Presidente do CFM critica uso de máscaras em documento para a Anvisa
As declarações feitas por José Hiran da Silva Gallo não estão de acordo com o que já afirmaram diversos especialistas à CNN ao longo da pandemia
O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, criticou as medidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que determinam a obrigatoriedade do uso de máscaras e disse que a medida “jamais pode ser impostas a pessoas que não compartilham de tais ideologias ou comportamentos”.
As declarações foram feitas em um documento destinado ao presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, que data da segunda-feira (13). No documento, Gallo aponta estudos e publicações que supostamente demonstram a ineficácia do uso de máscaras como forma de prevenir a disseminação da Covid-19.
No início, ele diz que seria um dever do CFM “avaliar o saber científico disponível acerca do impacto da adoção de políticas públicas de saúde recomendando ou obrigando a população a usar máscaras faciais como estratégia de contenção da pandemia da Covid-19”. E diz que a medida é “um tema ainda controverso”.
Gallo listou os trabalhos que favoráveis e desfavoráveis ao uso da máscara de forma disseminada e conclui que: “não há evidência científica de que o uso de máscaras de forma banalizada e disseminada na comunidade tenha algum impacto sobre a transmissão de Covid-19 ou mesmo redução de adoecimento.”
Ele também cita supostas evidências de agravo à saúde e ao meio ambiente por conta do uso de máscaras, como a escassez do produto para aqueles que mais necessitam, como profissionais da saúde, e o problema ambiental gerado pelo descarte das máscaras.
Ele também ressalta que não existe mais estados de emergência sanitária por conta da Covid-19 no planeta desde meados de 2022.
O presidente do órgão ainda acrescentou: “O uso de máscaras como sinalização de virtude ou como medida de sensação de pertencimento social jamais podem ser impostas a pessoas que não compartilham de tais ideologias ou comportamentos, em especial na ausência de evidência científica ou mesmo eventual prejuízo à saúde do paciente, como é no caso em tela.”
As declarações feitas por José Hiran da Silva Gallo vão na contramão do que já afirmaram diversos especialistas à CNN ao longo da pandemia.
Diversos médicos e cientistas deixaram claro, reiteradas vezes desde o início da crise causada pela Covid-19, a importância do uso de máscaras para conter a disseminação da doença, junto à vacinação para diminuir o risco da contaminação.
O uso de máscaras também é recomendado como estratégia para suprimir a transmissão do vírus pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, os especialistas já reafirmaram que o uso de máscaras não atrapalha a respiração nem apresenta riscos para a saúde.
Resposta da Anvisa
A Anvisa declarou, nesta terça-feira (14), que suas decisões são baseadas nas melhores evidências científicas, alinhadas a órgãos como o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
“A Anvisa, no âmbito das suas competências legais, pauta as suas decisões nas melhores evidências científicas, alinhadas a organismos nacionais e internacionais de referência como o Ministério da Saúde, OMS e Opas”, disse a agência em nota.
“Não devemos esquecer que ainda há circulação viral, com o potencial para o aparecimento de variantes de preocupação. A Agência acompanha os resultados do monitoramento epidemiológico da Covid-19, associada ao momento do país, no qual há maior circulação de pessoas e aglomerações em condições diversas, em virtude do período do carnaval”, continuou o órgão.
Ainda ressalta que “no transporte aéreo, há diferentes grupos de pessoas, inclusive as mais vulneráveis como grávidas, idosos, crianças, pessoas viajando para tratamentos de saúde, imunodebilitados, em contato próximo e em um ambiente fechado.”
Por fim, a agência expõe “que o uso correto da máscara é um ato de proteção individual e coletiva! Na mesma direção, as vacinas Covid-19 são seguras e protegem contra as hospitalizações e mortes.”