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    Cientista “rebaixada” teve trabalho usado como base da vacina contra o Covid-19

    Katalin Karikó é vice-presidente sênior da BioNTech, que desenvolveu a vacina em parceria com a Pfizer

    Vacina contra Covid-19 da Pfizer/BioNTech
    Vacina contra Covid-19 da Pfizer/BioNTech Foto: Owen Humphreys/Pool via Reuters (8.dez.2020)

    Leah Asmelash e AJ Willingham, da CNN

    As vacinas contra a Covid-19 estão começando a ser lançadas em vários países, uma evolução importante que sinaliza uma luz no fim desta terrível pandemia. Para a cientista Katalin Karikó, o momento é particularmente especial.

    Karikó passou décadas de sua carreira pesquisando as possibilidades terapêuticas do mRNA, um componente do DNA considerado um dos principais blocos de construção da vida. Por meio de vários contratempos, perdas de empregos, dúvidas e uma mudança transatlântica, Karikó manteve sua convicção: o mRNA poderia ser usado para algo verdadeiramente inovador. Agora, seu trabalho é a base da vacina contra a Covid-19.

    Da Hungria para os EUA

    Hoje com 65 anos, Karikó começou sua carreira na Hungria, sua terra natal, na década de 1970, quando a pesquisa em mRNA era nova e as possibilidades pareciam infinitas. Mas a chamada do sonho americano (e mais oportunidades de pesquisa e financiamento) já tinha um papel importante em sua vida.

    Em 1985, ela, o marido e a filha deixaram a Hungria e foram para os Estados Unidos depois que ela recebeu um convite da Universidade Temple, na Filadélfia. Eles venderam o carro, Karikó contou ao jornal “The Guardian”, e guardaram o dinheiro (o equivalente a cerca de US$ 1.200) dentro do ursinho de pelúcia da filha para mantê-lo seguro.

    “Tínhamos acabado de nos mudar para o nosso novo apartamento, nossa filha tinha 2 anos, tudo era tão bom, estávamos felizes”, Karikó  lembrou ao site de notícias húngaro G7 sobre a partida de sua família. “Mas nós tínhamos que ir”. 

    Ela continuou sua pesquisa na Temple e depois na Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia (UPenn). Mas, a essa altura, a empolgação ao redor da pesquisa de mRNA tinha murchado, e a ideia de Karikó de que ele poderia ser usado para combater doenças foi considerada muito radical e muito arriscada financeiramente.

    Ela se candidatou a bolsa após bolsa, mas continuou recebendo rejeições e, em 1995, foi rebaixada de seu cargo na UPenn. Na mesma época, a pesquisadora foi diagnosticada com câncer.

    “Normalmente, nesse ponto, as pessoas simplesmente dizem adeus e vão embora porque é tão horrível”, contou ao Stat, um site de notícias de saúde, em novembro. “Pensei em ir para outro lugar ou fazer outra coisa. Também pensei que talvez não fosse boa o suficiente, não fosse inteligente o suficiente”, pontuo.

    Da dúvida ao avanço

    Mesmo assim, ela persistiu.

    Por fim, Karikó e seu ex-colega da Universidade da Pensilvânia, Drew Weissman, desenvolveram um método de utilização de mRNA sintético para combater doenças que envolve mudar a forma como o corpo produz material de combate a vírus, ela explicou no programa “Cuomo Prime Time” da CNN dos EUA.

    Essa descoberta agora é a base da vacina contra a Covid-19, e alguns disseram que Weissman e Karikó, agora uma vice-presidente sênior da BioNTech, com sede na Alemanha, merecem um Prêmio Nobel.

    “Se alguém me perguntasse em quem votar algum dia [para o Nobel], eu os colocaria na frente e no centro de tudo”, opinou Derek Rossi, um dos fundadores da gigante farmacêutica Moderna, ao Stat. “Essa descoberta fundamental será usada nos medicamentos que ajudam o mundo”.

    Embora o reconhecimento, depois de todo esse tempo, deva ser bom, Karikó diz que glória científica não é o que está em sua mente agora.

    “Realmente, vamos comemorar quando esse sofrimento humano acabar, quando as dificuldades e todos esses tempos terríveis acabarem e, com sorte, no verão, quando esquecermos o vírus e a vacina. E daí sim vou comemorar de verdade”, afirmou a cientista para Chris Cuomo.

    Karikó disse que planeja tomar a vacina em breve, junto com Weissman, e disse que está “muito, muito confiante” de que funcionará. Afinal, foram suas descobertas que contribuíram para isso.

    Enquanto não celebra oficialmente, Karikó disse que se permitiu um presentinho para comemorar a novidade da vacina: um saco de Goobers, um doce feito de amendoim coberto por chocolate que é seu favorito.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).