Sobe para 114 o número de mortos por coronavírus no Brasil; casos somam 3,9 mil
90% das vítimas fatais têm mais de 60 anos; ministério divulgou 111 mortos e depois corrigiu número para 114
Subiu para 114 o número de mortes em decorrência da pandemia de coronavírus no Brasil, informou neste sábado (28) o Ministério da Saúde. O número de confirmados já chega a 3.904.
Nas últimas 24 horas encerradas às 15h, 487 novos casos foram confirmados, alta de 14% de em relação ao dia anterior.
No início, o ministério chegou a divulgar 111 mortes, mas depois corrigiu para 114. Ontem, eram três mortos no Ceará. Hoje, a tabela do Ceará tinha apenas um morto em vez de quatro, por isso a divergência.
Das vítimas fatais, 90% são idosos e 84% apresentavam pelo menos um fator de risco, segundo o ministério.
Em entrevista coletiva para divulgar os novos dados, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o país está enfrentando dificuldades para comprar equipamentos de proteção individual (EPIs) e defendeu uma regulamentação desse mercado, bem como as medidas de isolamento social.
“É mais uma razão para que a gente fique em casa parado até que a gente consiga colocar os EPIs nas mãos dos profissionais da saúde”, afirmou, emendando que “se todo mundo sair para a rua” e contrair o vírus faltarão equipamentos para atender pacientes de todas as classes sociais.
Na coletiva, o ministro também disse que “não existe quarentena vertical, nem horizontal” no país. “O lockdown [fechamento total] pode acontecer em algum momento em algumas cidades, o que não existe um lockdown em todo o território brasileiro”, afirmou.
Nesta semana, ocorreram em algumas capitais careatas pelo fim do das medidas de isolamento social. O ministro disse que esses eventos não são recomendados e que pessoas que participam deles hoje podem precisar do sistema de saúde amanhã.
Mandetta explicou que a epidemia do novo coronavírus “é totalmente diferente da de H1N1” e destacou que naquela ocasião havia um medicamento que todo mundo tinha à mão. O ministro alertou que quem “raciocinar pensando nessa [H1N1] que foi assim vai errar feio”, afirmou.
“A conta [que deve ser feita] é: esse vírus ataca o sistema de saúde e ataca a sociedade como um todo, ataca logística, educação, economia. Uma série de setores do mundo”, disse o ministro. “Vamos ter que estudar muito esse vírus, esse inimigo no nosso meio [da saúde].”
O ministro informou que até segunda-feira entrará em contato com as secretarias estatuais e municipais de Saúde para confirmar o número exato de leitos de UTI disponíveis no Sistema Único de Saúde e na rede privada. E afirmou que estados que não repassarem informações poderão responder administrativamente.
“Não vamos tocar isso cada um olhando para o seu umbigo. O Brasil é uma nave só. Vamos ter que usar inteligência, pouca ação de reflexo.”
Mandetta afirmou ainda que o governo trabalha para construir um consenso com estados para garantir a logística de abastecimento de mercadorias e alimentos nas regiões mais carentes do país durante o período de distanciamento social.
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Cloroquina é só “pista”
O ministro alertou para os riscos do uso indiscriminado do medicamento cloroquina, citado pelo presidente Jair Bolsonaro como possível tratamento para a COVID-19. Mandetta disse que por enquanto, só há “pistas” de que o remédio, usado por pacientes reumáticos e de doenças autoimunes, pode ser eficaz contra o coronavírus.
“Esse medicamento, se tomado [por pacientes com sintomas de gripe], pode dar arritmia cardíaca e paralisar a função do fígado, então se sairmos com a caixa na mão e falar ‘pode tomar’, nós podemos ter mais mortes por mau uso de medicamento do que pela própria virose, então não façam isso.”
Mandetta frisou que a pandemia afeta o mundo todo e que seus efeitos serão duros e sentidos em todas as partes. “Não é um problema localizado”, disse. “Rezo todo dia para aqueles que falam que não vai ser nada estejam corretos”. Bolsonaro repetiu diversas vezes nas últimas semanas que, para pessoas fora do grupo de risco, o coronavírus não provoca mais do que “uma gripezinha”.
Mandetta fica no ministério
Sobre especulações de que poderia deixar o comando das atividades de enfrentamento à pandemia, o ministro afirmou: “Vou ficar aqui, junto com vocês, enquanto o presidente permitir e eu tiver saúde”.
Mandetta disse ainda que o ministério foi equipado com um “quartinho” para que ele continue trabalhando caso tenha que ficar em quarentena sem necessidade de hospitalização.
“Vamos começar com essa equipe e terminar com essa equipe agregando gente todo dia”, afirmou. “Vamos trabalhar para poupar a vida de todo mundo, sabemos que vamos ter dias duros.”
No fim da sexta-feira, o número de casos de coronavírus confirmados no Brasil era de 3.147, o que representava um aumento de 17,22% em relação ao dia anterior. Já as mortes somavam 92, alta de 19,4% sobre as 77 registradas na quinta-feira.
O primeiro caso confirmado da COVID-19 no país no dia 26 de fevereiro. O Ministério da Saúde afirma estar distribuindo 22,9 milhões de testes (comprados e doados) para diagnosticar a doença e já ter liberado R$ 1 bilhão aos estados e municípios para o fortalecimento de ações no combate ao vírus.
Mandetta destacou que a COVID-19 chegou ao Brasil pela elite econômica do país e ainda não se espalhou para todas as periferias, e que este é o momento certo para frear a contaminação pelo vírus.
“O tempo que a gente tem pra preparar o melhor possivel é agora. Agora minuto vale hora”.