Confide: conheça o app de mensagens usado por Ronnie Lessa em assassinato de Marielle

O ex-policial militar Élcio Queiroz, que movimentou a investigação do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes após prestar delação premiada, afirmou que o policial reformado Ronnie Lessa – apontado como o autor dos disparos – usava um aplicativo restrito para se comunicar.
O uso do aplicativo Confide – que promete conversas privadas, sem rastros e com mensagens que se autodestroem – foi confirmado em mensagens extraídas pela Polícia Federal (PF) do celular de Ronnie Lessa, segundo inquérito ao qual a CNN teve acesso.
Na investigação, a PF explica que, “em consulta ao sítio, verificou-se que o aplicativo tem como essência a confidencialidade que seria garantida por meio de três recursos principais: criptografia, mensagens efêmeras (autodestroem após visualização) e screenshield (à prova de captura de tela)”.
A PF afirma que houve “constatação de que os réus de fato faziam uso do referido aplicativo”.
Conheça o Confide
De acordo com a descrição do aplicativo na App Store e na Google Play Store, o Confide é um aplicativo de mensagens criptografadas que promete comunicações "totalmente confidenciais".
Ele foi criado, em 2014, por quatro empresários e engenheiros ligados ao setor de tecnologia e telecomunicações, em Nova York, nos Estados Unidos. Em janeiro de 2021, foi anunciada a compra do aplicativo pela empresa InterActiveCorp (IAC).
"Você não deixará rastros online com mensagens criptografadas de ponta a ponta, mensagens que desaparecem, tecnologia à prova de captura de tela e Modo Anônimo. Você pode até mesmo enviar mensagens canceláveis ou usar nosso leitor de texto linha por linha", descrevem os desenvolvedores.

Também é oferecida uma assinatura para a versão "premium" do Confide, por R$ 49,90/mês ou R$ 249,90/ano. O "Confide Plus" oferece envio ilimitado de fotos e vídeos, a ferramenta para apagar mensagens que foram enviadas, o "modo anônimo", no qual a sua entrada no aplicativo não é notificada para seus contatos, a criação de apelidos para contatos que somente o usuário tem acesso, além de temas customizados e suporte próprio.
Segundo a loja de aplicativos do Android, o Confide já foi baixado mais de 1 milhão de vezes. A App Store não informa quantos usuários do iOS já baixaram o aplicativo.
Como funciona?
"É muito simples. Receba mensagens de seus amigos e colegas, “passe” pelas palavras com o dedo ou o mouse para lê-las e observe-as desaparecer sem deixar rastros quando terminar. Eles se foram para sempre -- sem encaminhamento, sem impressão e sem arquivamento", explicam os desenvolvedores no site da empresa.
Eles afirmam que os usos mais comuns para o aplicativo são "recomendações de trabalho, questões de RH, discussões de negócios e até mesmo fofocas de boa índole no escritório".
"Achamos que o conceito de registro permanente digital é maluco. Por que toda a nossa comunicação online deveria existir para sempre, com cópias de coisas sendo espalhadas e armazenadas nas caixas de entrada das pessoas e na nuvem?", acrescentam os desenvolvedores.
Polêmica com a Casa Branca e funcionários de Trump
O uso do Confide no planejamento do assassinato de Marielle e Anderson não é a primeira vez que leva o aplicativo às manchetes.
Em março de 2017, ainda nos primeiros meses do governo do ex-presidente dos EUA Donald Trump, a CNN reportou um relatório que apontava sérias falhas de segurança no Confide.

O aplicativo ganhou fama após relatos de que era amplamente usado por funcionários da Casa Branca para se comunicar e vazar informações sigilosas para a imprensa.
As notícias levaram o então secretário de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, a fazer uma fiscalização nos telefones dos assessores do governo americano em busca de aplicativos criptografados, o que incluiu o Confide.
O relatório reportado pela CNN, feito pela empresa de consultoria de segurança cibernética IOActive, apontou "inúmeras falhas que podem permitir que um invasor se faça passar por usuários, descriptografe mensagens, altere mensagens antes de serem recebidas e descubra os detalhes de contato dos usuários do aplicativo".
O CEO do Confide escreveu à CNN na época informando que os erros tinham sido corrigidos.