Esqueleto de criança neandertal de 41 mil anos pode resolver mistério antigo
Novas evidências de comportamento funerário podem lançar luz sobre as habilidades cognitivas e costumes sociais dos neandertais
Enterrar os mortos é uma prática exclusiva do Homo sapiens? Ou será que outros humanos primitivos, como os neandertais, colocavam seus entes queridos para o descanso eterno sob a terra?
A questão é debatida por arqueólogos há muito tempo. Agora, novas evidências de comportamento funerário podem lançar luz sobre as habilidades cognitivas e costumes sociais dos neandertais e se, como os humanos modernos, eles eram capazes de pensamento simbólico.
Dezenas de esqueletos de neandertais enterrados foram descobertos na Europa e em partes da Ásia ao longo de 150 anos. Aqueles em melhor estado de preservação, porém, foram encontrados no início do século 20 e não foram escavados com métodos modernos. Isso levou ao ceticismo sobre se a prática do enterro era proposital.
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Uma nova análise de um esqueleto de 41 mil anos de uma criança neandertal, encontrado em uma caverna francesa na década de 1970, fornece novas evidências de que os hominídeos da Idade da Pedra enterravam intencionalmente seus mortos.
Pesquisadores franceses e espanhóis reexaminaram os restos mortais usando métodos modernos de alta tecnologia, reescavaram o sítio arqueológico original onde os ossos foram encontrados em La Ferrassie, sudoeste da França, e revisaram os cadernos e diários de campo da escavação original.
A conclusão foi que o cadáver da criança neandertal de 2 anos foi deliberadamente colocado em uma cova feita no sedimento.
A ausência de marcas de carnívoros que podiam ter tentado se alimentar do corpo descoberto e o fato de os ossos estarem relativamente não espalhados e com pouco desgaste sugere que o corpo foi rapidamente coberto, disseram os pesquisadores. Os restos mortais também foram bem preservados (melhores que os ossos de animais encontrados na mesma camada de terra) apesar de pertencerem a uma criança. Os esqueletos das crianças geralmente têm ossos mais delicados.
A posição do esqueleto também sugeriu que a criança foi colocada ali intencionalmente. Apontando para o leste, a cabeça estava mais elevada que o resto do corpo, embora a terra se inclinasse para o oeste.
“A origem das práticas funerárias tem implicações importantes para o surgimento das chamadas capacidades cognitivas e comportamento modernos”, disse o estudo. “Esses novos resultados fornecem ideias importantes para a discussão sobre a cronologia do desaparecimento dos neandertais e a capacidade comportamental, incluindo a expressão cultural e simbólica, desses humanos”.
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Os pesquisadores do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, do Muséum National d’Histoire Naturelle em Paris e da Universidade do País Basco na Espanha identificaram os 47 ossos pertencentes ao esqueleto da criança que não haviam sido identificados anteriormente.
Um pedaço de osso foi datado por carbono e descobriu-se que tinha 41 mil anos. Os pesquisadores confirmaram que o osso pertencia a um neandertal analisando o DNA mitocondrial do fragmento.
A criança era um dos oito conjuntos de restos de esqueletos encontrados no local.
Ritos fúnebres
Provas potenciais de sepultamento também foram encontradas em um dos locais mais famosos de estudos do neandertal, a caverna Shanidar, no Curdistão, norte do Iraque. O local foi o lar dos restos mortais de dez neandertais – homens, mulheres e crianças. Eles foram encontrados com aglomerados de pólen antigos, sugerindo que flores podem ter entrado como parte de seus rituais funerários.
Mais escavações recentes da caverna Shanidar encontraram outros restos mortais de neandertais que os estudos preliminares indicam que foram deliberadamente enterrados.
Outro estudo sugeriu que havia uma diversidade considerável na forma como os neandertais europeus tratavam seus parentes mortos no período imediatamente anterior ao seu desaparecimento, cerca de 40 mil anos atrás, incluindo o canibalismo.
A equipe de pesquisadores disse que os padrões analíticos de hoje devem ser aplicados aos outros restos de esqueletos no sítio de La Ferrassie para avaliar se eles também foram enterrados.
A pesquisa foi publicada na revista “Scientific Reports” de dezembro.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês).