Avanço da tecnologia vai impedir que queda do PIB seja maior, diz Ilan Goldfajn
Para ex-presidente do BC, o Brasil terá de se esforçar mais do que os demais países tanto para o fim do isolamento social como para a retomada após a crise
Como efeito dos impactos da pandemia de Covid-19 na atividade econômica brasileira, o Produto Interno Bruto (PIB) deve registrar seu pior desempenho histórico em 2020. Na avaliação do ex-presidente do Banco Central e atual presidente do conselho do Credit Suisse, Ilan Goldfajn, a adaptação dos consumidores às compras e serviços virtuais vai amenizar a contração econômica do Brasil.
“Muita coisa está se mantendo de uma forma virtual. É isso que vai sustentar com que o PIB não caia ainda mais, se não a queda seria bem mais brutal”, analisou. Ele participou, nesta quarta-feira (3), de uma de videoconferência sobre os desdobramentos da política econômica, as medidas de emergência e suas relações com a crise atual, promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Goldfajn destacou que já é certo que a contração do PIB será a maior da série histórica neste ano. “Vai ser uma queda muito dura e isso significa, também, que o desemprego vai subir. Muita gente desistiu de estar no mercado de trabalho formal no Brasil, e ainda assim vai ter uma alta forte no desemprego. Não é que vai ficar mais difícil o cenário, é que estamos em um período difícil”, disse.
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Para ele, o Brasil terá de se esforçar mais do que os demais países tanto para o fim do isolamento social como para a retomada após a crise, uma vez que “não teve disciplina suficiente” durante a pandemia. “Não fizemos nossa quarentena direito e por isso acho que vamos trabalhar um pouco mais. Esse custo da falta da disciplina vai vir. Acho que vamos conseguir sair do isolamento somente mais para o final do ano, depois do resto do mundo”, observou.
Ainda na visão de Goldfajn, além da retomada da agenda de reformas pré-crise, novas reformas terão de ser desenhadas e aprovadas para a retomada econômica. “A verdade é que vamos precisar crescer, e para isso vai precisar de reformas que melhorem produtividade. Quando se fala em tributária, por exemplo, ela não nos dá um centavo a mais. É uma reforma neutra, mas se fizer a gente crescer um pouco mais já vai ser bom. A nossa dívida é relação dívida/PIB, então tem que controlar a dívida mas também tem que fazer o PIB crescer”, destacou.
Crédito e juros
Goldfajn acredita que, apesar do papel fundamental do crédito para a sobrevivência das empresas brasileiros em meio a crise, o estímulo de redução de juros não deveria ser tão forte neste primeiro momento. “Não acho que tinha que ter estímulo nesses meses de abril e maio, quando a gente está em casa, eu considero isso um choque de oferta. Não tem juros baixo que te faça sair pra comprar no shopping porque o shopping está fechado. Não tem juros baixo que faça você investir se sua fábrica está fechada. Vamos nos aproximar em algum momento da reabertura e aí sim o estímulo pode ser útil para que nossa volta seja mais acentuada”, explicou.
Ao comentar sobre o movimento de queda da Selic, ele ainda ressaltou que a capacidade do Brasil de chegar no juros baixos é menor do que a de outros países. “Nós não temos risco zero. Temos que pensa na política monetária mais na linha do que pensamos na fiscal. Temos que saber nosso limite. Vamos ajudar a economia a se recuperar, aproveitando uma inflação mais baixa, mas levando em conta que não temos o risco no nível de outros países e assim o nosso juros de equilíbrio é mais alto que o de outros lugares”, completou.
Na avaliação dele, o papel da política creditícia e monetária no momento é “sustentar, mitigar e rolar tudo o que precisa até o momento da reabertura”. “Uma vez que chegamos lá e conseguimos sustentar uma parte das empresas, qual será papel do crédito? Aí o papel é na retomada: muita gente vai precisar também de oxigênio para voltar a abrir, a investir e a funcionar. Nesse momento, me parece, que não será papel de sustentar e mitigar mas sim do sistema bancário participar da retomada. Se a retomada estiver vindo, o risco de inadimplência cai e o banco faz parte disso, como sócio, financiando essa recuperação”, defendeu.
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