Décadas após criação, Bluetooth ainda é “uma tecnologia complicada”; entenda
Tecnologia está presente em cada vez mais dispositivos, mas problemas de conexão permanecem sem solução
Nas duas décadas desde que foi incluído pela primeira vez em produtos disponíveis para o público em geral, o Bluetooth tornou-se tão difundido que uma geração inteira de consumidores pode não conseguir se lembrar de uma época sem ele.
A ABI Research estima que 5 bilhões de dispositivos habilitados para Bluetooth serão enviados aos consumidores este ano, com esse número previsto para subir para 7 bilhões até 2026.
O Bluetooth está agora em tudo, desde smartphones a lâmpadas e geladeiras, permitindo que um número crescente de produtos se conecte um ao outro perfeitamente – às vezes.
Apesar de sua difusão, a tecnologia ainda é propensa a problemas que causam dor de cabeça, seja a luta para configurar um novo dispositivo para se conectar, alternar fones de ouvido entre dispositivos ou simplesmente estar muito fora do alcance para conexão.
“Tenho uma relação de amor e ódio com o Bluetooth”, disse Chris Harrison, professor da Carnegie Melon University. “Quando funciona, é incrível, e quando não funciona, você quer arrancar seus cabelos.”
“A promessa era torná-lo o mais simples e fácil possível”, disse ele. “O Bluetooth nunca chegou lá, infelizmente.”
As razões para isso remontam à própria base da tecnologia, de custo relativamente baixo.
Ascensão do Bluetooth
Acredita-se que o termo Bluetooth tem origem em um rei escandinavo do século IX, Harald “Bluetooth” Gormsson, que era conhecido por um dente morto cinza-azulado e também por unir a Dinamarca e a Noruega em 958 dC. Os primeiros programadores adotaram “Bluetooth” como um codinome para sua tecnologia sem fio que conecta dispositivos próximos, e acabou pegando.
A tecnologia foi diferenciada do Wi-Fi por ser “inerentemente de curto alcance”, disse Harrison. Ainda hoje, as opções de Bluetooth que muitos consumidores estão acostumados em seus telefones e alto-falantes portáteis funcionam com menor potência e só podem se conectar a distâncias limitadas.
Os sinais Bluetooth viajam por ondas de rádio não licenciadas, que são efetivamente abertas ao público, em oposição às ondas de rádio privatizadas que são controladas por empresas de telefonia. Isso pode ter facilitado seu desenvolvimento e adoção mais ampla, mas teve um custo.
O Bluetooth deve compartilhar e competir com uma série de outros produtos que também usam bandas de espectro não licenciadas, como babás eletrônicas, controles remotos de TV e muito mais. Isso pode gerar interferência que pode prejudicar a eficácia da conexão.
Harrison cita outras razões pelas quais o Bluetooth pode ser “extraordinariamente doloroso”, incluindo problemas de segurança cibernética que podem surgir ao transmitir dados sem fio.
Se você configurar um alto-falante Bluetooth em seu apartamento, por exemplo, não gostaria que qualquer pessoa em um raio de 15 metros pudesse se conectar a ele. Mas os fabricantes nunca estabeleceram um processo de “modo de descoberta” perfeito, disse Harrison.
“Às vezes, o dispositivo inicia automaticamente e fica no modo de emparelhamento”, acrescentou. “Às vezes você precisa clicar em algum tipo de sequência alienígena para colocar o dispositivo nesse modo específico.”
Mais do que isso, várias agências governamentais dos Estados Unidos aconselham os consumidores que o uso do Bluetooth corre o risco de deixar seus dispositivos mais vulneráveis a riscos de segurança cibernética. A Comissão Federal de Comunicações alertou que, assim como as conexões Wi-Fi, “o Bluetooth pode colocar seus dados pessoais em risco se você não for cuidadoso”.
Pelo menos um alto funcionário do governo é considerado cético em relação ao Bluetooth: a vice-presidente Kamala Harris. No vídeo em que Harris parabeniza Joe Biden após a eleição, ela pode ser vista segurando um monte de fones de ouvido com fio nas mãos. De acordo com o site Politico, Harris “há muito tempo sente que os fones de ouvido Bluetooth são um risco de segurança”.
Mas as empresas e os consumidores continuam a adotá-lo. A Apple, por exemplo, abandonou há tempo as entradas tradicionais de fone de ouvido e introduziu seus populares fones de ouvido sem fio habilitados para Bluetooth, os AirPods. Desde então, outras empresas de tecnologia lançaram produtos semelhantes.
Alguns audiófilos obstinados, o tipo de pessoa que reclama que “o Spotify não é de alta qualidade o suficiente”, como diz Harrison, também se recusam a abraçar o mundo dos fones de ouvido Bluetooth por motivos de qualidade do som.
Apesar de suas falhas, Harrison não vê a demanda por Bluetooth diminuindo e admite que ele mesmo o usa perfeitamente – cerca de “70% do tempo”.
“O Bluetooth ainda não atingiu seu auge”, disse Harrison, prevendo que a ampla adoção da Internet das Coisas, ou dispositivos inteligentes, só ampliará seu crescimento. “Bluetooth será a cola que conecta tudo isso.”