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    Conheça o centro especializado no resgate de pinguins na Nova Zelândia

    Aves são caçadas em terra por cães, furões e raposas; já na água são perseguidas por tubarões e barracudas, um peixe predatório com dentes afiados

    Animal normalmente fica no Penguin Place por cerca de duas semanas, para descansar, se recuperar e engordar antes de retornar à natureza.
    Animal normalmente fica no Penguin Place por cerca de duas semanas, para descansar, se recuperar e engordar antes de retornar à natureza. Ben Foley/CNN

    Rebecca Cairnsda CNN

    Petulantes, corajosos e vingativos: assim são descritos os pinguins-de-olhos-amarelos pelas pessoas que passam os dias trabalhando com eles.

    “Eles não são tão bonitos e fofos como parecem”, diz Jason van Zanten, gerente de conservação no Penguin Place na Península de Otago, Nova Zelândia. “Na verdade, ele pode dar uns tapas bem forte”.

    Localmente chamado de “hoiho”, que significa “gritador barulhento” em māori, a língua dos nativos neozelandeses, o pinguim-de olhos-amarelos é o maior das espécies de pinguins que vivem e se reproduzem na área continental da Nova Zelândia.

    Mas a sua população caiu dramaticamente nos últimos 30 anos devido ao aumento das ameaças dos predadores, das alterações climáticas e das doenças.

    “Nos últimos dez anos, ou um pouco mais que isso, perdemos cerca de três quartos da população dessa espécie”, contou van Zanten.

    Com um número estimado em 3.000 indivíduos adultos na natureza, ele é uma das espécies de pinguins mais ameaçadas do mundo.

    Agora, conservacionistas estão correndo para conservar a espécie. O Penguin Place (onde van Zanten trabalha) é um lugar onde os hoihos podem descansar e se recuperar. Bem ali perto, o Wildlife Hospital, Dunedin trata aqueles com lesões graves e doenças.

    Os paraísos dos pinguins estão correndo contra o relógio para conservar a população em rápido declínio e para dar aos “gritadores barulhentos” uma possibilidade na luta pela sobrevivência.

    Pinguins na reabilitação

    Embora o Penguin Place seja um refúgio para todas as aves doentes e famintas, incluindo outras espécies de pinguins, os hoihos são a maioria dos pacientes ali.

    O centro foi fundado em 1985 quando o fazendeiro Howard McGrouther cercou aproximadamente 60 hectares de suas terras para criar uma reserva para os oito casais reprodutores de pinguins-de-olhos-amarelos que fizeram ninho em sua propriedade.

    McGrouther “estabeleceu a base do centro de reabilitação” e também começou a replantar árvores nativas que haviam sido arrancadas para agricultura. É o que conta van Zanten, que começou a trabalhar no centro como peão, cortando grama e fazendo manutenção, e agora supervisiona as operações.

    O centro era totalmente financiado pelo turismo até a pandemia da Covid-19, quando teve de fechar ao público e recebeu financiamento do departamento de conservação do governo.

    Segundo van Zanten, a fome é um grande problema para os hoihos: cerca de 80% dos pinguins chegando ao centro de baixo peso.

    A pesca comercial (que levou alguns pinguins a serem caçados acidentalmente) reduziu a disponibilidade de peixes pequenos e lulas como alimento. Já as temperaturas flutuantes do mar devido às alterações climáticas mudaram a distribuição de suas presas.

    Questões ambientais, tais como florescimento de algas tóxicas e poluição da água, têm aumentado a pressão sobre o habitat dos hoihos, e as temperaturas crescentes em terra estão ameaçando ainda mais a espécie “gorda e fortemente emplumada”.

    “Eles gostam de um pouco mais de frio e, com as temperaturas aumentando, ficam mais estressados e com superaquecimento”, detalha van Zanten.

    Uma doença misteriosa

    Além da fome, muitos hoihos chegam ao Penguin Place com doenças e lesões –e é aí que o Wildlife Hospital, Dunedin, especializado em espécies nativas, entra em ação.

