Anúncio de recuperação da camada de ozônio foi prematuro, diz estudo
Estudo acredita que o buraco na camada de ozônio pode estar aumentando e elenca o aquecimento global e partículas oriundas de incêndios florestais e vulcões como possíveis culpados
A recuperação da camada de ozônio — que fica a quilômetros acima da Terra e protege o planeta da radiação ultravioleta — foi celebrada como uma das maiores conquistas ambientais do mundo. Mas, num novo estudo publicado nesta terça-feira (21), alguns cientistas afirmam que ela pode não estar se recuperando e que o buraco pode estar, na verdade, se expandindo.
As conclusões estão em desacordo com as avaliações amplamente aceitas sobre o estado da camada de ozônio, incluindo um estudo recente apoiado pela ONU que mostrou que ela voltaria a atingir aos níveis da década de 1980 já em 2040.
Em 1987, vários países concordaram em proibir ou reduzir gradualmente a utilização de mais de 100 produtos químicos que destroem a camada de ozônio e que causaram um “buraco” na camada acima da Antártida. O esgotamento é atribuído principalmente ao uso de clorofluorcarbonos, ou CFCs, que eram comuns em sprays aerossóis, solventes e refrigerantes.
Essa proibição, acordada no âmbito do Protocolo de Montreal, é amplamente considerada como tendo sido eficaz no auxílio à recuperação da camada de ozônio.
O buraco, que cresce sobre a Antártica durante a primavera antes de diminuir novamente no verão, atingiu tamanhos recordes entre 2020 e 2022, o que levou os cientistas da Nova Zelândia a investigar o porquê.
Num artigo publicado pela Nature Communications, pesquisadores revelaram que os níveis de ozônio diminuíram 26% desde 2004 no centro do buraco na primavera da Antártica.
“Isso significa que o buraco não só permaneceu grande em área, mas também se tornou mais profundo [ou seja, tem menos ozônio] durante a maior parte da primavera antártica”, disse Hannah Kessenich, estudante de doutorado na Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e autora principal do estudo.
“Os buracos de ozônio especialmente duradouros durante 2020-2022 se enquadram perfeitamente neste quadro, já que o tamanho/profundidade do buraco durante outubro foi particularmente notável em todos os três anos.”
Para chegar a essa conclusão, os cientistas analisaram o comportamento da camada de ozônio entre setembro e novembro por meio de um instrumento de satélite.
Eles usaram dados históricos para comparar esse comportamento e as mudanças nos níveis de ozônio, e para medir os sinais de recuperação do ozônio. Depois, eles procuraram identificar o que estava impulsionando essas mudanças.
A descoberta foi que a destruição do ozônio e o aprofundamento do buraco foram resultados de mudanças no vórtice polar antártico, um vasto redemoinho de baixa pressão e ar muito frio, bem acima do Polo Sul.
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Os autores do estudo não se aprofundaram na exploração do que causava essas mudanças, mas reconheceram que muitos fatores também poderiam contribuir para a destruição da camada de ozônio, como a poluição que aquece o planeta; minúsculas partículas transportadas pelo ar emitidas por incêndios florestais e vulcões; e mudanças no ciclo solar.
“No geral, as nossas descobertas revelam que os recentes e grandes buracos na camada de ozono podem não ser causados apenas pelos CFC”, disse Kessenich.
“Assim, embora o Protocolo de Montreal tenha sido indiscutivelmente bem-sucedido na redução dos CFC ao longo do tempo e na prevenção de catástrofes ambientais, os recentes e persistentes buracos de ozônio na Antártida parecem estar intimamente ligados a mudanças na dinâmica atmosférica.”
Alguns cientistas estão céticos em relação às conclusões do estudo, que se baseia fortemente nos buracos observados entre 2020 e 2022 e utiliza um curto período — 19 anos — para tirar conclusões sobre a saúde a longo prazo da camada de ozônio.
“A literatura existente já encontrou razões para estes grandes buracos na camada de ozônio: fumaça dos incêndios florestais de 2019 e uma erupção vulcânica (La Soufriere), bem como uma relação geral entre a estratosfera polar e o El Niño”, disse Martin Jucker, cientista do Centro de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, ao Science Media Center.
“Sabemos que durante os anos de La Niña, o vórtice polar na estratosfera tende a ser mais forte e mais frio do que o habitual, o que significa que as concentrações de ozônio também serão mais baixas durante esses anos. Nos anos entre 2020 e 2022, assistimos a um raro La Niña triplo, mas esta relação nunca é mencionada no estudo.”
Ele observou que os autores do estudo disseram que removeram dois anos do registo — 2002 e 2019 — para garantir que “eventos excepcionais” não distorcessem as suas conclusões.
“Foi demonstrado que esses eventos diminuíram fortemente o tamanho do buraco na camada de ozônio”, disse ele.
“Portanto, incluir esses eventos provavelmente teria anulado qualquer tendência negativa de longo prazo.”
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Traduzido por Flávio Ismerim