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    Pedra de Stonehenge tem origem surpreendente apontada em novo estudo

    Pesquisa pode levar a descobertas sobre a organização social da época em que monumento foi construído

    Ashley Stricklandda CNN

    A Pedra do Altar de Stonehenge, no coração do antigo monumento do sul da Inglaterra, provavelmente foi transportada mais de 700 quilômetros do que hoje é o nordeste da Escócia há quase 5.000 anos, de acordo com uma nova pesquisa.

    As descobertas de um novo estudo, publicado quarta-feira no periódico Nature, derrubam uma ideia centenária de que a Pedra do Altar se originou no atual País de Gales. A Pedra do Altar, a maior das pedras usadas para construir Stonehenge, é um bloco grosso que pesa 6 toneladas e fica no centro do círculo de pedras.

    “Esta pedra viajou um caminho terrivelmente longo — pelo menos 700 km — e esta é a jornada mais longa registrada para qualquer pedra usada em um monumento naquele período”, disse o coautor do estudo Nick Pearce, professor do departamento de geografia e ciências da Terra na Universidade de Aberystwyth, no País de Gales, em uma declaração. “A distância percorrida é surpreendente para a época.”

    A Pedra do Altar pode ser vista embaixo de duas pedras sarsen na imagem / Nick Pearce/Aberystwyth University

    A pesquisa aborda diretamente um dos muitos mistérios de Stonehenge e também abre novos caminhos para a compreensão do passado, incluindo as conexões entre povos neolíticos que não deixaram registros escritos, disseram os autores do estudo.

    A construção de Stonehenge começou em 3000 a.C. e ocorreu em várias fases, de acordo com os pesquisadores, e acredita-se que a Pedra do Altar tenha sido colocada dentro da ferradura central durante a segunda fase de construção, por volta de 2620 a 2480 a.C.

    A descoberta da origem da pedra sugere que a antiga Grã-Bretanha e seus cidadãos eram muito mais avançados e capazes de mover pedras enormes, possivelmente por meios marítimos, escreveram os autores do estudo.

    Desvendando segredos antigos

    Pesquisas substanciais se concentraram nos tipos de pedra usados ​​para montar o icônico círculo localizado em Wiltshire ao longo dos anos, e análises anteriores mostraram que as “pedras azuis”, um tipo de arenito de granulação fina, e blocos de arenito silicificados chamados sarsens foram usados ​​na construção do monumento. O marco fica na borda sul da Planície de Salisbury, que foi habitada há cerca de 5.000 a 6.000 anos.

    Os sarsens vieram de West Woods, perto de Marlborough, localizado a cerca de 25 quilômetros de distância, enquanto algumas das pedras azuis se originaram na área de Preseli Hills, no oeste de Gales, e acredita-se que sejam as primeiras pedras colocadas no local. Pesquisadores categorizaram a Pedra do Altar com as pedras azuis, mas suas origens permaneciam um mistério até agora.

    “Nossa descoberta da origem da Pedra do Altar destaca um nível significativo de coordenação social durante o período Neolítico e ajuda a pintar um quadro fascinante da Grã-Bretanha pré-histórica”, disse o coautor do estudo Chris Kirkland, professor e líder do Timescales of Mineral Systems Group na Escola de Ciências da Terra e Planetárias da Curtin University, na Austrália, em um comunicado.

    “Transportar uma carga tão grande por terra da Escócia para o sul da Inglaterra teria sido extremamente desafiador, indicando uma provável rota de transporte marítimo ao longo da costa da Grã-Bretanha. Isso implica redes de comércio de longa distância e um nível mais alto de organização social do que é amplamente compreendido como tendo existido durante o período Neolítico na Grã-Bretanha.”

    Para entender melhor a origem da Pedra do Altar, os pesquisadores analisaram a idade e a química dos grãos minerais de fragmentos da própria pedra.

    A análise revelou a presença de grãos de zircão, apatita e rutilo dentro dos fragmentos. O zircão foi datado entre 1 bilhão e 2 bilhões de anos atrás. Mas os grãos de apatita e rutilo vieram do período entre 458 milhões e 470 milhões de anos atrás.

    A equipe usou a análise das idades dos grãos minerais para criar uma “impressão digital química” que poderia ser comparada com sedimentos e rochas por toda a Europa, disse o autor principal do estudo Anthony Clarke, um estudante de doutorado do Timescales of Mineral Systems Group dentro da Curtin’s School of Earth and Planetary Sciences.

    A combinação mais próxima se deu com um grupo de rochas sedimentares conhecidas como Old Red Sandstone encontradas na Bacia Orcadiana no nordeste da Escócia, que diferiam completamente das pedras encontradas no País de Gales.

