Cinco pontos da carta de Mark Zuckerberg para entender a Meta (novo Facebook)
O futuro que Mark Zuckerberg promete, pela Meta e pelo metaverso, é muito mais virtual do que o atual
O Facebook – a empresa, não a rede social – agora se chama Meta.
O conglomerado por trás do Facebook, Instagram e WhatsApp, responsável por conectar bilhões de pessoas, influenciar votações e até afetar a saúde mental de muitos, tem uma visão extremamente ambiciosa sobre o futuro.
Esse futuro, inclusive, tem nome: metaverso. Conforme a CNN publicou anteriormente, a ideia de metaverso “representa a possibilidade de acessar uma espécie de realidade paralela, em alguns casos ficcional, em que uma pessoa pode ter uma experiência de imersão. Tecnicamente, o metaverso não é algo real, mas busca passar uma sensação de realidade, e possui toda uma estrutura no mundo real para isso”.
Se tudo ainda parece abstrato, não se preocupe – é porque é.
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook (agora Meta), precisou gravar um vídeo de 80 minutos para tentar explicar o que pretende com o metaverso, mas na maior parte do tempo optou por deixar tudo aberto a “diversas possibilidades”.
Zuckerberg também escreveu uma longa carta tentando elucidar sua visão de futuro para ometaverso. A CNN Brasil traduziu (leia a íntegra no fim do texto) e traz cinco importantes pontos para compreendê-la.
1) Novo nome, velhos problemas
Antes de tudo, é impossível ignorar o contexto no qual a mudança de nome é anunciada. O Facebook vive uma das suas piores crises de reputação.
Na última sexta-feira (22), um consórcio de 17 veículos, incluindo a CNN, começou a publicar uma série de histórias – chamadas coletivamente de “The Facebook Papers” – com base em centenas de documentos internos da empresa que foram incluídos em divulgações feitas à Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio (SEC) e fornecidas ao Congresso em forma redigida pelo consultor jurídico da denunciante que trabalhou no Facebook, Frances Haugen.
Há histórias sobre como grupos coordenados no Facebook semeiam discórdia e violência, sobre como o Instagram tem impacto negativo na saúde mental de adolescentes e como as plataformas da empresa têm sido usadas para espalhar desinformação.
Em meio a tamanha crise, o Facebook muda de nome e marca. No entanto, em sua carta, Zuckerberg não faz menções diretas aos problemas expostos.
O executivo faz apenas algumas menções rápidas a “lições” e “anos de humildade” e muito otimismo. Veja trechos:
“Os últimos cinco anos foram de muita humildade para mim e para nossa empresa de várias formas. Uma das principais lições que aprendi é que construir produtos que as pessoas amem não é o suficiente”.
“Ganhei mais apreço pelo fato de que a história da internet não é uma linha reta. Cada capítulo traz novas vozes e ideias, mas também novos desafios, riscos e interesses estabelecidos. Precisaremos trabalhar juntos, desde o começo, para dar vida à melhor versão possível desse futuro.”
“Esse período foi de humildade porque como em uma empresa grande como a nossa, também aprendemos como é construir em outras plataformas. Viver sob essas regras moldou profundamente minhas visões sobre a indústria da tecnologia. Agora eu acredito que a falta de escolha dos consumidores e altas taxas para desenvolvedores estão sufocando a inovação e travando a economia da internet.”
2) O futuro irá além das telas
Em síntese, Mark Zuckerberg, o criador do Facebook e CEO da Meta, acredita que viveremos em um mundo cada vez mais virtual, mas não limitado por telas.
Ele aposta que estaremos em um híbrido de realidade aumentada (quando imagens virtuais são sobrepostas às imagens óticas), realidade virtual (quando as imagens do mundo físico são completamente suprimidas pelas virtuais) e o mundo físico tal como conhecemos.
Nas palavras de Zuckerberg:
“No metaverso, você será capaz de fazer quase tudo o que imaginar – ficar junto de amigos e familiares, trabalhar, aprender, jogar, comprar, criar – assim como viver experiências completamente novas que não se encaixam em como pensamos computadores ou telefones hoje.”
“Pense em quantas coisas físicas que você tem hoje e que podem se tornar apenas hologramas no futuro. Sua TV, seu espaço de trabalho com vários monitores, seus jogos de tabuleiros e mais – em vez de objetos físicos construídos em fábricas haverá hologramas desenhados por criadores ao redor do mundo.”
