Eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes? Entenda
Especialistas analisam recorrência de fenômenos como chuvas intensas, inundações, ondas de calor e furacões, e sua relação com o aquecimento global


Nos últimos anos, eventos climáticos como ondas de calor, inundações, furacões e incêndios florestais têm ocorrido com maior frequência em diversas regiões do mundo, levantando o debate acerca do impacto das mudanças climáticas.
As enchentes no Rio Grande do Sul, que ocorreram no final de abril do ano passado, os incêndios em Los Angeles, nos Estados Unidos, as ondas de calor com sensações térmicas intensas, como as que atingiram o Rio de Janeiro no início deste ano, são alguns exemplos.
“Quando falamos de eventos climáticos extremos, estamos falando de uma chuva muito intensa e abundante, seca ou onda de calor muito intensa, que determina o risco de incêndios; mas, também, furacões, tempestades, entre outras”, explica Jose Marengo, climatologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), à CNN.
Segundo Marengo, todos esses fenômenos fazem parte do sistema climático e sempre aconteceram. No entanto, nas últimas décadas, houve um aumento na intensidade e na frequência dos eventos em todas as regiões do mundo.
“É possível ocorrer, por exemplo, uma onda de calor em uma área onde não há população. Isso é um evento meteorológico. Mas quando há uma onda de calor em uma área com população particularmente vulnerável, esse evento passa a ser extremo e mata pessoas, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas. Ou seja, passa a ser um desastre”, afirma.
“Essa combinação de eventos extremos com aumento na vulnerabilidade da população tem crescido muito nos últimos anos. Os extremos sempre estiveram presentes, mas há, sim, essa tendência de aumento em todo o mundo. Mas a vulnerabilidade da população nos ecossistemas também está aumentando”, acrescenta.
Aquecimento global como principal fator dos eventos climáticos extremos
De acordo com Tatiana Oliveira, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, o aumento na frequência dos eventos climáticos extremos está relacionado ao aquecimento global. “Nesse caso, ocorre a intensificação das dinâmicas climáticas e meteorológicas já presentes em determinada localidade”, afirma à CNN.
Diante disso, as mudanças climáticas devem ser encaradas como um problema não somente do presente, mas do futuro também, na visão da especialista.
“Não adianta nada fazermos todos os esforços possíveis e imagináveis para enfrentar os eventos climáticos extremos sem pensar que precisamos começar a redução da emissão dos gases de efeito estufa, tanto os oriundos da queima de combustíveis fósseis, quanto os que são oriundos de queima florestal e da degradação dos biomas”, completa. “Nós precisamos intensificar a ação de combate à emissão de fases de efeito estufa e à poluição atmosférica”.
Consequências vão além dos impactos ambientais
Os eventos climáticos extremos têm impactos diversos para o meio ambiente, mas as consequências vão além. As enchentes no Rio Grande do Sul, por exemplo, trouxeram impactos socioeconômicos, além dos efeitos na saúde mental das pessoas afetadas.
“Toda a indústria de seguros foi afetada pela quantidade de propriedades e carros que foram destruídos. O aeroporto ficou fechado por mais de um mês. Houve uma perda de receita para o estado e para a cidade. E há, ainda, uma coisa que, geralmente, não é considerada: o impacto psicológico na população”, considera Marengo.
Oliveira acrescenta, ainda, o impacto na infraestrutura das cidades, com a destruição de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e moradias. “Essa questão patrimonial é muito importante, porque está gerando um processo acentuado de reforço das desigualdades sociais no Brasil e no mundo”, pondera. “As mudanças climáticas, quando não são apropriadamente endereçadas, elas são um vetor importante do que a gente tem chamado de racismo ambiental. Ou seja, ela tem a capacidade de aprofundar e de ser um acelerador das desigualdades sociais”, completa.
A especialista cita, ainda, efeitos para a saúde e bem-estar da população. “Nós vimos com a pandemia como a mudança do clima pode estar intimamente relacionada ao aparecimento de novas doenças. E também temos visto os efeitos das ondas de calor sobre idosos e crianças, causando mal-estar e sobrecarga no sistema de saúde”, afirma.
Maior infraestrutura de prevenção e adaptação é fundamental
Para Marengo, a principal medida para reduzir a frequência dos eventos climáticos extremos e mitigar seus impactos é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, além de reduzir o desmatamento em todo o mundo. Para isso, é preciso tomar medidas efetivas para cumprir o que foi definido pelo Acordo de Paris, adotado em 2015 para fortalecer a resposta global às mudanças climáticas.
“O aquecimento global é um processo natural. Já passamos por épocas mais quentes e mais frias, mas a ação humana está aumentando esse aquecimento”, afirma o especialista. “Se esse aquecimento for reduzido, com a estabilização da emissão de CO₂, por exemplo, não ultrapassamos o aquecimento de 1,5 °C [acima do valor pré-industrial, limite estabelecido pelo Acordo de Paris e que foi ultrapassado em 2024 pela primeira vez]”, completa.
No entanto, também é fundamental melhorar os sistemas de previsão meteorológica para alertar a população sobre a intensidade de eventos como chuvas, furacões e ondas de calor. “Se uma chuva extrema for acontecer, não temos como pará-la. Então, é preciso saber onde vai chover, quanto vai chover e ter, pelo menos, uma ideia aproximada de onde essa chuva pode gerar desastre. Assim, a população já fica pronta para evacuar e ser realocada, dando o caminho para ela se salvar”, afirma Marengo.
Oliveira acrescenta, ainda, que é preciso investir em prevenção, aumentando o orçamento para gestão de riscos e desastres. “Nos últimos planos plurianuais orçamentários, esse recurso tem caído das dezenas de bilhões para uma dezena de bilhões de reais, em um momento em que nós mais precisamos desses recursos”, afirma.
A especialista cita, ainda, o Acordo de Paris, afirmando que é necessário um maior equilíbrio e compromissos mais robustos dos países para ações de mitigação e adaptação climática.
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