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    Uma em cada 10 mulheres sofrerá um aborto, diz pesquisa

    Abortos espontâneos afetam 15% das gestações no mundo, mas suporte é quase inexistente, diz novo estudo que propõe sistema universal de atendimento

    Katie Hunt, da CNN

    Abortos espontâneos são comuns. Cerca de 23 milhões de gestações em todo o mundo terminam em aborto espontâneo a cada ano – isso é 15% do total ou 44 a cada minuto, de acordo com novas estimativas publicadas na revista médica The Lancet nesta segunda-feira (26).

    No entanto, os cuidados e apoio existentes para mulheres e casais são “inconsistentes e mal organizados”, equivalem a pouco mais do que as pacientes sendo instruídas a “apenas tentar novamente”, disseram os autores de três novos estudos sobre as causas, o tratamento e a escala de aborto espontâneo em todo o mundo. 

    Um novo sistema é necessário para garantir que os problema seja mais reconhecido pelos profissionais de saúde e as mulheres recebam o apoio de saúde física e mental de que precisam, disseram os pesquisadores.

    “Muitas mulheres se preocupam com o tratamento antipático que recebem após um aborto espontâneo – algumas não obtêm nenhuma explicação, e o único conselho que lhes é dado é tentar novamente. Isso não é bom o suficiente, devemos garantir que as mulheres sejam devidamente apoiadas”, disse em nota Siobhan Quenby, professora de obstetrícia da Universidade de Warwick, no Reino Unido, uma entre os 31 especialistas que escreveram os três estudos.

    O número real de casos é provável que seja “consideravelmente maior”, já que muitos abortos acontecem em casa e não são notificados ou não são detectados. No entanto, a pesquisa disse que os abortos recorrentes são muito menos comuns, com 2% das mulheres tendo sofrido dois, e menos de 1% das mulheres tendo três ou mais, de acordo com uma revisão da literatura científica publicada.

    Embora as definições de aborto espontâneo variem, geralmente é definido como a perda de uma gravidez antes da viabilidade, disseram os autores.

    Equívocos sobre a perda da gravidez

    O aborto espontâneo é frequentemente mal interpretado por mulheres, homens e profissionais de saúde – e os equívocos persistem. Por exemplo, disseram os autores, as mulheres podem acreditar que é raro, que não há tratamentos eficazes, e que pode ser causado pelo levantamento de objetos pesados ou pelo uso anterior de anticoncepcionais. Esses equívocos muitas vezes impedem as mulheres de procurar ajuda.

    E quando elas procuram, muitas vezes precisam ir a diversas clínicas para descobrir a causa, e raramente há um lugar que possa atender a todas as suas necessidades, de acordo com a pesquisa. As pacientes costumam ser tratadas por vários médicos, que frequentemente dão conselhos conflitantes. Isso pode aumentar a angústia das mulheres enquanto processam a perda.

    Um editorial publicado pela The Lancet junto com a pesquisa disse que por muito tempo o aborto espontâneo foi “minimizado e frequentemente rejeitado”. “A falta de progresso médico deveria ser chocante. Em vez disso, há uma aceitação generalizada”, disse o editorial.

    Recentemente, celebridades como Meghan Markle, esposa do príncipe Harry e Duquesa de Sussex, e a modelo Chrissy Teigen ajudaram a acabar com a antiga cultura de silêncio em torno do aborto espontâneo e da perda de bebês, compartilhando suas próprias histórias.

    “O aborto espontâneo causa devastação para um grande número de casais em todos os países”, disseram os pesquisadores. Dado o sistema fragmentado que existe na maioria dos países, os autores propuseram um novo sistema de atendimento e tratamento de casos de aborto espontâneo que, segundo eles, os governos e os profissionais de saúde deveriam disponibilizar universalmente:

    • Após o primeiro aborto, as mulheres devem ter suas necessidades de saúde física e mental avaliadas e receber orientações para apoiar futuras gestações
    • Se ocorrer um segundo aborto, as mulheres devem receber uma consulta em uma clínica dedicada a abortos espontâneos para hemograma completo e testes de função tireoidiana, bem como uma discussão sobre seus fatores de risco. As que tiveram dois abortos espontâneos e depois engravidaram devem receber apoio extra e fazer exames precoces para garantia.
    • Após três abortos espontâneos, testes e tratamentos adicionais devem ser oferecidos, incluindo teste genético de tecido de gravidez, bem como ultrassom pélvico e, se necessário, teste genético parental

    A coautora do estudo, Chandrika N. Wijeyaratne, professora sênior de medicina reprodutiva da Universidade de Colombo, no Sri Lanka, disse em um comunicado que deve haver um serviço mínimo disponível globalmente para mulheres que tiveram abortos recorrentes

    “Mulheres – e às vezes seus parceiros – que não têm filhos enfrentam discriminação, estigma e ostracismo em muitas culturas em todo o mundo, mas a prevenção do aborto espontâneo continua sendo uma baixa prioridade de saúde pública em muitos países de baixa e média renda”. 

    Fatores de risco 

    A nova pesquisa destacou vários fatores que foram associados a um maior risco de aborto espontâneo. Entre eles, o aumento da idade para homens e mulheres e um índice de massa corporal muito baixo ou alto.

    A etnia também pode desempenhar um papel: os pais pretos são mais propensos a perder a gravidez quando comparados aos casais brancos. Fumar, beber álcool, estresse persistente, turnos noturnos de trabalho e exposição à poluição do ar e a pesticidas também foram associados a um risco maior de aborto espontâneo.

    Embora haja evidências limitadas, alguns tratamentos, incluindo progesterona, um hormônio essencial para uma gravidez saudável, podem ajudar as mulheres que sofrem abortos espontâneos, disse a pesquisa.

    No entanto, são necessárias muito mais pesquisas, incluindo novos ensaios clínicos e centros de pesquisa dedicados com experiência em genética, biologia do desenvolvimento e reprodutiva e ciência de dados.

    “Nem todos os abortos podem ser evitados, mas a implicação insidiosa de que, como outros problemas de saúde reprodutiva das mulheres, incluindo dor menstrual e menopausa, devem ser tratados com intervenção médica mínima é ideológica, não baseada em evidências”, diz o editorial que acompanhou a nova pesquisa.

    Esse novo corpo de pesquisa deve “catalisar um grande foco no aborto espontâneo para a comunidade médica, para os prestadores de serviços e para os formuladores de políticas. A era de dizer às mulheres para ‘apenas tentar novamente’ acabou”, acrescentou o editorial.

    (Texto traduzido. Leia o original, em inglês)

     

     

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