Variantes Delta, Lambda e Delta Plus: entenda as diferenças e semelhanças
Desde o início da pandemia de Covid-19, o novo coronavírus passou por diversas mudanças. Entenda como elas podem impactar o cenário epidemiológico da doença
Desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, o SARS-CoV-2, como é conhecido tecnicamente o novo coronavírus, passou por uma série de variações no genoma, que guarda as informações genéticas do vírus.
Segundo os especialistas do campo da virologia, as mutações fazem parte de um processo natural do comportamento viral e acontecem de forma aleatória, sendo difícil prever quando e de que forma o microrganismo poderá evoluir ou levar ao surgimento de uma nova variante.
“Por serem muito simples, os vírus apresentam uma taxa de evolução muito rápida. Com uma grande quantidade de variantes surgindo, há uma maior chance que alguma delas possa ser mais eficiente na capacidade de infecção, provoque uma doença mais grave ou seja capaz de escapar da resposta imunológica da população”, explicou Fernando Motta, virologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Entenda a diferença entre a Delta e a Delta plus
A variante Delta, identificada pela primeira vez na Índia, tornou-se o centro das atenções da comunidade científica global devido à sua alta capacidade de transmissão. A linhagem denominada tecnicamente de B.1.617.2, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma “variante de preocupação”, já foi identificada em 142 países.
A inclusão das cepas nessa classificação considera evidências que incluem o aumento da transmissibilidade, o agravamento da doença, a redução significativa na neutralização por anticorpos produzidos pela infecção ou induzidos pela vacinação, a eficácia reduzida das vacinas ou falhas na detecção pelo diagnóstico.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 1.051 casos confirmados da Delta e 41 óbitos causados pela variante, que está presente em 15 estados e no Distrito Federal.
A variante Delta Plus conta com a mesma estrutura da variante Delta já conhecida. No entanto, a linhagem apresenta uma mutação extra, chamada K417N. Segundo o pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP), a mutação está relacionada a possíveis vantagens do vírus para driblar as defesas do organismo humano.
Segundo um estudo publicado no periódico científico Journal of Autoimmunity, a variante Delta Plus mostrou um número significativo de mutações de alta prevalência (cerca de 20% maior do que a variante Delta). Três mutações na proteína Spike (K417N, V70F e W258L) estavam presentes exclusivamente na variante Delta Plus, segundo o estudo.
Por meio de análises estruturais, os pesquisadores identificaram que essas mutações são capazes de enfraquecer as interações com anticorpos, reduzindo a resposta imunológica.
Variante Lambda
A variante Lambda foi identificada pela primeira vez no Peru em dezembro de 2020. A cepa, nomeada tecnicamente como C37, é classificada pela OMS como uma “variante de interesse”. Segundo os especialistas, casos esporádicos foram identificados no Brasil, mas a variante não apresenta uma circulação sustentada, também chamada de comunitária, que é a dispersão com grande número de registros.
Uma linhagem do SARS-CoV-2 recebe a definição de variante de interesse quando apresenta mutações no material genético com implicações no comportamento do vírus estabelecidas ou suspeitas, como a alta incidência de transmissão em uma localidade, múltiplos casos relacionados à linhagem e a detecção em vários países, por exemplo.
Por isso, elas são monitoradas e podem ser reclassificadas como “variantes de preocupação”.
Maior capacidade de transmissão
Um ponto em comum entre as variantes Delta e Lambda é a maior capacidade de transmissão. Países como o Reino Unido, com prevalência anterior da variante Alfa, e Estados Unidos, que conta um conjunto de variantes de interesse, apresentam atualmente casos predominantemente relacionados à Delta.
Além disso, estudos em laboratório também confirmaram que a variante originária da Índia é mais contagiosa que a cepa original do novo coronavírus. Um estudo conduzido por cientistas da OMS, da Escola de Higiene e Medicina Tropical e do Imperial College, de Londres, destacou a propagação global das variantes.
Segundo os pesquisadores, com base nas estimativas das taxas de transmissão identificadas, a variante Delta deve prevalecer sobre outras e se tornar a linhagem dominante em circulação no mundo.
Em relação à variante Lambda, os primeiros estudos sugerem que ela possui pelo menos duas mutações (T76I e L452Q) que também estão relacionadas a uma maior transmissibilidade.
Impactos sobre a eficácia das vacinas
Os estudos que avaliam o impacto das variantes para a eficácia das vacinas desenvolvidas contra a Covid-19 são contínuos. Os resultados são dinâmicos e podem apresentar variações de acordo com a população e a metodologia utilizadas.
Um relatório semanal da Public Health England afirma que os diversos estudos conduzidos no Reino Unido indicam que uma dose única de qualquer uma das vacinas disponíveis no país apresenta de 55 a 70% de eficácia contra doença sintomática e níveis ainda mais elevados de proteção contra doença grave, incluindo hospitalização e morte. O país conta com os imunizantes da AstraZeneca, Pfizer e Moderna.
Segundo o relatório, a proteção é ainda maior após a segunda dose das vacinas. “Agora também há evidências de uma série de estudos de que as vacinas são eficazes na proteção contra infecções e transmissão”, diz o texto.
Um outro estudo de cientistas do Reino Unido comparou a efetividade das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca diante das variantes Alfa e Delta. Os resultados do estudo publicados no periódico científico New England Journal of Medicine mostram que a efetividade após uma dose da vacina (Pfizer ou AstraZeneca) foi significativamente menor entre as pessoas infectadas com a variante Delta (de até 35%) quando comparada com aqueles que apresentavam a variante Alfa (de até 51%). Após a segunda dose, a efetividade indicou níveis variáveis, superiores a 60%, para as duas vacinas contra as duas variantes.
Em uma outra pesquisa, cientistas mostraram que duas doses de vacinas são eficazes na prevenção de hospitalização e morte. No entanto, os níveis de neutralização dos soros de vacinados são mais baixos contra a variante Delta em comparação com a cepa original.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine testou a neutralização contra a variante Delta de soros de indivíduos que se recuperaram da infecção natural pela Covid-19 e de indivíduos que receberam as duas doses das vacinas da Moderna e Pfizer. Os resultados apontaram uma redução de cerca de 2,9 vezes na capacidade de neutralização, o índice baixo indica que ainda assim os imunizantes conferem proteção.
No que diz respeito à variante Lambda, até o momento, os dados permanecem incertos sobre o nível de proteção das vacinas. Segundo os cientistas, são necessários estudos complementares para responder essa questão.
Um artigo preprint, sem revisão por pares, mostrou com base em experimentos de laboratório que três mutações – chamadas de RSYLTPGD246-253N, 260 L452Q e F490S – encontradas na proteína Spike da variante Lambda podem conferir resistência à imunidade induzida por vacinas.
*Com informações de Jacqueline Howard, da CNN