Injeção contra obesidade: medicamento custa R$ 7 mil nos EUA e ainda não tem preço no Brasil
Ainda não há uma data definida para que o medicamento chegue ao mercado, de acordo com a farmacêutica Novo Nordisk; valor de tabela do nos Estados Unidos é de US$ 1.349, cerca de R$ 7 mil
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no início da semana a primeira injeção contra a obesidade. O medicamento semaglutida, com nome comercial de Wegovy, é indicado para o tratamento de adultos com sobrepeso e obesidade, a partir de uma aplicação semanal. O valor de tabela do Wegovy nos Estados Unidos, onde o medicamento é comercializado e foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), é de US$ 1.349, cerca de R$ 7 mil.
O Novo Nordisk, que é o fabricante nacional, afirma que não há estimativa de preço do Wegovy no país “ainda visto que o mesmo está em definição pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos”.
A farmacêutica produzirá o medicamento em suas plantas industriais fora do Brasil e será importado. Segundo a empresa, a aprovação pela Anvisa é o primeiro passo para o lançamento do medicamento no país.
Consultada pela CNN, a empresa afirmou que ainda não há uma data definida para que o medicamento chegue ao mercado.
“Após a análise de conformidade pela Anvisa, deve-se aguardar a finalização de outros processos, como a definição de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos e mesmo logísticos”, diz a Novo Nordisk.
A CNN consultou o Ministério da Saúde sobre a incorporação do medicamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em nota, o ministério afirmou que a inclusão de novas terapias e tratamentos no SUS é avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que atua sempre que demandada, considerando aspectos como eficácia, acurácia, efetividade e segurança.
“Até o momento, não há solicitações para avaliação de incorporação do medicamento semaglutida 2,4mg (Wegovy). Cabe ressaltar que o SUS oferece assistência integral às pessoas com sobrepeso e obesidade, com atividades preventivas de vigilância alimentar, acompanhamento nutricional, além de assistência clínica e cirúrgica, como cirurgia bariátrica e reparadora para correção do excesso de pele”, disse o ministério.
Tratamento complementar
De acordo com a Anvisa, a semaglutida é indicada como um tratamento complementar a uma dieta hipocalórica e exercício físico aumentado para controle de peso, incluindo perda e manutenção de peso.
O uso recomendado é para indivíduos adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) inicial de: ≥ 30 kg/m2 (obesidade), ou ≥ 27 kg/m2 a < 30 kg/m2 (sobrepeso) na presença de pelo menos uma comorbidade, como por exemplo, disglicemia (pré-diabetes ou diabetes tipo 2), hipertensão, anomalias nos níveis de lipídios no sangue, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
O Wegovy atua na modificação de um receptor específico, GLP-1 (GLP-1 RA), com 94% de semelhança com o hormônio humano GLP-1 que é produzido naturalmente. A molécula induz a perda de peso, reduz a fome, aumenta a sensação de saciedade, contribuindo para que o indivíduo coma menos e, consequentemente, reduza a
ingestão calórica.
O medicamento tem posologia inicial de 0,25mg, uma vez por semana, e deve ser ajustado gradualmente ao longo de um período de 16 semanas, até atingir a dose de manutenção recomendada de 2,4mg uma vez por semana.
Contexto de autorização da Anvisa
A autorização da Anvisa teve como base resultados do programa de ensaios clínicos STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity), onde foi revelado que pacientes que utilizaram a semaglutida (2,4mg) conseguiram uma perda de peso corporal média de 17%, em 68 semanas, contra 2,4% do grupo placebo (que não receberam a susbtância). Os resultados foram publicados no periódico científico JAMA.
Além disso, um em cada três pacientes perdeu 20% de seu peso corporal e 83,5% dos pacientes alcançaram uma redução de 5% ou mais com a utilização do Wegovy, contra 31,1% para placebo.
Outro destaque dos estudos é a melhora dos índices cardiometabólicos, como redução da circunferência abdominal, hemoglobina glicada, triglicérides e pressão arterial.
“Com essa aprovação, entramos oficialmente numa nova era no tratamento da obesidade, com resultados de redução de peso nunca antes vistos”, diz Bruno Halpern, médico endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Estilo de vida
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Paulo Miranda, ressalta que a terapia farmacológica deve ter como base mudanças de hábito de vida e acompanhamento médico endocrinológico e de equipe multidisciplinar.
“O objetivo é que todo o processo de tratamento e controle das comorbidades dos pacientes seja atendida, gerando ganhos de saúde e preservação, com melhoria global do estado geral do paciente e não apenas como a visão numérica de perda de peso ou mesmo estética”, alerta.
Segundo dados da World Obesity Federation, existem 764 milhões de pessoas vivendo com obesidade no mundo. O documento aponta que, até 2030, uma em cada 5 mulheres e um em cada 7 homens terão obesidade, chegando a 1 bilhão de pessoas com obesidade globalmente.
No Brasil, a expectativa é que 29 milhões de mulheres, 21 milhões de homens e 7,7 milhões de crianças tenham obesidade até 2030, representando cerca de 30% da população. Atualmente, estima-se que aproximadamente 100 milhões de pessoas tenham sobrepeso e 41 milhões convivam com a obesidade no país.