Crachá “espião” distribuído pela Huawei em evento em Barcelona gera polêmica
Empresa diz que costuma incluir dispositivo bluetooth embutido em crachá de convidados e que monitoramento funciona apenas para curtas distâncias
Um crachá “espião” distribuído pela empresa chinesa de tecnologia Huawei, durante a feira de tecnologia Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, na Espanha, gerou polêmica entre participantes do evento.
Um dos participantes do evento, que recebeu o crachá da Huawei, abriu a parte interna de uma parte plástica do identificador. Segundo imagens verificadas pela CNN, o homem encontra um dispositivo eletrônico dentro do crachá. Alguns visitantes demonstraram preocupação com a função do chip.
Procurada pela CNN, a Huawei explicou que para a entrada em seu estande na MWC — espaço onde a empresa oferecia alimentação, infraestrutura de tecnologia da informação e outros serviços —, era necessário realizar um cadastro com nome, e-mail, telefone e cargo.
Com isso, o visitante recebia o crachá, que continha um dispositivo bluetooth, que, segundo a empresa, é comum em seus estantes de exposição e funciona apenas para monitoramento em curtas distâncias.
“O aparelho acompanhava a localização do visitante exclusivamente dentro do estande da Huawei, para observar quais atrações despertavam maior interesse. Essa explicação da funcionalidade do crachá estava disponível para os visitantes no verso do mesmo, em que também estava disponível a política de privacidade da empresa”, afirma a empresa.
Veja o vídeo:
O Mobile World Congress é o maior evento de tecnologia móvel do mundo e a edição deste ano foi realizada em Barcelona, na Espanha.
Risco à segurança nacional dos EUA
A Huawei vem dominando os assuntos de segurança do governo dos Estados Unidos nos últimos anos. O governo Joe Biden proibiu, em novembro do ano passado, aprovações de novos equipamentos de telecomunicações das chinesas Huawei Technologies e ZTE por representarem “um risco inaceitável” à segurança nacional dos EUA.
No mês passado, o governo norte-americano parou de aprovar licenças para empresas norte-americanas exportarem a maior parte de seus itens para a chinesa Huawei, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto.
A Huawei enfrentou restrições de exportação dos EUA em torno de itens para 5G e outras tecnologias por vários anos, mas funcionários do Departamento de Comércio dos EUA concederam licenças para algumas empresas norte-americanas venderem certos produtos e tecnologias para a empresa. A Qualcomm Inc. recebeu em 2020 permissão para vender chips de smartphones 4G para a Huawei.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o país asiático se opõe ao abuso dos EUA de uma noção excessivamente ampla de segurança nacional para prejudicar empresas chinesas de forma irracional.
A medida “vai contra os princípios da economia de mercado e as regras do comércio e finanças internacionais, fere a confiança que a comunidade internacional tem no ambiente de negócios dos EUA e é uma hegemonia tecnológica flagrante”, disse Mao durante entrevista coletiva em Pequim nesta terça-feira.
Uma fonte, ouvida pela Reuters, familiarizada com o assunto disse que as autoridades norte-americanas estão criando uma nova política formal para o não envio de itens para a Huawei, que incluiria itens abaixo do nível 5G, incluindo itens 4G, Wifi 6 e 7, inteligência artificial e computação de alto desempenho e nuvem.
Outra fonte afirmou que a medida deve refletir o endurecimento da política do governo do presidente Joe Biden em relação à Huawei no ano passado.
Licenças para chips 4G que não poderiam ser usados para 5G, que poderiam ter sido aprovados anteriormente, estavam sendo negadas, disse a pessoa. No final do governo de Donald Trump e no início do governo Biden, as autoridades ainda concediam licenças para itens específicos para aplicativos 4G.
As autoridades norte-americanas colocaram a Huawei em uma lista de sanções comerciais em 2019, restringindo a maioria dos fornecedores dos EUA de enviar mercadorias e tecnologia para a empresa, a menos que recebessem licenças.
As autoridades continuaram a apertar os controles para cortar a capacidade da Huawei de comprar ou desenvolver os chips semicondutores que alimentam a maioria de seus produtos.
(*Publicado por Douglas Porto e Fernanda Pinotti com informações da Reuters)