Entrada do WhatsApp pode mudar o cenário da ‘guerra das maquininhas’
É verdade que o termo “maquininha” não entra bem nesse caso – mas exemplifica o quanto que as empresas estão de olho no filão dos meios de pagamento. Entenda
Nos últimos tempos, foi comum falar da concorrência cada vez mais acirrada no setor de meios de pagamento. Para isso, foi criada a alcunha “guerra das maquininhas” para nomear a disputa entre empresas como Cielo, Rede, PagSeguro, Stone, Mercado Livre, Getnet, entre outras. Nessa segunda-feira (15), no entanto, entrou mais um concorrente de peso: o WhatsApp, controlado pelo gigante Facebook.
É bem verdade que o termo “maquininha” não entra bem nesse caso – mas exemplifica o quanto que as empresas estão de olho no filão dos meios de pagamento. Além do Facebook, gigantes como a empresa de tecnologia Google e as fabricantes de eletrônicos Apple e Samsung já têm os seus próprios meios. Mas a entrada do WhatsApp joga mais peso à essa disputa.
Primeiro que não foi à toa que o Brasil foi o primeiro país a ser escolhido para a modalidade. Uma pesquisa realizada pela consultoria Opinion Box em parceria com a Mobile Time mostra que 99% dos smartphones no Brasil possuem o WhatsApp instalado. Segundo o Facebook, o Brasil tem 120 milhões de usuários ativos por mês, atrás apenas da Índia, com 400 milhões.
“Acredito que a decisão terá impacto relevante no comportamento da população. Se der certo, vai criar uma nova fonte de renda e influência para o Facebook, que tem quase 100% da sua receita atrelada à mídia”, disse Pedro Waengertner, fundador da aceleradora ACE.
Por isso, o anúncio causou uma volatilidade muito grande das ações das empresas do setor com o anúncio quase que surpreendente do WhatsApp. As ações da Stone e da PagSeguro chegaram a quedas próximas dos 10% no pregão de segunda-feira, mas se recuperaram durante o dia e fecharam com desvalorizações de 0,1% e 2,5%, respectivamente. A Cielo, que é a primeira parceria do Facebook nesse projeto, chegou a ter uma alta de 34% no dia, mas fechou com aumento de 14% no preço das ações.
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Apesar de, em breve, outras adquirentes poderem participar do jogo, a Cielo leva uma grande vantagem: o seu tamanho. A empresa ainda é líder com folga do setor, com 41,8% de participação do mercado. “O tamanho continua importando muito e a empresa mostra que está atenta às inovações”, diz Carlos Daltozo, sócio de renda variável da Eleven Financial.
Um novo cenário
Mas houve um reequilíbrio nos preços porque ainda é muito cedo para saber qual vai ser a real adoção do sistema de pagamento por WhatsApp. A prática de um “super aplicativo”, que concentra diversos serviços como mensagens, meios de pagamento e até solicitação de táxis e comida, são muito comuns na Ásia – WeChat é o exemplo mais notório. No Ocidente, no entanto, a prática ainda não pegou.
E essa continua sendo a dúvida. Por isso, as próprias empresas de meios de pagamento estão se renovando para além da maquininha. A PagSeguro, por exemplo, foi quem criou os meios de pagamento focado para pequenos e médios empresários, o que permitiu uma popularização do meio (e uma grande fatia de mercado nesse segmento). Ela, assim como a Stone, também partiu para soluções de gestão aos pequenos varejistas, como aplicativos nos smartphones e nas próprias maquininhas.
A Stone, por sua vez, foi às compras e uma das aquisições que mais chamaram a atenção do mercado foi da startup Vitta, que faz gestão de planos de saúde corporativo.
A Getnet, controlada pelo Santander, decidiu ir para uma operação mais verticalizada. Por isso, investiu R$ 1 bilhão em infraestrutura e também ‘pegou na mão’ de seus clientes durante a pandemia – especialmente naqueles que não tinham uma operação online. Isso, segundo Pedro Coutinho, presidente da Getnet, fez com que a empresa ganhasse 1 ponto percentual de participação no primeiro trimestre, a 12,5%.
“Não nos posicionamos como uma empresa de maquininhas, mas de tecnologia. A maquininha faz parte do processo e temos uma prateleira de produtos relacionados aos meios de pagamento”, diz Coutinho.
Tendo ou não maquininhas, a guerra está mais aberta do que nunca. Entre os elementos principais da disputa estão a antecipação de recebíveis, em que as taxas cobradas pelas empresas podem chegar ao dobro, e também a satisfação do cliente. Um relatório do banco suíço UBS mostra que Cielo e Stone, além das companhias menores SumUp, iZettle e Stelo estão entre as mais elogiadas.
Mas com o Facebook entrando na disputa, a dúvida de quem sairá vencedor fica ainda maior – e quais serão os critérios avaliados daqui para frente. Se for penetração, o WhatsApp, com certeza, larga bem na frente – especialmente no universo de cerca de 50 milhões de desbancarizados.
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