Vacinas da gripe não cobrem cepa do vírus que está circulando, aponta pesquisa
Principal variante em circulação, a mutação H3N2 do vírus Influenza sofreu modificações que a ajudam a escapar dos anticorpos produzidos na resposta à vacinação
Um dos vírus Influenza da gripe com maior circulação mudou, e as vacinas atuais contra a gripe não o reconhecem mais – uma indicação de que podem não fazer muito para prevenir a infecção, relataram pesquisadores nesta quinta-feira (16). Mas ainda é provável que previnam casos graves da doença.
“De nossos estudos de laboratório, parece uma grande incompatibilidade”, disse Scott Hensley, professor de microbiologia da Universidade da Pensilvânia que liderou o estudo, à CNN.
É uma má notícia para a vacina, disse ele. As vacinas da Influenza protegem contra quatro cepas diferentes da gripe: H3N2, H1N1 e duas cepas da Influenza B.
O estudo do professor Hensley foca apenas na H3N2, mas essa é justamente a principal cepa circulante.
A incompatibilidade da vacina pode ajudar a explicar um surto de gripe na Universidade de Michigan no mês passado, que afetou mais de 700 pessoas.
Mais de 26% dos que tiveram resultado positivo foram vacinados contra a gripe – a mesma porcentagem daqueles com resultado negativo. Isso indica que a vacina não foi eficaz na prevenção da infecção.
É o que os vírus da gripe fazem, disse Hensley. “Temos monitorado esse vírus há vários meses”, disse ele. Os vírus da gripe sofrem mutações o tempo todo – muito mais do que outros vírus, incluindo o coronavírus.
E diferentes variações podem circular ao mesmo tempo. Mas esta versão circulante do H3N2 tem mudanças que o ajudam a escapar dos anticorpos que o corpo produz em resposta às vacinas.
Os anticorpos são a primeira linha de defesa contra invasores como um vírus, e a vacina atual não parece gerar nenhum dos anticorpos corretos contra esta nova versão mutada do H3N2, chamada 2a2 abreviadamente.
Felizmente, é improvável que as mudanças afetem a segunda linha de defesa oferecida pelo sistema imunológico – as células chamadas de células T.
Então mesmo que as vacinas não protejam contra infecções, elas provavelmente protegerão as pessoas contra doenças graves e morte, Hensley disse.
“Os estudos mostraram claramente que as vacinas contra a gripe sazonal evitam de forma consistente hospitalizações e mortes, mesmo em anos onde há grandes incompatibilidades antigênicas”, Hensley e seus colegas escreveram em um relatório publicado online como uma versão pre-print. Ainda não foi publicado em revista científica com revisão por pares.
“As vacinações contra a gripe serão cruciais para reduzir as hospitalizações, pois os vírus SARS-CoV-2 [coronavírus] e 2a2 H3N2 [variante circulante da gripe] circularão juntos nos próximos meses”, disse.
Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos disseram que a gripe praticamente desapareceu no ano passado, mas está voltando este ano.
O grande medo é um “golpe duplo” de gripe e Covid-19.
“A imunidade da população contra os vírus da gripe é provavelmente baixa, uma vez que esses vírus não circularam amplamente durante a pandemia de Covid-19″, escreveu a equipe de Hensley.
“O distanciamento social, o uso de máscaras e a diminuição nas viagens internacionais provavelmente contribuíram para a redução da circulação global dos vírus da gripe. Uma vez que as restrições relacionadas à Covid-19 sejam flexibilizadas ou suspensas, é possível que os vírus da gripe circulem amplamente devido à falta de imunidade na população, que teria sido induzida pela infecção nos últimos dois anos”, complementou.
A eficácia da vacina contra a gripe muda de ano para ano.
Parte do problema é o tempo de espera necessário para fazer as vacinas contra o Influenza. A maioria é feita com tecnologia antiga que requer o uso de ovos de galinha incubados por semanas.
Portanto, as cepas da vacina são escolhidas seis meses antes de quando as vacinas serão entregues.
O vírus pode evoluir nesse período, ou diferentes cepas podem vir a dominar, e isso parece ter acontecido este ano, disse Hensley.
Nos anos em que a vacina não corresponde bem aos vírus circulantes, a eficácia da vacina cai.
As mudanças na variante H3N2 do vírus Influenza neste ano são uma reminiscência das mutações que tornaram a vacina tão fraca em 2014-2015, disse Hensley. Naquela temporada, os índices de eficácia chegaram a apenas 6% em algumas ocasiões.
As coisas ainda podem mudar, observaram os pesquisadores.
“Embora os casos de infecções pelo H3N2 2a2 estejam aumentando rapidamente nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, é possível que outros subtipos de H3N2 se tornem predominantes no futuro”, escreveram eles.
“Também é possível que os vírus H1N1 ou influenza B dominem no final da temporada de 2021-2022”, complementam.
Ainda não está claro o quão bem as vacinas podem corresponder a essas cepas.