científica e objeto de exploração por robôs desde 1960.
Em fevereiro, três espaçonaves chegaram a Marte depois de partir de diferentes pontos de lançamento na Terra em julho. As inúmeras missões buscam entender nosso vizinho planetário e desvendar os segredos de seu passado para se preparar para a exploração futura.
As três missões – a Tianwen-1 da China, a sonda Hope dos Emirados Árabes Unidos e o rover Perseverance da NASA, dos EUA – aproveitaram um alinhamento entre Marte e Terra que ocorre a cada 26 meses, permitindo viagens mais rápidas e eficientes quando os dois planetas estão do mesmo lado do sol.
A sonda Hope ficará em órbita por um ano marciano (equivalente a 687 dias na Terra) para coletar dados sobre a atmosfera de Marte.
Por sua vez, a Tianwen-1 (que significa “Busca pela Verdade Celestial”) irá orbitar o planeta antes de pousar um rover na superfície, com a esperança de poder coletar informações importantes sobre o solo marciano, estrutura geológica, ambiente, atmosfera e sinais de água.
Já o rover Perseverance está procurando por sinais de vida antiga em Marte e irá coletar amostras para serem devolvidas à Terra em missões futuras.
O Perseverance também carrega os nomes de quase 11 milhões de pessoas gravados em três chips de silício. Trata-se de um cientista robô que explora Marte em nome da humanidade e pode compartilhar o que vê e ouve por meio de 23 câmeras, incluindo uma de vídeo e dois microfones.

Se três missões chegando a Marte com poucos dias de diferença parecem excessivas, imagine exploradores vendo a Terra pela primeira vez e querendo entender todos os aspectos de seu passado, clima, água, geologia e sistemas de vida. Ou seja, é preciso tempo e recursos diferentes para explorar aspectos de um planeta inteiro para conhecer sua história real.
Intrigas marcianas
Embora Marte esteja a milhões de quilômetros de distância, o planeta ainda é visível em nosso céu noturno de vez em quando. Dá para imaginar satélites orbitando o planeta ou rovers criando rastros de rodas na terra vermelha.
O próximo passo é imaginar humanos pisando na superfície de Marte para explorar com seus próprios olhos o que só tem sido uma realidade para robôs.
A NASA envia missões para explorar Marte desde 1965, compartilhando imagens e conhecimentos sobre nosso vizinho fascinante. Marte é o segundo lugar mais acessível em nosso sistema solar para enviar missões, depois da Lua.
O planeta também tem uma história misteriosa e pode ter sido muito parecida com a Terra – o que significa que é um ótimo lugar para procurar por sinais de vida no passado. E muitas das questões-chave que temos sobre o sistema solar podem ser respondidas estudando Marte.
“Marte é o planeta mais parecido com a Terra em nosso sistema solar”, disse o administrador interino da NASA Steve Jurczyk. “É muito intrigante porque, ao estudar a história geológica e climática do planeta e como ela evoluiu, também podemos informar como isso aconteceu na Terra e como ela evoluirá no futuro”.

