Como é trabalhar na Netflix? CEO Reed Hastings conta os segredos da empresa
Em conversa com o CNN Brasil Business, fundador da maior empresa de streaming do mundo conta os detalhes do livro que detalha a cultura da Netflix
Indagado sobre o que seria mais simples, escrever um livro e lançar uma empresa de streaming, Reed Hastings não hesita em responder: é mais fácil fundar uma companhia como a Netflix. Em entrevista exclusiva ao CNN Brasil Business, Hastings contou os detalhes do lançamento de seu primeiro livro “A regra é não ter regras”, feito em parceria com Erin Meyer, professora da INSEAD Business School e autora do “O Mapa da Cultura: Rompendo os Limites Invisíveis dos Negócios Globais”.
Ao longo dos últimos três anos, o fundador da maior empresa de streaming do mundo detalhou, por meio do livro, a cultura da Netflix e sobre como o modelo de gestão é importante para o sucesso do negócio. “Fomos bem sucedidos em todos os negócios justamente pela visão de time”, explica.
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Para Hastings, o ponto chave para qualquer empresa crescer está na liberdade que a liderança dá aos seus trabalhadores. Isso porque, segundo o executivo, quanto mais autonomia você der para a equipe, mais eficaz você será – seja para atender os clientes ou motivar o time interno.
“Foram três anos com a Erin Meyer, coautora do livro, para falar de organizações criativas e como elas são diferentes de organizações industriais”, diz. “O livro traz um conjunto de princípios sobre como ser mais criativo e original”, completa.
A missão de Hastins escrever um livro para contar a cultura da Netflix surgiu pois, segundo ele, ajuda companhias, de qualquer porte, a questionar, aprender e conversar a respeito da liberdade, gestão e cultura. “É um livro de negócios e cada um poderá ver o que funciona para a sua empresa”, conta.
Para entender melhor a cultura da Netflix, como é trabalhar dentro da empresa e os conceitos que regem sua gestão, o CNN Brasil Business listou os principais pontos mencionados por Hastings. Confira, a seguir:
1- Valor da liberdade
Pilar da cultura da Netflix, a liberdade rege praticamente todos os princípios da empresa. Não à toa, o livro mostra, do início ao fim, como a liberdade contribui para um ambiente mais propício para o crescimento – além de tornar outros pilares da companhias mais coesos.
Já na introdução, os autores explicam que para você construir um time talentoso, o principal é não limitar o colaborador com políticas e processos. Para eles, quanto mais regra você tiver dentro de uma companhia, mais limitações existirão.
Por isso, na Netflix, a cultura da liberdade e responsabilidade é tão forte. “Temos tudo a ver com a liberdade para os nossos clientes, que é liberdade para assistir filmes italianos, séries alemãs, filmes de hollywood, séries brasileiras”, diz Hastings.
“Quanto mais liberdade você der aos colaboradores, mantendo-os trabalhando como uma equipe eficaz, melhor será. O livro é uma explicação sobre como manter o crescimento, tanto da liberdade, como do desempenho da sua empresa”, complementa.
Não à toa, a empresa também eliminou a política de aprovação de despesas: a cultura incentiva as pessoas usarem e gastarem o dinheiro da empresa, como se fossem o dinheiro delas. Para os autores, isso ajuda a criar um senso de responsabilidade maior e de pertencimento da empresa. Eles partem do ‘princípio’ de que ninguém gasta seu próprio dinheiro de forma irresponsável.
2- Importância do feedback
Para qualquer relacionamento dar certo, um posicionamento claro, construtivo e direto é fundamental. E é nesse valor que a cultura da Netflix aposta para fazer o time avançar, cada vez mais.
Nesse quesito, Hastings e Meyer explicam no livro “A regra é não ter regras”, que mais que ser transparente e construtivo ao dar um feedback, a avaliação de desempenho e parecer sobre como o colega ou colaborador tem atuado são fundamentais para manter um time de alta qualidade.
“Tentamos ser um time em que uns apoiam os outros, que aprende entre si e, claro, que dão feedback uns aos outros”, afirma Hastings. “Com isso, temos tido um ótimo desempenho. Fomos, nos últimos 20 anos, da entrega de DVDs por Correios para a expansão global do streaming e produção de conteúdo original. Fomos bem sucedidos por causa dessa visão de time”, completa.
3- Somos um time, não uma família
Uma dos pontos mais chamativos do livro, os autores explicam os principais motivos pelos quais não consideram a equipe como uma família – e deixam isso claro: somos um time, não uma família.
Segundo o livro, aos que valorizam estar em um time vencedor, a cultura da Netflix proporciona essa grande oportunidade. Isso porque, na empresa, eles focam na construção de um time que tenha capacidade de competir a um nível elevado, assim como também fortalecem as relações e cuidam e se preocupam uns com os outros.
“Se você pensar nas várias e ótimas selções de Copa do Mundo”, trata-se de um grupo de jogadores que trabalha bem e unido para ganhar. É assim com seleções dos Estados Unidos, Alemanha”, diz Hastings. “Quando falamos de esporte profissional, há muito semelhança com a cultura da Netlflix”, completa..
Para o executivo, muitas empresas se enxergam como uma família, mas, em uma relação familiar, há amor independente de qualquer situação, “mesmo que seu irmão roube você e fuja.”
Em uma relação familiar, “você fica com a sua família e a ama, não importa o que aconteça”, acrescenta. Mas, quando se trata de trabalho, Hastings afirma que é preciso enxergar como uma seleção de Copa do Mundo. “Tentando reunir os jogadores para ganhar o campeonato que, no nosso caso, é agradar os nossos assintantes”, diz.
Por isso Hastings é muito claro com a metáfora e reafirma que o time não deve ser uma família.
4- Não a política de aprovação de férias
Diferente de inúmeras companhias, a Netflix aboliu o sistema de aprovação de férias. É isso mesmo: qualquer colaborador pode tirar férias quando bem quiser – e pelo tempo que prefeir.
Para isso, Hastings aboliu a política de aprovação de férias. Na empresa, eles trabalham com a política da ‘honestidade’.
“Em vez de conceder quatro, três, ou seis semanas de férias, nós simplesmente deixamos que o colaborador tire quanto tempo quiser. Ele é responsável por seu próprio trabalho”, diz o fundador da Netflix. “Descobrimos que, muitas vezes, as pessoas têm suas melhores ideias e são mais criativas, quando estão de férias”, completa.
Por isso, Hastings é claro: a Netflix não quer limitar as pessoas. A empresa que deixar com que elas vivam plenamente e, ainda assim, sejam grandes contribuintes para o progresso da companhia. Por isso, a regra é não ter regra.
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