Jogos mobile dominam mercado de games e movimentam campeonatos
Setor irá gerar cerca de US$ 160 bilhões a nível mundial, um aumento de 9,3% em relação ao ano passado
Treinos que duram horas, uniformes patrocinados, apoio de um psicólogo, de um nutricionista e torcidas fanáticas ao redor do mundo. Não se trata de um time de futebol, mas sim de eSports – ou esportes eletrônicos – competições de jogos eletrônicos de nível profissional transmitidas online para o mundo todo.
Seus jogadores são verdadeiros atletas e recebem todo o suporte necessário ao participarem de campeonatos. “No começo do ano eu comecei a me dedicar de verdade ao esporte junto com meus colegas ”, diz João Pereira da Costa, de 17 anos, atleta da equipe ‘FURIA eSports’, “a gente treina de 6 a 8 horas por dia e nosso coach nos passa todo o cronograma”.
O jogo da equipe é o ‘Free Fire’, onde o jogador vê seu personagem numa perspectiva em terceira pessoa, com gráficos 3D e ganha quem for o último sobrevivente. Com mais de 50 milhões de jogadores diários, o ‘Free Fire’ foi o jogo para celular mais baixado do mundo em 2019, segundo a plataforma App Annie.
“Eu vi que eu tinha talento pro jogo e me tornei atleta, foi realmente do nada”, diz João Pedro Rodrigues, de 18 anos, atleta de eSports, “ser convidado para fazer parte de uma equipe profissional de ‘Free Fire’ foi um sonho realizado”.
Com um pouco mais de idade, aos 22 anos, João Pedro de Souza se tornou coach da equipe. Ele fez um teste para o cargo, passou por uma entrevista e agora treina os cinco atletas do time para competições que acontecem ao redor do mundo. “Meu trabalho é fazer com que os jogadores tenham uma alta performance”, diz, “eu cuido dos horários, dos treinamentos e de todo o cronograma, tudo para garantir que eles estejam prontos para os campeonatos.”
Jogos e pandemia
Segundo o relatório ‘2020 Global Games Market Report’, levantamento anual sobre o mercado dos games, o setor irá gerar cerca de $160 bilhões de dólares, um aumento de 9.3% em relação ao ano passado. 48% dessa receita virá de jogos mobile, aqueles que podem ser jogados em tablets e smartphones.
Esses jogos são muito populares por dois motivos: grande parte é gratuita para jogar e mais de 2/5 da população mundial tem acesso à smartphones. O fenômeno dos jogos ‘mobile’ mostra uma democratização do mercado de games.
Para Beto Vides, sócio-fundador da consultoria eBrainz, especializada em games e eSports, o celular alcança diversos públicos. “Antigamente você precisava de um computador ou de um console super potentes, hoje, com celulares poderosos e baratos, as pessoas encontram maneiras mais fáceis de se relacionar com os jogos”, diz, “grandes jogos, como o ‘Free Fire’, são responsáveis por trazer a classe C e D para o mundo dos esportes eletrônicos, por exemplo”.
Com a pandemia, o engajamento dos jogos mobile aumentou, mas a equipe ‘FURIA’ garante que os horários continuam os mesmos, não houve sobrecarga. “Como jogamos online com os nossos celulares e os campeonatos são transmitidos pela internet, a pandemia e a quarentena não afetaram nossas rotinas, nem pra mais e nem pra menos”, diz Guilherme Berto Stolf, manager da equipe, “descansos semanais e planejamento de treinos se mantiveram os mesmos”.
Descansos semanais estes que são essenciais para evitar uma sobrecarga do atleta. O psicólogo Eduardo Cillo defende que o jogador precisa espairecer para não deixar o stress afetar sua performance: “Corre-se o risco do atleta perder o gosto pela atividade em si, que, quando levada a nível profissional, é um trabalho como qualquer outro, precisando ter suas horas de descanso respeitadas”.