Segundo Jurczyk, os robôs capazes de explorar Marte agora estabelecem as bases para pousar missões humanas no planeta vermelho mais tarde.
Por muito tempo, os cientistas pensaram que Marte sempre foi um lugar seco, frio e desolado. Mas as missões e rovers forneceram evidências de quando Marte era mais quente e úmido bilhões de anos atrás.
Em 1994, a NASA iniciou o Programa de Exploração de Marte com o objetivo de explorar o planeta vermelho para compreender a formação e evolução de Marte, seu potencial para ter uma vez hospedado vida e como um local de exploração por humanos.
Manter as missões no planeta alimenta um ciclo contínuo de informações com base em observações coletadas.
No momento, a NASA também trabalha com o programa Artemis, que vai pousar a primeira mulher e o próximo homem no polo sul da Lua até 2024. A Lua é vista como um campo de testes para estratégias e tecnologias antes de ir para Marte.
Junto com o Perseverance, a NASA também enviou o Ingenuity, que em breve será o primeiro helicóptero (ou drone) a voar em outro planeta. Com pouco menos de dois quilos, ele proporcionará um experimento para voo motorizado e controlado na fina atmosfera de Marte.
O precursor da tecnologia atual foi o Sojourner, o rover do tamanho de um micro-ondas que pousou em Marte em 1997. Seu sucesso incentivou a produção de robôs maiores da NASA, como o Curiosity e o Perseverance. O Ingenuity pode ser o primeiro de muitos objetos voadores que podem atuar como batedores para rovers e astronautas, voando sobre terrenos perigosos ou inacessíveis.
“Tanto na ficção científica quanto no mundo real, o futuro pertence a robôs e humanos trabalhando juntos, cada um contribuindo com suas capacidades únicas de maneiras verdadeiramente engenhosas para explorar o universo”, escreveu Robin Murphy em um artigo recente para o jornal “Science Robotics”. Murphy é professor de Ciência da Computação e Engenharia na Universidade Texas A&M.

Trazendo Marte para a Terra
O rover Perseverance está explorando a cratera de Jezero, local de um antigo leito de lago e delta de rio que existia há 3,9 bilhões de anos, quando Marte era potencialmente habitável para vida. O rover está procurando evidências de microfósseis e irá coletar amostras de várias partes do leito do lago e delta do rio na esperança de encontrá-los.
Eles serão as primeiras amostras de Marte a retornar à Terra, mas a rota é complicada. Ela será levada a cabo pela missão Mars Sample Return, que envolve a colaboração da NASA com a Agência Espacial Europeia (ESA). Dada a dificuldade dessa viagem de retorno cheia de escalas, as amostras não pousarão na Terra até 2031, no mínimo.
Será assim: em 2026, a NASA e a ESA irão lançar o módulo de pouso e foguete Mars Ascent Vehicle transportando outro rover, chamado Sample Fetch. O Perseverance testemunhará e compartilhará imagens da aterrissagem desta espaçonave em Marte quando ocorrer em 2028 – será a primeira vez que isso acontece.
A sonda irá liberar o Sample Fetch na superfície marciana para coletar as amostras e, depois, devolvê-las à sonda. Para isso, as amostras serão transferidas para o veículo de ascensão, e ele irá decolar da superfície de Marte (outra primeira vez que algo assim será testemunhado pelo Perseverance).
Em seguida, o veículo de ascensão se encontrará com uma espaçonave da ESA orbitando Marte e disparará um contêiner do tamanho de uma bola de futebol contendo as amostras. Por sua vez, a espaçonave da ESA irá capturar o contêiner e voltar para a Terra. Perto da Terra, uma carga útil da NASA dentro da espaçonave da ESA vai transferir o contêiner de amostras em um veículo de entrada que pode, finalmente, pousar as amostras na Terra em 2031.
As amostras pousarão em Utah e serão transportadas para um tipo de instalação geralmente usada para o manuseio de material com risco biológico. Nela, cientistas de todo o mundo poderão estudar e analisar as propriedades químicas e físicas dessas rochas e amostras de solo de Marte, em busca de sinais de vida passada.
“Por causa de seu amplo conjunto de laboratório, o robô Perseverance tem uma chance real de detectar sinais de vida em Marte”, escreveu Neil Jacobstein em um artigo recente na “Science Robotics”. Jacobstein é um acadêmico visitante da mediaX na Universidade de Stanford e presidente do curso de Inteligência Artificial e Robótica da Singularity University, uma empresa com sede nos Estados Unidos que oferece programas educacionais.
“Se detectar vida ou microfósseis e se essa descoberta for verificada por missões subsequentes, vai alterar a nossa compreensão do universo. Aqueles que acreditam que a Terra é o único berço da vida terão que ajustar seus horizontes. Aqueles que pensam que a vida pode ser onipresente no universo terão um início novo e microscópico para seu inventário da vida em expansão. Independentemente do resultado, os robôs provaram ser um componente central e duradouro da exploração espacial”.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês).