Vacina da UFMG mostra proteção contra efeitos da cocaína em gestantes e bebês
Imunizante em desenvolvimento foi capaz de inibir os efeitos da cocaína no cérebro de camundongos durante a gestação e amamentação, com a produção de anticorpos


O uso da cocaína pode provocar efeitos devastadores para gestantes e bebês. A droga reduz o fluxo sanguíneo da placenta e diminui a passagem de nutrientes para o feto. As mães podem apresentar quadros graves de pré-eclâmpsia (hipertensão arterial), além de um risco aumentado de aborto e parto prematuro com complicações. Para as crianças, além dos riscos de malformações congênitas, estão o baixo peso e síndrome de abstinência.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avançam no desenvolvimento de uma vacina que busca minimizar os efeitos da cocaína no organismo de gestantes e bebês. A etapa dos ensaios pré-clínicos, realizados com a participação de animais, mostrou resultados promissores na redução do impacto da droga em camundongos. Os resultados foram publicados no periódico científico Molecular Psychiatry.
Segundo o estudo, a candidata a vacina chamada GNE-KLH foi capaz de inibir os efeitos da cocaína no cérebro dos animais durante a gestação e amamentação, com produção de anticorpos do tipo IgG, que impediram ou reduziram a passagem da droga para o cérebro da mãe e para o feto pela placenta.
Entenda como foram feitos os ensaios
Para chegar ao resultado, os pesquisadores da UFMG realizaram dois experimentos que compararam a indução de anticorpos pelo uso da cocaína e pela aplicação da vacina. Os testes contaram com a participação de 26 animais, divididos em dois grupos. Enquanto metade recebeu a vacina, o restante recebeu placebo, uma substância sem nenhum tipo de efeito para o organismo.
Segundo o estudo, a vacina foi capaz de estimular a produção de anticorpos em quantidades de quatro a seis vezes superiores ao do uso da droga. As fêmeas de camundongo vacinadas durante a gestação apresentaram maior ganho de peso e um número maior de filhotes. Os filhotes das fêmeas imunizadas também nasceram maiores e tiveram um maior crescimento após o término do período de amamentação.
Os resultados dos ensaios pré-clínicos apontam que o leite das fêmeas imunizadas também contém anticorpos IgG anticocaína. Os filhotes das fêmeas vacinadas apresentaram IgG em até sete dias após o encerramento da amamentação. Os animais apresentaram baixos impactos de locomoção e de desinibição causados pela cocaína, o que indica que a proteção dos anticorpos da mãe pode ser estendida aos filhotes, pelo menos por um período.
Os pesquisadores da UFMG atuam no desenvolvimento da vacina contra a cocaína desde 2013. O projeto conta com a participação de especialistas da Faculdade de Medicina, do Instituto de Ciências Exatas e da Faculdade de Farmácia.