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    Posso pegar Covid-19 depois das duas doses da vacina? Por que alguns morrem?

    Vacina contra Covid-19 não garante imunização total, mas diminui drasticamente internações e mortes. Veja as principais dúvidas respondidas por especialistas

    Camila Neumam, da CNN, em São Paulo

    O governador de São Paulo João Doria (PSDB) confirmou, nesta quinta-feira (15), que testou positivo para Covid-19 pela segunda vez. O governador também teve o diagnóstico confirmado para a doença no dia 12 de agosto de 2020. Doria foi vacinado contra a Covid-19 no dia 7 de maio, com a primeira dose da Coronavac. No dia 4 de junho, recebeu a segunda dose do imunizante.

    “Estou me sentindo muito bem, disposto e tenho convicção que estou sendo protegido contra o agravamento da doença pela vacina do Butantan, a qual já tomei as duas doses. Eu, como milhões de pessoas, fui protegido graças à vacina”, afirmou o governador em uma rede social.

    Casos de pessoas que contraíram o coronavírus mesmo vacinadas contra a Covid-19 têm causado dúvidas acerca da eficiência das vacinas disponíveis. Afinal, estarei protegido contra a doença se tomar a vacina? Como explicar o caso de pessoas que foram internadas ou morreram mesmo após serem imunizadas?

    Para entender essas e outras questões, é preciso saber, em primeiro lugar, que é possível contrair o coronavírus mesmo tendo tomado a vacina contra a Covid-19. Isso porque nenhum imunizante disponível no mundo atualmente tem eficácia de 100% contra o vírus Sars-CoV-2, o que significa que algumas pessoas podem ser infectadas mesmo depois de tomar as duas doses, afirma Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

    No entanto, grande parte das vacinas disponíveis previne casos graves e óbito por Covid-19, desde que tomadas as duas doses e que haja tempo para o organismo desenvolver a imunidade necessária. Não dá para esperar eficácia semelhante ao divulgado nas pesquisas com apenas uma dose ou antes do tempo sugerido pelos pesquisadores, explica o infectologista Rodrigo Mollina, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

    Um exemplo disso foi o experimento realizado pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana (SP), onde quase 98% da população foi vacinada com a Coronavac. Do total de 27.150 voluntários imunizados com as duas doses da vacina, um morreu em decorrência do novo coronavírus. Isso indicou um índice de mortalidade pela pandemia em vacinados de 0,004%. Estudos mais recentes mostram ainda que pessoas vacinadas contra Covid-19 apresentam casos leves da doença e um risco extremamente baixo de contrair a Covid-19.

    Entenda outras questões:

    1. É possível ter Covid-19 mesmo após tomar a segunda dose da vacina?

    Sim. Estudos mostram que a proteção contra o coronavírus acontece somente entre duas e quatro semanas depois da aplicação da segunda dose. Por isso, quem tomou a primeira dose ainda não está imunizado e pode contrair o vírus. E se recebeu a segunda dose, o efeito da vacina será pleno apenas após um mês – mesmo assim não totalmente, porque nenhuma vacina é 100% eficaz contra o coronavírus.

    Nesse cenário, pode parecer que a vacina não faz efeito, mas o fato é que não houve tempo para o organismo desenvolver a imunidade esperada para evitar a doença. Se levarmos em conta que a grande maioria da população vacinada no Brasil ainda não tomou a segunda dose, isso significa que essa população continua desprotegida contra a Covid-19, ou seja, pode pegar o vírus, desenvolver a doença, e inclusive, transmiti-la para outras pessoas.

    2. Se eu tomei a vacina, estou imune contra o coronavírus? 

    Ninguém fica imunizado com apenas uma dose da vacina, e algumas pessoas nem com as duas doses, porque os imunizantes disponíveis no mercado não são 100% eficazes. Mas o que se sabe é que, em ambas as vacinas disponíveis no Brasil, a garantia de eficácia conforme dita nos estudos só ocorre de duas a quatro semanas após a segunda dose.

    Mesmo quem tomou a vacina Oxford-AstraZeneca, que conferiu eficácia de mais de 70% na primeira dose, precisa receber a segunda dose para garantir uma imunidade mais duradoura contra o coronavírus, conforme descrito na bula da vacina. O prazo entre as doses da vacina da AstraZeneca é de 12 semanas.

