Inteligência Artificial pode reduzir quadro de funcionários de big techs, diz especialista
Companhias, que contrataram agressivamente durante a pandemia, agora são obrigadas a reestruturar operações
Só nesta semana, a Alphabet – controladora do Google – a Microsoft e a Vox Media anunciaram demissões que vão afetar mais de 22 mil funcionários. Os movimentos acompanham os cortes implementados por Amazon e Salesforce no início deste ano.
As big techs, que contrataram agressivamente durante a pandemia, agora são obrigadas a reestruturar suas operações. E a implementação de novas tecnologias, principalmente as que contêm inteligência artificial, pode tornar essa redução no quadro de funcionários irreversível.
De acordo com o CEO da StartSe, Junior Borneli, essas novas tecnologias têm o potencial de ocupar o espaço deixado por esses cortes.
“Estamos vendo grandes novas tecnologias aparecerem e se tornarem populares. Isso começa a criar um movimento de substituição de posições de trabalho por atividades que serão feitas por algoritmos”, diz o especialista.
“Esses algoritmos trazem muita produtividade para algumas áreas e algumas vagas de emprego podem ser eliminadas para que a empresa seja mais eficiente do ponto de vista profissional, sem levar em conta o fator social do desemprego. Esse movimento se acelera ainda mais com a popularização da inteligência artificial”, avalia Borneli.
Um levantamento da Ycharts elaborado pela Snaq mostra o tamanho da perda de valor de mercado das big techs.
Entre 3 de janeiro de 2022 e 3 de janeiro de 2023, a Amazon encolheu de US$ 1,7 trilhão para US$ 872 bilhões (-49%), enquanto a Meta foi de US$ 928 bilhões para US$ 331 bilhões (-64%).
No mesmo período, a Alfabet desvalorizou de US$ 1,9 trilhão para US$ 1,1 trilhão (-39%); a Microsoft, de US$ 2,5 trilhões para US$ 1,7 trilhão (-29%). A big tech de maior valor de mercado, a Apple, passou de US$ 2,9 trilhões para US$ 1,9 trilhão (-33%).
Juntas, as cinco empresas perderam US$ 3,9 trilhões em valor de mercado no período.
Esses ajustes das demandas e expectativas refletem o que foi a euforia ao longo da pandemia, destaca Borneli.
“A Meta tem uma crise instalada, perda de receita, de usuários, de faturamento. A Amazon tem um ajuste pela alta demanda de e-commerce que aconteceu ao longo da pandemia e agora volta aos patamares normais. Microsoft e Google fazem ajustes para recuperar a rentabilidade”, diz.
“Existem problemas diferentes para cada empresa, mas o fato é que todas têm o mesmo desafio: voltar a ser lucrativa como no passado. As pressões econômicas globais tornam esse desafio mais difícil e as demissões são os ajustes mais diretos que elas encontram para superar isso”.
Entre as empresas listadas acima, a que mais demitiu foi a Amazon, com 18.150 cortes já consolidados. Em seguida vem Google (12.000), Meta (11.000) e Microsoft (10.000). O destaque fica com a Apple, que, até o momento, não anunciou reduções no número de funcionários.
A empresa fundada por Steve Jobs optou por diminuir o salário dos executivos mais bem pagos para readequar as contas. O CEO Tim Cook, por exemplo, vai deixar de ganhar cerca de US$ 50 milhões neste ano.
Junior Borneli acredita que essa mudança na Apple pode servir de exemplo para outras big techs e quebrar a mistificação criada em torno dos grandes bilionários que comandam as empresas.
“As companhias entendem que o maior ativo que elas têm são as pessoas talentosas que elas conseguem trazer ao longo do tempo. Se elas começam a perder esse time, elas ficam menos competitivas. Essas empresas ditam o que vai acontecer no mercado, então esse movimento da Apple foi interessante porque pode influenciar outras companhias.”