Muitos fragmentos caem na Terra, mas é difícil que acertem alguém, diz cientista
Fragmentos têm até calendário para voltar do espaço, mas metade nem vemos, porque cai durante o dia
As chances de fragmentos de foguetes — como o chinês que estava desgovernado na órbita da Terra e caiu no sábado perto das Ilhas Maldivas, no Oceano Índico — atingirem áreas habitadas são remotas.
O especialista em projeto e controle de órbitas de satélites artificiais e espaçonaves, Annibal Hetem, explicou à CNN neste domingo (9) que existe até um calendário com previsões de quando os pedaços voltam para a Terra e onde podem cair.
“Em abril, caiu um foguete americano, em março, um francês, todos no oceano. Eles caem com a data marcada e o local provável muito bem definido. O projeto já é feito de um jeito para não cair em lugar (habitado) nenhum”, diz.
“Nesse caso recente, os chineses praticamente perderam o controle do módulo que caiu. Não é difícil de acontecer, porque a tecnologia espacial é muito complexa, são muitos detalhes. Acabou caindo no oceano numa data imprevista, foi isso que nos assustou”, conta.
É comum fragmentos do espaço chegarem à Terra, conta. “A gente recebe meteoritos todo dia, e poucas vezes ouvimos falar que caiu em alguém. 75% da superfície da Terra são oceanos. Se cair no continente, só 1% são de cidades habitadas. A chance de cair em alguém é muito, muito pequena, mas não é zero”.
Os curiosos teriam dificuldade em identificar se estão vendo passar pelo céu um fragmento de foguete ou um asteroide. “Mesmo com telescópio, nem um especialista consegue diferenciar, porque ele vira uma bola de fogo quando está caindo. Só quando chega no chão e se faz a análise do que caiu”.
Hetem explia que os objetos viram uma bola de fogo ao entrarem em contato com a atmosfera, por causa do atrito com o ar, que aquece o material, que pode chegar a 30 mil ºC. O aço, material do foguete, derrete a 700ºC, por isso que não é toda a estrutura que se desfaz. “As partes mais delicadas e os metais mais finos derretem completamente, mas as partes mais densas, como o motor, têm grandes chance de cair na Terra, como aconteceu”.
Muita coisa nem é percebida, diz o especialista, que também é professor de Engenharia Aeroespacial na UFABC. “Se passar em cima de onde olhamos à noite, conseguiremos ver, mas se for de dia, o brilho do céu disfarça. Metade deles a gente não vai ver de jeito nenhum, porque cai durante o dia”.
(*sob supervisão de Letícia Vidica)