Tratamentos para perda de peso podem reduzir a pressão arterial, mostra estudo
As descobertas sugerem que medicamentos e cirurgia para obesidade podem ajudar no tratamento da hipertensão também
Dois novos estudos mostraram uma redução significativa da pressão arterial em adultos submetidos a certos tratamentos para perda de peso. Um deles mostrou uma diminuição significativa na pressão arterial de pessoas que receberam injeções semanais do medicamento tirzepatida; o outro descobriu que os participantes submetidos à cirurgia bariátrica melhoraram significativamente o controle da pressão após cinco anos, em comparação com aqueles que tomaram apenas medicamentos para hipertensão.
Os dois estudos analisaram diferentes intervenções e resultados, mas juntos fornecem evidências robustas para apoiar o conceito de que o tratamento eficaz da obesidade pode ser a chave para melhorar a saúde geral do coração, disse o Dr. Harlan Krumholz, cardiologista da Universidade de Yale. Embora a relação entre obesidade e condições como hipertensão, diabetes e outras doenças cardíacas esteja bem estabelecida, faltam tratamentos eficazes até agora, disse ele.
“É uma nova era”, disse Krumholz. “Esta não é uma visão nova, mas agora temos as ferramentas – esses medicamentos e cirurgias para obesidade – que podem trazer benefícios profundos.”
O primeiro estudo, publicado segunda-feira na revista “Hypertension” [Hipertensão, em tradução para o português] da AHA (American Heart Association), descobriu que o medicamento tirzepatida – vendido sob as marcas Zepbound para obesidade e Mounjaro para diabetes – reduziu significativamente a pressão arterial de adultos com sobrepeso ou obesidade que fizeram uso dele durante nove meses.
Esse novo estudo faz parte de um ensaio clínico maior que mostrou, anteriormente, que injeções semanais de tirzepatida resultaram na perda de peso de até 22% em adultos com sobrepeso ou obesidade, ajudando a levar a Food and Drug Administration [agência reguladora] dos Estados Unidos a aprovar o medicamento para controle crônico de peso em novembro. A pesquisa foi financiada pelo fabricante do medicamento, a farmacêutica Eli Lilly.
Para avaliar o efeito da tirzepatida na pressão arterial, os investigadores inscreveram 600 adultos do ensaio clínico original que tinham um índice de massa corporal de 27 ou mais, que não tinham diabetes tipo 2 e que tinham pressão arterial normal ou pressão arterial elevada que estava sob controle. Os participantes tiveram sua pressão arterial monitorada um dia antes do início do tratamento e novamente após nove meses de injeções semanais de tirzepatida.
Os resultados mostraram uma diminuição significativa na pressão arterial sistólica dos participantes, o número mais alto nas leituras de pressão arterial, que é um forte preditor de doenças cardíacas.
Os participantes que tomaram 5 miligramas de tirzepatida semanalmente tiveram uma redução média na pressão arterial sistólica de 7,4 mmHg; aqueles que tomaram 10 miligramas tiveram uma redução média de 10,6 mmHg, e aqueles que tomaram 15 miligramas tiveram uma redução média de 8,0 mmHg.
“Uma diferença de oito pontos é realmente um efeito impressionante que rivaliza ou excede muitos dos nossos medicamentos habituais para a pressão arterial”, disse Harlan Krumholz, cardiologista da Universidade de Yale que não esteve envolvido na pesquisa.
O efeito real da tirzepatida na pressão arterial pode ser ainda mais pronunciado, levando em conta que a maioria dos participantes do estudo não tinha pressão arterial elevada, diz Michael E. Hall, presidente do Departamento de Medicina do Centro Médico da Universidade do Mississippi, que não esteve envolvido neste estudo.
A tirzepatida funciona imitando a ação de dois hormônios intestinais diferentes. Quando o açúcar no sangue aumenta depois de comer, a droga estimula o corpo a produzir mais insulina, o que reduz o açúcar no sangue. O medicamento também retarda o movimento dos alimentos no estômago, fazendo com que as pessoas se sintam saciadas por mais tempo. Ele funciona de forma semelhante à semaglutida, o composto ativo do medicamento para perda de peso Wegovy e de seu medicamento irmão para diabetes, Ozempic. Foi demonstrado que Wegovy reduz em 20% o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte relacionada ao coração em pessoas que tiveram doenças cardíacas e obesidade ou sobrepeso em um estudo publicado no ano passado.
Em relação ao novo estudo, não está claro se a redução significativa da pressão arterial aconteceu devido à perda de peso dos participantes no estudo maior ou ao uso da medicação. O estudo também não levou em conta a alimentação dos participantes, o que poderia desempenhar um papel nos resultados.
Estudos adicionais serão necessários para determinar o efeito da tirzepatida em condições cardiovasculares diretas, como ataque cardíaco e insuficiência cardíaca, e para avaliar se as alterações na pressão arterial são revertidas depois que as pessoas param de tomar o medicamento, disse Hall, que também presidiu o grupo de redação da declaração científica da American Heart Association de 2021 sobre perda de peso e hipertensão, em comunicado à imprensa.
