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    Água na Lua e fosfina em Vênus: o que descobrimos sobre o espaço em 2020?

    Achados abrem caminho para conquistas ainda mais impressionantes nos próximos anos

    Relembre as principais descobertas feitas sobre o espaço em 2020
    Relembre as principais descobertas feitas sobre o espaço em 2020 Foto: CNN

    Anna Satie, da CNN em São Paulo

    A pandemia da Covid-19 não foi o único evento a marcar 2020: houve uma série de avanços na ciência espacial que prometem expandir o conhecimento humano para além do nosso planeta.

    As evidências de uma substância que sugere vida em Vênus e missões espaciais bem-sucedidas são alguns dos eventos que abrem caminho para conquistas ainda mais impressionantes nos próximos anos.

    Relembre cinco das maiores descobertas espaciais de 2020:

    1) Fosfina em Vênus

    Ilustração do planeta Vênus
    Ilustração do planeta Vênus
    Foto: ESO/M. Kornmesser & NASA/JPL/Caltech via Reuters (14.set.2020)

    Em setembro, uma pesquisa feita por cientistas dos EUA, Reino Unido e Japão detectaram fosfina na atmosfera de Vênus —um gás que é considerado uma bioassinatura, ou seja, forte indicador de presença de vida.

    “Foi bastante supreendente porque estávamos procurando sinais de vida em Marte, em luas de Júpiter, não em Vênus, que é extremamente quente e tem uma atmosfera inóspita”, explicou Ricardo Ogando, astrofísico do Observatório Nacional do Rio de Janeiro.

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    Nos meses seguintes, o estudo foi escrutinado por pesquisadores da área, que questionaram o método utilizado. Uma nova análise mostrou que a quantidade da substância é menor do que havia se pensado anteriormente, mas não deixa de ser uma descoberta impressionante.

    “Os pesquisadores tomaram bastante cuidado em dizer que não era exatamente sinal de vida, mas uma descoberta que não conseguiam explicar sem possibilidade de existir vida até o momento da publicação”, esclarece Thiago Signorini, astrônomo da UFRJ e coordenador da Sociedade Brasileira de Astronomia.

    “É um precursor interessante, estamos entrando em uma era de procurar moléculas orgânicas na atmosfera de outros planetas e estrelas. Essa discussão é um ponto de partida interessante e temos que ver como isso vai ser avaliado ao longo dos próximos 10 anos”, avaliou.

    2) Água na parte iluminada da Lua

    Lua
    Lua
    Foto: Ponciano/Pixabay

    Em outubro, a Nasa comunicou a descoberta de moléculas de água na parte iluminada da Lua —uma novidade, já que a substância mais importante para a vida terrestre só havia sido encontrada na parte escura do satélite.

    A água não foi encontrada em estado líquido, mas conectada a minerais, e em uma quantidade ínfima. “A comparação feita é de que tem mais água no deserto do Saara do que lá, o que é natural, já que estamos na Terra, o melhor lugar do mundo para humanos até onde a gente sabe, até mesmo no Saara”, disse Ogando, do Observatório Nacional.

    Mesmo assim, o achado tem desdobramentos significativos. “Isso modifica o nosso entendimento de como funcionam os processos físicos e químicos na superfície da Lua e, talvez, de outros planetas”, explica Signorini.

    “É interessante para pensar como podem ter sido produzidos os oceanos líquidos no nosso planeta, como podemos prender aquilo sob a superfície. Agora, efetivamente transformar isso em possibilidade de colônia humana por lá, acho que ainda falta um pouco”.

    3) Buracos negros

    Representação artística do buraco negro J2157
    Representação artística do J2157, o buraco negro crescendo mais rapidamente no universo
    Foto: Nasa/JPL-Caltech (2.jul.2020)

    Um observatório de ondas gravitacionais detectou pela primeira vez, em setembro, um buraco negro de tamanho intermediário.

    Todos os que haviam sido encontrados até o momento ou eram pequenos estelares, que podem ter até 10 vezes a massa do nosso Sol, ou supermassivos,  que conseguem chegar a milhões de massas solares. Supõe-se que este tenha sido formado a partir da fusão de dois buracos negros.

    Neste ano, os telescópios do ESO (Observatório Europeu do Sul) também capturaram o momento que uma estrela foi devorada por um buraco negro supermassivo.