    Em terra, o hoiho é caçado por mamíferos, incluindo cães, furões e raposas que podem deixá-los ou os seus filhotes gravemente feridos. Já na água, tubarões e barracudas, um peixe predatório com dentes extremamente afiados, muitas vezes infligem “ferimentos horríveis”, explica Lisa Ardilla, veterinária sênior da vida selvagem e diretora do Wildlife Hospital, Dunedin.

    Os animais também sofrem de várias doenças, incluindo malária aviária e dermatite, que o hospital pode tratar com antibióticos. Além disso, a difteria aviária tem devastado a população de hoiho nos últimos 20 anos, causando lesões, semelhantes a úlceras, na boca da ave e dificultando a alimentação, levando, em última análise, à fome.

    Além disso, há uma doença nova, desconhecida, que afeta os filhotinhos. Provisoriamente denominada “pulmão vermelho”, ela causa problemas respiratórios, segundo Kate McInnes, veterinária de espécies ameaçadas do departamento de conservação da Nova Zelândia.

    Os casos começaram a aparecer há cinco anos, mas “houve um aumento significativo nos últimos dois anos”, diz a veterinária. Ela acrescenta que o mal  não parece ser infeccioso, mas os pesquisadores ainda estão tentando determinar a causa.

    Se os filhotes chegam ao hospital já doentes com a doença misteriosa, Ardilla diz que não podem ser salvos. No entanto, ela e sua equipe encontraram uma solução: a criação manual de filhotes de pinguins no hospital.

    “Se a gente consegue pegá-los numa certa idade, ainda recém-nascidos, podemos impedir a doença”, conta. Os pintinhos são retirados de ninhos logo após a eclosão, e são reunidos com seus pais na vida selvagem após 10 a 14 dias.

    Depois de tratar aves doentes e feridas de outros males, o Wildlife Hospital as envia ao Penguin Place após o tratamento, onde se recuperam antes de serem liberadas de volta para o meio selvagem, diz Ardilla. “É emocionante sabermos que nosso trabalho está realmente trazendo a diferença”.

    Uma oportunidade de reverter

    De volta ao Penguin Place, o hoiho é mantido em pequenos espaços com pedras, blocos de madeira e abrigos. Os pinguins são colocados em um programa intensivo de alimentação para engordá-los antes da libertação. São alimentados com peixes duas vezes por dia.

    A maioria dos pássaros fica no centro por cerca de duas semanas antes de ser solto na reserva, onde podem arrumar parceiros e fazer ninhos, diz van Zanten, acrescentando “quanto mais eles estão no meio da vida selvagem, melhor para eles”.

    Como a única espécie solitária de pinguim do mundo, o hoiho é antissocial e não gosta de fazer ninho à vista de seus vizinhos – eles podem até abandonar seus ovos se eles virem outro pinguim. Para que se sintam mais seguros, o Penguin Place espalhou pequenas chalés de madeira em toda a reserva, escondidas sob a sombra de árvores e arbustos perto da praia.

    Embora haja sempre um risco ao retirar animais do meio selvagem, a veterinária McInnes diz que é preciso ter uma abordagem prática na conservação: “Se não interferimos, um grande número desses filhotes morrerá”. Antecipa um aumento dos pares de reprodução que retornam à praia no próximo ano ou dois, como resultado das intervenções.

    Já o gerente de conservação van Zanten está otimista de que a espécie pode reverter seu curso de diminuição. O Penguin Place possui uma taxa de sucesso extremamente alta: mais de 95% dos 200 a 300 pássaros que chegam ao centro todos os anos são liberados de volta à natureza, diz. No ano passado, o centro alcançou seu próprio recorde, com 99% das aves libertadas, dando esperança a esta ave em perigo crítico.

    “O trabalho que estamos fazendo é absolutamente crítico para esses pinguins e sua sobrevivência aqui no continente”, pontua o neozelandês.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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