“Você poderá navegar por essas experiências em dispositivos diferentes – óculos de realidade aumentada para continuar presente no mundo físico, realidade virtual para se tornar completamente imerso, telefones e computadores para ir para plataformas que já existem. Isso não é sobre passar mais templo em telas; é sobre melhorar o tempo que já gastamos.”
3) O foco ainda é em conectar pessoas
Em vários momentos, Zuckerberg deixa claro que, apesar da forma e das ferramentas mudarem, o foco da Meta continua sendo o mesmo: conectar pessoas.
De acordo com o executivo, o metaverso é apenas a próxima fronteira em termos de imersão. Porém, assim como o Facebook, a Meta é uma empresa de “tecnologias sociais”. Conexão é um dos conceitos mais repetidos por Zuckerberg em sua carta.
“Acreditamos que o metaverso possa permitir melhores experiências sociais do que qualquer coisa que exista hoje – e dedicaremos toda nossa energia para ajudar a conquistar esse potencial.”
“Somos uma empresa que foca em conectar pessoas. Embora a maioria das empresas foquem em como as pessoas interagem com tecnologia, nós sempre focamos em construir tecnologias para que as pessoas possam interagir umas com as outras.
“Construir aplicativos sociais sempre será importante para nós – e há muito mais para construir. Mas cada vez mais isso não é tudo o que fazemos. Em nosso DNA, construímos tecnologias para unir pessoas. O metaverso é a próxima fronteira em conectar pessoas, assim como eram as redes sociais quando começamos.”
4) O discurso de Zuckerberg vai na contramão do Facebook
Embora o Facebook seja muito criticado por ser uma plataforma fechada e com problemas de privacidade, Zuckerberg diz em sua carta, reiteradas vezes, que a Meta será uma plataforma aberta.
Para ele, a “falta de escolha para consumidores” está sufocando a inovação e travando a economia da internet. Talvez por isso, ele explique que agora os resultados financeiros dos aplicativos serão anunciados de forma separada das futuras plataformas.
E talvez por isso, ele fale várias vezes em trabalhar junto com criadores:
“O metaverso não será criado por uma empresa. Ele será feito por criadores e desenvolvedores fazendo novas experiências e itens digitais que serão interoperáveis e destravarão uma economia criativa muito maior do que a atual, presa a plataformas e suas políticas.”
“Privacidade e segurança precisam ser construídos dentro do metaverso desde o primeiro dia. Assim também são os padrões abertos e a interoperabilidade. Isso necessitará não apenas muito trabalho técnico – como apoiar projetos de corpo e NFT na comunidade – mas também novas formas de governança. Mas, mais do que tudo, precisamos ajudar a criar ecossistemas para que mais pessoas tenham interesse no futuro e possam se beneficiar não só como consumidoras, mas também como criadoras”.
5) Ainda é a economia, estúpido
Em determinado momento, Mark Zuckerberg diz: “Não construímos serviços para fazer dinheiro; nós fazemos dinheiro para construir melhores serviços”.
Independente de a visão ser verdadeira ou não, a questão econômica é muito presente nas promessas de Mark Zuckerberg.
Em diversos momentos ele diz como o metaverso permitirá fazer novos negócios, possibilitará que bilhões de dólares circulem e como eles querem fazer grandes investimentos.
No fim, ainda estamos falando dos futuros planos de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.
“Planejamos vender nossos dispositivos a preço de custo ou com subsídios para torná-los disponíveis para mais pessoas. Nós continuaremos a apoiar o carregamento lateral e a transmissão a partir de computadores para que as pessoas tenham escolha, em vez de forçá-las a utilizar a Quest Store para encontrar aplicativos e alcançar consumidores. E nós pretendemos oferecer serviços para desenvolvedores e criadores com taxas baixas no maior número de casos possível para que possamos maximizar a economia criativa. No entanto, precisamos ter certeza de que não perderemos muito dinheiro pelo caminho.”
Leia a íntegra abaixo:
Carta do fundador, 2021
Estamos no começo do próximo capítulo da internet, e o próximo capítulo da nossa empresa também.
Nas últimas décadas, a tecnologia deu às pessoas o poder de nos conectar e nos expressar mais naturalmente. Quando comecei o Facebook, nós escrevíamos principalmente textos em websites. Então vieram os celulares com câmera e a internet se tornou mais visual e móvel. Conforme as conexões se tornaram mais rápidas, o vídeo se tornou uma forma mais rica de compartilhar experiências. Nós fomos do computador para a internet e dali para o celular; fomos de textos para fotos e então para vídeos. Mas esse não é o fim da linha.