    No caso da Coronavac, mesmo com uma espera menor entre as doses – de 14 a 28 dias -, ainda assim é preciso levar em conta que a imunização deverá ocorrer somente depois de duas ou quatro semanas. E que, como a eficácia comprovada é de 50,7%, uma pessoa vacinada ainda tem 49,3% de chance de contrair o vírus.

    Ainda segundo o estudo da Coronavac, quatro semanas após receber a segunda dose, no entanto, a eficácia para casos graves da doença sobe para 100%. Isso quer dizer que um mês após tomar a segunda dose da vacina, a chance de ter a forma grave da doença, de ser internado ou morrer, praticamente deixa de existir.

    3. Com a vacina, estou imune às variantes?

    As vacinas que temos atualmente no Brasil têm mostrado proteção contra as variantes que já surgiram, mas não se sabe a duração dessa proteção. Isso porque podem surgir variantes resistentes à imunidade que as vacinas vão gerar.

    Como o vírus ainda está se disseminando sem controle em várias partes do mundo, podem surgir outras variantes que não terão cobertura das vacinas. O que a Ciência já sabe é que o vírus precisa parar de circular para as variantes pararem de surgir. É por isso que a recomendação de manter distanciamento social e o uso de máscara se mantém mesmo para quem já tomou as duas doses da vacina.

    4. Se eu peguei Covid, devo tomar a vacina? 

    Sim.  Todo mundo que teve Covid-19 tem que se vacinar. A imunização não impede uma reinfecção. Mas o ideal é esperar quatro semanas após a infecção para tomar a vacina. Isso porque se a pessoa ainda estiver se recuperando da Covid-19, tomar o imunizante, e sentir alguma coisa, não se saberá se foi por causa da vacina ou da doença, o que atrapalha o controle e um possível tratamento. Outro ponto importante é que não há dados concretos sobre a duração da proteção dos anticorpos produzidos pela doença, nem dos anticorpos produzidos pela vacina. 

    5. Há problema se eu tomar a vacina estando com Covid-19?

    Não. Na pessoa que já está contaminada, o sistema imunológico está respondendo ao vírus. As vacinas disponíveis não são feitas com vírus vivos, por isso não há plausibilidade biológica que cause alguma interferência no organismo de quem já contraiu o coronavírus. Muito pelo contrário, a vacina vai promover mais anticorpos contra a doença.

    6. Posso transmitir Covid-19 mesmo vacinado?

    Sim, porque a vacina não previne a infecção, mas as complicações resultantes dela, pelo fato de contribuir com a produção de anticorpos. Como a eficácia de nenhuma vacina disponível é total, isso significa que nem todo mundo que a recebeu estará livre de contrair o vírus. Mas isso não invalida a vacina, porque estudos realizados com pessoas imunizadas e que se infectaram mostram que a grande maioria apresenta sintomas leves ou fica assintomática.

    7. Por que alguns adoecem mesmo após serem vacinados?

    Como a vacina não previne a infecção, as pessoas podem ter Covid-19 e adoecerem mesmo vacinadas, porque não houve tempo hábil do organismo responder à vacinação. E, apesar dos estudos apontarem que os imunizados podem ter sintomas mais leves, os casos graves que aparecem entre eles, geralmente, estão relacionados com pacientes idosos, cujas doenças prévias são pioradas com a Covid-19, ou entre doentes crônicos com diabetes, problemas cardíacos ou pulmonares, que têm seus quadros agravados enquanto a vacina ainda não fez efeito.

    8. Como explicar a morte de pessoas imunizadas?

    As mortes por Covid-19 relatadas após a vacinação geralmente têm relação com outras doenças ou comorbidades existentes antes do diagnóstico de Covid-19. Pessoas com comorbidades costumam ter o sistema imune debilitado. Por isso, em casos de óbitos entre pessoas que tomaram a vacina, deve ser levado em conta o histórico médico e de doenças, além do tempo de imunização. É importante avaliar cada caso, investigar as comorbidades e a faixa etária.