“No geral, esses dados encorajam que novos medicamentos para perda de peso são eficazes na redução do peso corporal e também na melhoria de muitas das complicações cardiometabólicas da obesidade, incluindo hipertensão, diabetes tipo 2 e dislipidemia, entre outras”, disse ele.
A cirurgia para perda de peso também traz benefícios para a pressão arterial, mostra estudo
O segundo estudo, publicado segunda-feira no Journal of the American College of Cardiology, descobriu que adultos com pressão alta e obesidade submetidos à cirurgia bariátrica tinham índice de massa corporal mais baixo e tomavam menos remédios para pressão arterial após cinco anos do que aqueles que usavam apenas os medicamentos.
O primeiro estudo desse tipo designou aleatoriamente 100 adultos com obesidade e pressão alta para um regime de tratamento de cirurgia bariátrica e medicamentos para pressão arterial, ou apenas medicamentos para hipertensão. Após cinco anos, o índice de massa corporal médio daqueles que fizeram cirurgia bariátrica era de 28, enquanto as pessoas que receberam apenas medicamentos para hipertensão tinham um índice de massa corporal médio de 36.
Mais de 80% daqueles que fizeram cirurgia bariátrica conseguiram reduzir o número de medicamentos para pressão arterial que tomavam, em comparação com 14% daqueles que tomavam apenas medicamentos. Além disso, quase 50% dos que foram submetidos à cirurgia bariátrica alcançaram a remissão da hipertensão, definida como pressão arterial controlada sem medicação.
“Isso mostra um enorme efeito na capacidade de reduzir os medicamentos para pressão arterial e um enorme efeito na possibilidade de as pessoas abandonarem os medicamentos para hipertensão. É muito impressionante”, diz David Maron, diretor de cardiologia preventiva da Universidade de Stanford, que não esteve envolvido no estudo.
As descobertas podem não ser generalizáveis para uma população mais ampla, já que o estudo foi realizado em um único local com um pequeno número de participantes, mas os resultados são entusiasmantes, na opinião de Maron. Ele acrescentou que, embora a cirurgia bariátrica seja conhecida por ser muito eficaz no tratamento da obesidade e do diabetes, muitas pessoas não estão cientes dos seus benefícios e hesitam em se submeter a um tratamento tão invasivo.
No futuro, as pessoas com obesidade que gostariam de controlar a sua pressão arterial provavelmente terão uma escolha entre a cirurgia bariátrica e medicamentos como a tirzepatida, diz Hall, dependendo das características e preferências da sua doença.
A ligação entre pressão alta e obesidade
Mais de 47% dos adultos nos Estados Unidos têm hipertensão, definida como pressão arterial acima de 140/90 mmHg, e quase 42% dos adultos têm obesidade, de acordo com as estatísticas de doenças cardíacas e derrames de 2024 da AHA. Estas doenças estão intimamente ligadas, uma vez que a obesidade é a principal causa da hipertensão; cerca de 75% da hipertensão pode ser atribuída à obesidade, segundo a AHA. A hipertensão arterial também é um importante fator de risco para doenças cardíacas, como doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral.
“Ao tratar uma doença, como a obesidade, podemos potencialmente mitigar centenas de outras condições relacionadas a ela, incluindo a hipertensão”, escreveu por e-mail Ania Jastreboff, diretora do Centro de Pesquisa de Obesidade de Yale, que ajudou a conduzir o estudo maior de perda de peso.
Embora existam medicamentos disponíveis e eficazes para a pressão arterial, apenas cerca de um quarto das pessoas com hipertensão têm a pressão arterial controlada adequadamente, diz Hall. Muitas vezes, isso acontece porque as pessoas não tomam seus medicamentos. Encontrar uma maneira de simplificar e combinar o tratamento para essas doenças tornaria a vida muito mais fácil para pacientes e médicos, acrescenta o especialista.
Krumholz diz que, embora grande parte do entusiasmo em torno da tirzepatida se concentre nos seus efeitos de perda de peso, os verdadeiros benefícios para a saúde estão a jusante: perda de peso que leva à redução da pressão arterial e ao aumento da capacidade de exercício, levando à melhoria da saúde cardíaca. Ele vê o efeito da droga na perda de peso como um efeito colateral agradável que aumentará a probabilidade de as pessoas tomarem a medicação.
Antes do desenvolvimento da tirzepatida e de medicamentos semelhantes para obesidade, as modificações no estilo de vida eram a principal forma de tratar a condição, diz Krumholz. Apesar de também serem benéficos, uma dieta saudável e mais exercício, muitas vezes, não são suficientes para combater a obesidade e a tendência evolutiva do nosso corpo para tentar recuperar o peso.
“Os pacientes acabariam se sentindo mal consigo mesmos, frustrados e culpados”, afirma. “Essas [drogas] representam quase um milagre. [As pessoas] agora podem tomar um medicamento que não só as ajuda a perder peso, mas também pode melhorar a sua saúde.”
No entanto, o custo destes novos medicamentos para perda de peso e a cobertura insuficiente do seguro de saúde impedem que muitas pessoas elegíveis tenham acesso a eles, opina Krumholz. Ele alerta que, a menos que essas barreiras sejam abordadas, os novos tratamentos poderão, em vez disso, contribuir para o agravamento das disparidades de saúde nos Estados Unidos.