A próxima plataforma será ainda mais imersiva – uma internet incorporada na qual você está na experiência, não apenas olhando para ela. Nós chamamos isso de metaverso e fará parte de todos os produtos que construirmos.
A qualidade definidora do metaverso será um sentimento de presença – como se você estivesse com outra pessoa em outro lugar. Sentir-se realmente presente com outra pessoa é o sonho máximo da tecnologia social. E é isso o que estamos focados em construir.
No metaverso, você será capaz de fazer quase tudo o que imaginar – ficar junto de amigos e familiares, trabalhar, aprender, jogar, comprar, criar – assim como viver experiências completamente novas que não se encaixam em como pensamos computadores ou telefones hoje. Nós fizemos um filme que explora como você poderá usar o metaverso um dia.
Nesse futuro você poderá se teletransportar instantaneamente como holograma para o escritório sem precisar se deslocar, ir para um show com amigos ou ficar na sala de estar de seus pais para socializar. Isso abrirá mais oportunidades, não importa onde você viva. Você poderá dedicar mais tempo no que importa para você, diminuir o tempo no trânsito e reduzir sua pegada de carbono.
Pense em quantas coisas físicas que você tem hoje e que podem se tornar apenas hologramas no futuro. Sua TV, seu espaço de trabalho com vários monitores, seus jogos de tabuleiros e mais – em vez de objetos físicos construídos em fábricas haverá holograma desenhados por criadores ao redor do mundo.
Você poderá navegar por essas experiências em dispositivos diferentes – óculos de realidade aumentada para continuar presente no mundo físico, realidade virtual para se tornar completamente imerso, telefones e computadores para ir para plataformas que já existem. Isso não é sobre passar mais templo em telas; é sobre melhorar o tempo que já gastamos.
Nosso papel e nossa responsabilidade
O metaverso não será criado por uma empresa. Ele será feito por criadores e desenvolvedores fazendo novas experiências e itens digitais que serão interoperáveis e destravarão uma economia criativa muito maior do que a atual, presa a plataformas e suas políticas.
Nosso papel nessa jornada é o de acelerar o desenvolvimento de tecnologias fundamentais, plataformas sociais e ferramentas criativas para dar vida ao metaverso – e tecer essas tecnologias por meio de nossos aplicativos de redes sociais. Acreditamos que o metaverso possa permitir melhores experiências sociais do que qualquer coisa que exista hoje – e dedicaremos toda nossa energia para ajudar a conquistar esse potencial.
Como eu escrevi em nossa carta do fundador original: “não construímos serviços para fazer dinheiro; fazemos dinheiro para construir serviços melhores.”
Esta abordagem funcionou bem. Construímos nosso negócio para apoiar investimentos muito grandes e de longo prazo voltados a construir serviços melhores. E é isso o que planejamos fazer aqui.
Os últimos cinco anos foram de muita humildade para mim e para nossa empresa de várias formas. Uma das principais lições que aprendi é que construir produtos que as pessoas amem não é o suficiente.
Ganhei mais apreço pelo fato de que a história da internet não é uma linha reta. Cada capítulo traz novas vozes e ideias, mas também novos desafios, riscos e interesses estabelecidos. Precisaremos trabalhar juntos, desde o começo, para dar vida à melhor versão possível desse futuro.
Privacidade e segurança precisam ser construídos dentro do metaverso desde o primeiro dia. Assim também são os padrões abertos e a interoperabilidade. Isso necessitará não apenas muito trabalho técnico – como apoiar projetos de corpo e NFT na comunidade – mas também novas formas de governança. Mas, mais do que tudo, precisamos ajudar a criar ecossistemas para que mais pessoas tenham interesse no futuro e possam se beneficiar não só como consumidoras, mas também como criadoras.
Esse período foi de humildade porque como uma empresa grande como somos, nós também aprendemos como é construir em outras plataformas. Viver sob essas regras moldou profundamente minhas visões sobre a indústria da tecnologia. Agora eu acredito que a falta de escolha dos consumidores e altas taxas para desenvolvedores estão sufocando a inovação e travando a economia da internet.
Tentamos uma abordagem diferente. Queremos que nossos serviços sejam acessíveis para tantas pessoas quanto for possível, o que significa que trabalhar para que eles custem menos, não mais. Nossos aplicativos móveis são gratuitos. Nossas ferramentas de comércio estão disponíveis a preço de custo ou com taxas modestas. Como resultado, bilhões de pessoas amam nossos serviços e milhares de milhões de negócios confiam em nossas ferramentas.
