Cabos submarinos podem ser os novos alvos da Rússia
Otan captou o interesse dos russos em atacar o sistema de comunicação da internet como ferramenta de guerra
A guerra declarada da Rússia contra a Ucrânia – e o conflito velado com o Ocidente – pode ganhar novos contornos com ações em um novo flanco: o da infraestrutura mundial de comunicação. Os serviços de inteligência da Otan têm detectado potenciais ataques russos contra cabos submarinos de internet.
Segundo David Cattler, secretário-geral assistente da Otan para inteligência e segurança, existe um risco “persistente e significativo” de ataques da Rússia contra esse tipo de infraestrutura.
De acordo com o site TeleGeography.com, no início deste ano o mundo contava com 552 cabos submarinos em atividade, sempre em constante crescimento, superando 1,2 milhão de quilômetros no total. Um dos menores do mundo é o CeltixConnect, de apenas 131 quilômetros, ligando o Reino Unido à Irlanda. Os maiores têm mais de 20 mil quilômetros de extensão.
O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, também advertiu para os riscos de a Rússia atacar esses cabos. “Não há dúvidas de que a Rússia tem a intenção e a capacidade de atingir as linhas subaquáticas”, afirmou em entrevista ao site PA Media. “O que sabemos é que os russos têm um programa naval específico projetado para examinar e potencialmente sabotar ou atacar a infraestrutura nacional crítica pertencente a seus adversários”.
Ele cita o ataque contra o gasoduto Nord Stream, como um exemplo do que é possível fazer a uma infraestrutura sob os mares.
Atualmente, mais de 95% do tráfego internacional da Internet é transmitido por esses cabos. Por seu domínio na transmissão de informações da internet, é visto como um “pivô econômico”. Ainda segundo a Otan, são responsáveis por transportar US$ 10 trilhões de dólares em transações financeiras diariamente.
A grande preocupação do Ocidente é está no fato de eles terem detectado “ações de monitoramento” desse sistema por parte da Rússia. Acredita-se que o objetivo é encontrar pontos fracos e críticos que possam ser mais facilmente atacados ou que gerem maior dano aos países da América do Norte e da Europa Ocidental.
Ao contrário dos cabos utilizados no passado para o telégrafo, os cabos submarinos modernos são projetados para suportar larguras de banda muito maiores e velocidades
de transmissão mais rápidas. Eles também estão mais preparados para incidentes como queda de âncoras ou mesmo ataques de tubarão que, ao contrário do que parecem, são frequentes.
“Eles são projetados para serem extremamente resistentes, seguros e confiáveis, porém não estão isentos de acidentes causados por fenômenos naturais ou animais marinhos”, explica Rafael Franco, especialista em segurança cibernética. “E com a alta dependência da sociedade da conectividade os impactos desses acidentes podem ser sempre consideráveis”.
O especialista detalha o ritmo de um dano a um desses cabos: “Pode ocorrer interrupção temporária ou perda de conectividade para as áreas atendidas por esse cabo. Isso pode afetar a comunicação, o comércio, as transações financeiras e várias outras atividades que dependem da conectividade global”. No entanto, explica, as operadoras de cabos submarinos têm rotas de contingência e planos de recuperação para minimizar esses impactos.
Sobre a possibilidade de a Rússia atacar esses cabos, Franco aponta alguns senões. “A rede global de cabos submarinos é altamente interconectada. Embora um ataque possa afetar temporariamente uma rota específica, muitas vezes existem rotas alternativas disponíveis para manter a conectividade”. Ou seja, seria necessário ataque em massa para haver um dano considerável.
A solução para evitar problemas seria, então, a internet via satélite? Franco destaca as vantagens, mas lembra que os custos ainda são muito elevados. “Além disso, outro ponto a se considerar é a latência dos dados que é o tempo entre um bit sair de uma máquina e chegar a outra. Como no caso do satélite isso envolve distâncias maiores podemos inviabilizar ou dificultar alguns usos da internet como no caso da IOT, a Internet das Coisas”.