Saúde deveria fazer campanha incentivando 2ª dose da vacina, diz epidemiologista
Para Carla Domingues, municípios deveriam fazer cadastro para evitar que se aplique doses diferentes de imunizantes
Quem já recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 precisa tomar a segunda mesmo que com atraso, alertou a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em entrevista à CNN nesta sexta-feira (30).
De acordo com Carla, deveria haver uma campanha governamental para que a população se conscientize da importância de receber as duas doses do imunizante contra o novo coronavírus.
“O importante nesse momento é respeitar os prazos para a segunda dose. A orientação é que, mesmo com atraso, assim que houver a regularização do fornecimento das doses, as pessoas compareçam para receber a vacina, porque, sem ela, não estarão protegidas. Precisa dessa segunda dose para a proteção esperada”, afirmou a especialista.
Levantamento do Ministério da Saúde aponta que, até o dia 13 de abril, 1,5 milhão de brasileiros não haviam tomado a segunda dose da vacina contra a Covid-19 no prazo estabelecido pelos laboratórios.
O intervalo entre as duas doses da vacina da AstraZeneca é de 84 dias e de 28 para a Coronavac. De acordo com a pasta, as pessoas não compareceram às unidades de saúde dentro do período para garantir a imunização completa, embora houvesse imunizante à disposição.
Para a epidemiologista, o número de pessoas que não retornou para receber o imunizante poderia ser diminuído caso houvesse uma campanha específica do governo.
“Está faltando uma comunicação forte para esclarecer que elas precisam tomar a segunda dose da vacina. Seria importante que o governo federal fizesse um chamado para que as pessoas voltem ao posto de saúde e recebam a segunda dose.”
Prazo para vacinação
Na última segunda-feira (26), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que alguns estados têm enfrentado dificuldade na aplicação da segunda dose da vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan.
Nesta sexta-feira, em entrevista à CNN, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, afirmou que a previsão para os próximos 90 dias é de que o país continue enfrentando “muita dificuldade” em seu processo de vacinação contra a Covid-19.
Para Carla, ainda é cedo para dizer quando a população brasileira estará vacinada. “Vamos ter que acompanhar se não vai continuar tendo atraso no cronograma de entregas dos laboratórios. Enquanto não tiver uma entrega suficiente para os municípios, é precoce dizer se teremos ou não a população vacinada até o final do ano”, afirmou.
Troca de vacinas
A epidemiologista comentou também o fato de milhares de pessoas receberem doses diferentes das vacinas Coronavac e Oxford/Astrazeneca na primeira e segunda dose, e cobrou dos municípios um pré-cadastro.
Conforme confirmou à CNN o Ministério da Saúde, 16.481 pessoas receberam a primeira e segunda doses da vacina contra a Covid-19 de fabricantes diferentes no Brasil.
“Se os municípios tivessem organizado um pré-cadastro, muitos desses erros não aconteceriam. Não há cuidado em olhar a caderneta de vacinação, identificar qual a pessoa tomou e só assim aplicar a segunda dose. É fundamental que os municípios registrem essas pessoas para que, se a pessoa perder a caderneta, ela possa tomar a vacina correta”.
(*supervisionados por Elis Franco)