Essa é a abordagem que queremos trazer para ajudar a construir o metaverso. Planejamos vender nossos dispositivos a preço de custo ou com subsídios para torná-los disponíveis para mais pessoas. Nós continuaremos a apoiar o carregamento lateral e a transmissão a partir de computadores para que as pessoas tenham escolha, em vez de forçá-las a utilizar a Quest Store para encontrar aplicativos e alcançar consumidores. E nós pretendemos oferecer serviços para desenvolvedores e criadores com taxas baixas no maior número de casos possível para que possamos maximizar a economia criativa. No entanto, precisamos ter certeza de que não perderemos muito dinheiro pelo caminho.
Nossa esperança é que na próxima década o metaverso alcance um bilhão de pessoas, movimente bilhões de dólares em comércio digital e gere trabalho para milhões de desenvolvedores e criadores.
Quem nós somos
Conforme embarcamos no próximo capítulo, pensei muito sobre o que isso significa para nossa empresa e identidade.
Somos uma empresa que foca em conectar pessoas. Embora a maioria das empresas foquem em como as pessoas interagem com tecnologia, nós sempre focamos em construir tecnologias para que as pessoas possam interagir umas com as outras.
Hoje somos vistos como uma empresa de redes sociais. O Facebook é um dos produtos tecnológicos mais usados da história do mundo. É uma marca icônica de rede social.
Construir aplicativos sociais sempre será importante para nós – e há muito mais para construir. Mas cada vez mais isso não é tudo o que fazemos. Em nosso DNA, construímos tecnologias para unir pessoas. O metaverso é a próxima fronteira em conectar pessoas, assim como eram as redes sociais quando começamos.
Nossa marca está tão conectada a um produto que não pode mais representar o que fazemos hoje, muito menos no futuro. Com o tempo, espero que sejamos vistos como uma empresa de metaverso, e quero ancorar nossa identidade e nosso trabalho no que estamos construindo.
Acabamos de anunciar que estamos fazendo uma mudança fundamental em nossa empresa. Agora estamos olhando e reportando nosso negócio em dois segmentos diferentes: um para nossa família de aplicativos e um para nossas futuras plataformas. Nosso trabalho no metaverso não é apenas um desses segmentos. Ele engloba tanto as experiências sociais quanto a tecnologia futura. Conforme ampliamos nossa visão, é hora de adotarmos uma nova marca.
Para refletir quem somos e o futuro que esperamos construir, orgulhosamente compartilho que nossa empresa agora é Meta.
Nossa missão permanece a mesma – ainda é sobre unir as pessoas. Nossos aplicativos e suas marcas também não estão mudando. Ainda somos a empresa que desenha tecnologias em torno das pessoas.
Mas todos os nossos produtos, incluindo nossos aplicativos, agora compartilham uma nova visão: ajudar o metaverso se tornar realidade. E agora temos um nome que reflete a amplitude do que fazemos.
A partir de agora, priorizaremos o metaverso, não o Facebook. Isso significa que, com o tempo, você não precisará de uma conta do Facebook para usar nossos serviços. Assim que nossa marca começar a mostrar nossos produtos, eu espero que as pessoas ao redor do mundo conheçam a Meta e o futuro que queremos.
Eu costumava estudar Clássicos e a palavra “meta” vem do grego. Ela significa “além”. Para mim, simboliza que sempre há mais para construir e sempre há um novo capítulo da história. Nossa história começou em um quarto e cresceu para além do que imaginávamos; em uma família de aplicativos que as pessoas usam para se conectar umas com as outras, para encontrar suas vozes e começar negócios, comunidades e movimentos que mudam o mundo.
Estou orgulhoso do que construímos até agora e estou empolgado pelo que virá – assim que irmos além do que é possível hoje, além dos limites das telas, além do limite das distâncias e do mundo físico, em direção a um futuro no qual todos podem estar presentes uns com os outros, criando oportunidades e experimentando novas coisas. É um futuro que está além de qualquer empresa e que será feito por todos nós.
Construímos coisas que uniram as pessoas em novas formas. Aprendemos lutando contra questões sociais difíceis e vivendo sob plataformas fechadas. Agora é hora de pegar tudo o que aprendemos e ajudar a construir o próximo capítulo.
Estou dedicando nossa energia a isso – mais do que qualquer empresa no mundo. Se esse é o futuro que você quer ver, espero que se uma a nós. O futuro que irá além de qualquer coisa que podemos imaginar.