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    “Esse é um campo que ainda está começando, o de estudo dos buracos negros. Com a descoberta das ondas gravitacionais no ano passado, abriu-se uma janela nova para o universo que permite a ampliação desse novo campo, que vai crescer muito nos próximos anos”, falou Signorini.

    Uma sinalização dessa importância crescente foi o Nobel de Física deste ano, que premiou três cientistas que fizeram descobertas fundamentais sobre o tema. “O prêmio trouxe atenção para o assunto, embora as descobertas não sejam de agora”, disse Ogando.

    Roger Penrose foi laureado por seu trabalho de demonstração que a teoria geral da relatividade leva a formação de buracos negros. Reinhard Genzel e Andrea Ghez ficaram com a outra metade do prêmio, ao descobrirem que há um objeto supermassivo no centro de nossa galáxia. 

    4) Osiris-Rex e Hayabusa 2

    A nave espacial OSIRIS-REx da NASA
    Foto: Reprodução/ Nasa

    A missão da Nasa Osiris-Rex, lançada em 2016, finalmente chegou ao asteroide Bennu neste ano, onde deve coletar amostras e retornar à Terra. Uma missão semelhante, a Hayabusa 2 da Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa, pousou na Terra agora em dezembro, trazendo amostras do asteroide Ryugu que ainda serão analisadas.

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    O que isso significa, exatamente? Para os astrônomos, muita coisa.  “O material do asteroide é um material pristino da formação do sistema solar”, disse Signorini. “É especial que tenhamos a capacidade pela primeira vez de ir ao espaço recolher esse material. Quando cai um meteoro aqui na Terra e nós o estudamos, ele já passou pela atmosfera, queimou, passou por processos. É importante conseguir estudar esses objetos que estão praticamente do jeito como o sistema solar era quando nasceu”.

    5) Mostras de tecnologia

    SpaceX lança o foguete Falcon 9, que transporta a cápsula Dragon
    SpaceX lança o foguete Falcon 9, que transporta a cápsula Dragon
    Foto: Joel Kowsky/Nasa

    Recentemente, uma sonda chinesa também trouxe à Terra amostras do solo da Lua — é a primeira vez que isso é feito desde 1976.

    Signorini explica que, apesar de interessante, as amostras da Lua não fornecem tanta novidade quanto as que vêm de asteroides. Os planetas e satélites passam por processos de aquecimento que alteram a superfície deles. “Há esse processamento e eles não são mais o que eram originalmente. Os asteroides não têm atividade que modificam a sua composição”.

    No entanto, não é como se as amostras não tivessem valor. “É interessante porque a Lua tem um processo de formação diferente, ela foi formada a partir da colisão de um objeto com a Terra. Mas, no caso da missão da China, não tem tanta novidade científica, porque isso a gente já fez há 50 anos. É muito mais uma demonstração de tecnologia, a China mostrando que pode participar desse tipo de processo”, disse.

    Outra demonstração de tecnologia importante deste ano foram as missões da Nasa a bordo de cápsulas da SpaceX. Foi a primeira missão da agência com uma espaçonave privada e o primeiro voo espacial de astronautas da Nasa que partiu do solo norte-americano em quase uma década. “Isso torna o custo de lançamento mais barato e facilita as missões”, diz Signorini. “Mas são demonstrações de tecnologia, não tem uma grande descoberta científica por trás”.

    Bônus: O evento que não foi – Explosão de Betelgeuse

    Um dos acontecimentos mais esperados pelos astrônomos, profissionais e amadores, neste ano era a explosão de Betelgeuse —uma das estrelas mais brilhantes que conseguimos ver da Terra, que integra a constelação de Órion e é muito maior do que o nosso Sol.

    Ela também está no fim da vida e, após a detecção de uma variação no brilho no fim de 2019, os cientistas acreditaram que estávamos próximos de testemunhar uma supernova —uma explosão superbrilhante que ocorre nos últimos estágios de evolução de uma estrela.

    Caso isso acontecesse, na Terra, o brilho seria maior do que o da Lua cheia e poderia ser visto mesmo de dia, por dias a fio.

    No entanto, não foi dessa vez. “Tinha alguma nuvem de poeira que estava bloqueando parte da luz da estrela”, conta Ogando. “Não foi dessa vez ainda que Betelgeuse se preparou para sua explosão final”.