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    Terapia de “conversão” de pessoas LGBTQ é prejudicial e cara à sociedade, diz estudo

    Pesquisa mostra que gastos com esse tipo de terapia são maiores e ineficientes em comparação a outras formas de apoio

    Jen Christensenda CNN

    A chamada terapia de “conversão” causa sérios danos emocionais às pessoas LGBTQ e pode até ser mortal, mas além disso traz também um alto custo financeiro para os indivíduos e para a sociedade como um todo, de acordo com um novo estudo.

    A pesquisa, publicada na segunda-feira (7) na revista médica JAMA Pediatrics, analisou 28 estudos anteriores sobre terapia de conversão, que tenta converter em heterossexuais ou cisgêneros as pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer ou aquelas que estão questionando.

    A prática, também conhecida como esforços reparadores ou de mudança de orientação sexual, foi desacreditada por todas as principais associações profissionais que lidam com saúde mental. De acordo com a Associação Médica Americana, a suposição de que a orientação sexual ou identidade de gênero de alguém pode ser alterada não se baseia em evidências médicas ou científicas. Na verdade, a prática pode levar a sérios danos.

    A terapia de conversão é proibida em pelo menos 20 estados americanos e várias cidades do país, mas projetos de lei foram apresentados para preservar a prática ou mesmo para revogar as proibições.

    Terapia afirmativa economizaria bilhões de dólares, diz estudo

    O estudo mostrou que as pessoas que se submeteram à terapia de conversão tiveram sérios problemas psicológicos, taxas significativamente mais altas de depressão, problemas com uso de substâncias e tentaram mais o suicídio.

    Ao longo da vida, o custo estimado dessa terapia é de quase US$ 100 mil por pessoa, descobriram os pesquisadores. Quando comparada com nenhuma intervenção, a terapia afirmativa – psicoterapia que valida a expressão positiva da identidade sexual e de gênero – gerou economia de custos de mais de US$ 40 mil por pessoa, estimou o estudo.

    Os custos diretos incluem o tratamento, resultados de saúde e mortalidade; os custos indiretos incluem a perda de produtividade, disse o estudo.

    Segundo os pesquisadores, mais de meio milhão de jovens LGBTQ nos Estados Unidos correram o risco de passar por terapia de conversão em 2021, com base nas taxas relatadas de terapia. Os custos totais da terapia de conversão foram estimados em mais de US$ 650 milhões por ano, e os danos relacionados a esse encargo econômico foram estimados em US$ 8,58 bilhões – para um encargo total de US$ 9,23 bilhões.

    Se os jovens LGBTQ recebessem terapia afirmativa, a economia estimada seria de US$ 1,81 bilhão sem intervenção, e de quase US$ 6,19 bilhões em terapia de conversão, ao longo de suas vidas.

    “Cabe aos formuladores de políticas agir para proteger os jovens – e interromper todo o financiamento – dessa prática inaceitável”, escreveram os pesquisadores. “Da mesma forma, aumentar o acesso à terapia afirmativa pode promover a saúde, capacitando os jovens LGBTQ com habilidades e estratégias para combater o estresse das minorias”.

    Pesquisadores da Cytel realizaram a análise, que foi financiada pelo The Trevor Project, uma organização sem fins lucrativos de prevenção ao suicídio e intervenção em crises que apoia jovens LGBTQ. Alguns dos autores do estudo receberam doações do The Trevor Project, e sua organização tem feito consultoria paga ao The Trevor Project.

    Em um editorial que acompanha o estudo, a pesquisadora Johanna Olson-Kennedy, da Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia e do Hospital Infantil de Los Angeles, escreveu que “o que continua incomodando é a necessidade de um estudo que descreva o ônus financeiro de tal rigidez, porque o custo humano simplesmente não é suficiente para erradicar a prática perigosa de forçar os indivíduos a se conformarem com a expectativa normativa heterossexual e cisgênero”.

    Como este estudo identifica um custo substancial, conclui o editorial, “talvez a humanidade possa redirecionar seus esforços reparadores para desmantelar o estrangulamento normativo hétero e cisgênero prejudicial que continua a asfixiar a evolução social”.

    A pesquisa tem algumas limitações. O modelo contabiliza apenas custos e resultados por três anos após a pessoa ter passado pela terapia, e os danos e custos podem persistir por muito mais tempo, sugerindo que essa prática está custando muito mais.

    ‘Outra parte da imagem’

    Mike Parent, diretor do Laboratório de Gênero, Sexualidade e Saúde Comportamental da Universidade do Texas em Austin, disse que esta pesquisa é importante.

    “Acho que já dissemos há muito tempo que os esforços da terapia de conversão são prejudiciais, além de serem em vão. Mas o estudo está fazendo um tipo diferente de pergunta e mostra que isso não é apenas prejudicial para o indivíduo, mas que também custa dinheiro à sociedade”, disse Parent, que não esteve envolvido no estudo.

    Parent acha lamentável que algumas pessoas possam se importar apenas com as consequências financeiras desse problema, principalmente quando a prática é tão prejudicial ao bem-estar mental e físico de uma pessoa – a taxa de suicídio por si só é “astronomicamente alta” – mas ele disse que é uma pergunta legítima para tentar entender.

    “É outra parte da imagem de como isso é prejudicial, não apenas para a pessoa, mas para a sociedade como um todo”, disse Parent.

    Os últimos cinco anos trouxeram várias proibições à prática, mas um punhado de projetos de terapia pró-conversão foram apresentados, muitos deles focados em crianças trans, disse Alex Petrovnia, fundador do Trans Formation Project, um projeto do Step Up for Trans Kids que rastreia a legislação anti-trans.

    Petrovnia disse que há dois projetos de lei que permitiriam explicitamente a prática no Tennessee. Há uma medida de “liberdade religiosa” em Kentucky que estabeleceria uma permissão específica. E Petrovnia disse que “cada uma das proibições médicas anti-trans que vimos tem uma cláusula explícita que permite especificamente terapias de conversão intersexo”.

    Sean Cahill, diretor de pesquisa de políticas de saúde do Fenway Institute, uma associação de saúde que defende e oferece assistência médica e pesquisa focada em pessoas LGBTQIA+ em Boston, disse que este estudo contribui para o crescente corpo de evidências de que a terapia de conversão prejudica todos que entram em contato com ele.

    “Acho que muitas vezes os pais não estão tentando machucar seus filhos, ou pensam que estão tentando ajudá-los”, disse Cahill, que não participou da pesquisa. “Acho que é muito importante que os pais saibam que, se eles fizerem terapia de conversão para seus filhos, eles terão maiores chances de sofrer sérios problemas psicológicos, depressão, uso de substâncias e suicídio. Eu acho que muitos pais não ficariam felizes em aprender isso”.

    Cahill espera que as pessoas tomem nota desta pesquisa e entendam suas implicações.

    “Acho que é uma análise realmente convincente que esperamos que profissionais de saúde pública e prestadores de serviços de saúde, profissionais de saúde pública e formuladores de políticas prestem atenção e pensem: quais são as implicações políticas para isso? E quais são as aplicações de saúde?”.

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