    “As descobertas levantam questões fascinantes, considerando as restrições tecnológicas da era Neolítica, sobre como uma pedra tão grande foi transportada por grandes distâncias por volta de 2600 a.C.”, disse Clarke.

    A descoberta também foi pessoal para Clarke, que cresceu em Preseli Hills, no País de Gales, o ponto de origem de algumas das pedras de Stonehenge.

    “Visitei Stonehenge pela primeira vez quando tinha 1 ano de idade e agora, aos 25, voltei da Austrália para ajudar a fazer esta descoberta científica — pode-se dizer que fechei o ciclo com o círculo de pedras”, disse Clarke.

    Anthony Clarke em visita a Stonehenge com seu pai quando ele tinha apenas um ano de idade, em 1998 / Courtesy Anthony Clarke/Curtin University

    Mas determinar que a Pedra do Altar se originou no que hoje é a Escócia levanta uma série de novas questões.

    “É emocionante saber que nossa análise química e trabalho de datação finalmente desvendaram esse grande mistério”, disse o coautor do estudo Richard Bevins, professor honorário do departamento de geografia e ciências da Terra na Universidade de Aberystwyth, em uma declaração. “A caçada ainda continuará para determinar exatamente de onde no nordeste da Escócia veio a Pedra do Altar.”

    Joshua Pollard, professor de arqueologia na Universidade de Southampton, chamou a descoberta de “um grande resultado”. Pollard não estava envolvido na pesquisa.

    “A ciência é boa”, disse Pollard. “Esta é a equipe que tem sido ativa na obtenção bem-sucedida de pedras azuis menores de Stonehenge usando uma bateria de técnicas bem sofisticada.”

    Movendo pedras enormes

    Hoje, a Pedra do Altar está quebrada no chão, com duas pedras da estrutura desmoronada do Grande Trilito descansando sobre ela. Um trilito é um par de pedras verticais com uma pedra horizontal sobre seus topos. O formato de ferradura de Stonehenge inclui cinco trilitos, mas o Grande Trilito está alinhado com o eixo do solstício, então no solstício de inverno, o Sol parecia se pôr entre as duas pedras.

    Mas os pesquisadores se questionam se a Pedra do Altar já ficou em pé, bem como qual era a finalidade que ela servia.

    “Uma possibilidade é que a pedra era um testemunho dos mortos, e então os povos neolíticos construíram círculos de pedra como parte de seus rituais de respeito aos ancestrais”, disse Bevins.

    Pollard se referiu à Pedra do Altar como uma espécie de “anomalia, deitada no que deveria ser o pedaço mais sagrado do espaço dentro do monumento”.

    Mas como exatamente a enorme Pedra do Altar chegou à Planície de Salisbury?

    Na época, a Grã-Bretanha era coberta de florestas e outras características geográficas intransponíveis que teriam tornado o transporte da pedra por terra incrivelmente difícil, disseram os autores do estudo. Mas uma rota marítima poderia ter permitido o transporte marítimo, disse Clarke.

    “Embora pareça incrível, Stonehenge é em si um monumento incrível”, disse Pollard. “Cada vez mais parece que as pedras são retiradas de fontes ancestrais daqueles que criaram Stonehenge — meio que condensa histórias de linhagens históricas em um só lugar.”

    Há outros exemplos de animais, itens e pedras sendo transportados que sugerem que a carga poderia ser enviada por mar aberto durante o Período Neolítico, escreveram os autores no estudo.

    Ferramentas de pedra extraídas em outros lugares foram encontradas por toda a Grã-Bretanha, Irlanda e Europa continental, incluindo uma grande ferramenta de moagem de pedra encontrada no condado de Dorset que veio do que é hoje a Normandia central.

    Há também evidências de que blocos de arenito moldados foram transportados por rios na Grã-Bretanha e na Irlanda.

    “Embora o propósito da nossa nova pesquisa empírica não fosse responder à questão de como ela chegou lá, há barreiras físicas óbvias para o transporte por terra, mas é uma jornada assustadora pelo mar”, disse Pearce. “Não há dúvida de que esta fonte escocesa mostra um alto nível de organização social nas Ilhas Britânicas durante o período. Essas descobertas terão enormes ramificações para a compreensão das comunidades nos tempos neolíticos, seus níveis de conectividade e seus sistemas de transporte.”

    Memso assim, os autores concordaram que algumas perguntas sobre Stonehenge podem nunca ser respondidas.

    “Sabemos por que muitos monumentos antigos foram construídos, mas o propósito de Stonehenge sempre será desconhecido”, disse Clarke. “E então temos que recorrer às rochas. É um mistério duradouro.”

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