Transplante de fezes é eficaz no tratamento de infecção intestinal grave, diz estudo
Análises de pesquisadores da UFMG revelaram que as fezes dos brasileiros podem ser usadas no tratamento da infecção por Clostridioides difficile, que pode causar diarreia e inflamação
Amostras de fezes de brasileiros saudáveis apresentam cerca de 30% mais bactérias firmicutes, que fazem parte da microbiota intestinal, em comparação com as de indivíduos norte-americanos também sadios. Os resultados preliminares são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a companhia de biotecnologia norte-americana Rebiotix Inc.
O filo de bactérias firmicutes atua em harmonia no organismo dos indivíduos. A pesquisa aponta um potencial protetor contra infecções intestinais graves causadas pela bactéria Clostridioides difficile, que pode causar diarreia e inflamação do cólon, e contra agravos como a retocolite e a doença de Crohn, que afetam o trato gastrointestinal.
O estudo, que analisou amostras fecais de 49 brasileiros e 17 norte-americanos, é o primeiro do tipo no Brasil e utilizou a técnica de sequenciamento para avaliar o DNA da microbiota intestinal. As análises revelaram que as fezes dos brasileiros podem ser usadas no tratamento da infecção por Clostridioides difficile, que é um problema de saúde pública.
“Os resultados preliminares mostram que as fezes dos brasileiros têm um caráter protetor maior, em razão de maior proporção do filo firmicutes, o que vai ao encontro dos resultados obtidos pelo Centro de Transplante de Microbiota Fecal do HC nos últimos anos”, afirma o gastroenterologista e professor Eduardo Vilela, coordenador do centro de transplante.
A pesquisa faz parte de uma modalidade terapêutica instituída em 2017 por pesquisadores do Centro de Transplante de Microbiota Fecal do Hospital das Clínicas da UFMG, o único do país, que consiste no transplante de fezes entre pessoas saudáveis e doentes para o tratamento da infecção recorrente pelo Clostridioides difficile e para o restabelecimento da microbiota.
Até o momento, 11 transplantes já foram realizados, e a taxa de cura é superior a 90%, segundo os pesquisadores. Uma das vantagens é a recuperação rápida dos pacientes submetidos ao procedimento. Segundo a UFMG, o biobanco de fezes do hospital é respaldado pelas orientações dos órgãos internacionais e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como é feito o transplante
Para o transplante de fezes, as amostras fecais são preparadas e processadas por equipe formada por médicos e biomédicos do Hospital das Clínicas. O material fica armazenado em um ultrafreezer à temperatura de -80°C, o que garante sua viabilidade em longo prazo.
O tratamento funciona com base na infusão de uma solução composta por esse substrato fecal por meio de colonoscopia convencional.
Para que novos transplantes sejam realizados em maior escala, o Hospital das Clínicas da UFMG recruta homens e mulheres, entre 18 e 50 anos, que desejem doar suas fezes.
Os voluntários passarão por entrevista por telefone e exame físico e laboratorial para excluir qualquer agente infeccioso. Interessados podem entrar em contato pelo endereço de e-mail transplantedefezeshcufmg@gmail.com