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    Por que tantos testes de vacina estão acontecendo no Brasil?

    Em um ambiente com a população exposta ao SARS-CoV-2, é mais fácil perceber se a vacina consegue proteger o organismo da infecção, explica imunologista; entenda

    Karla Chaves e Luana Franzão,

    da CNN, em São Paulo

    Nas últimas semanas, várias empresas farmacêuticas e instituições do exterior anunciaram testes de vacinas em território brasileiro.

    Devido à urgência em controlar a pandemia do novo coronavírus, cientistas iniciaram o processo de criação de uma vacina mais rápido já visto pela ciência. 

    Em pouco mais de oito meses de conhecimento acumulado sobre o vírus, já existem várias fórmulas na última fase de testes em seres humanos.

    Três delas serão testadas no Brasil, apesar de serem projetos vindos de laboratórios chineses, ingleses e alemães.

    Por que realizar testes em um país tão longe de casa, então?

    A CNN coversou com Gustavo Cabral, imunologista com formações em Oxford, na Inglaterra, e em Berna, na Suíça, que explicou porque o Brasil se tornou o ambiente perfeito para o desafio da testagem final de vacinas contra a Covid-19.

    “Como nós vamos saber que a vacina é eficiente? Se ela proteger do vírus. Ou seja, temos que testar em um ambiente onde as pessoas estarão suscetíveis a serem infectadas”, ele afirma. 

    Os números recentes da pandemia no Brasil mostram uma taxa de transmissão alta, registrando 1,08 no início de agosto. Esse número representa a quantidade de pessoas que um infectado é capaz de contaminar, em média, na região. Ou seja, cada 100 infectados no país contaminam aproximadamente 108 outras pessoas. Para que a epidemia seja considerada como controlada, esse número deveria ser menor do que 1.

    “É preciso testar em um ambiente em que a gente sabe que as pessoas serão expostas à doença. Porque a gestão da pandemia foi ruim, o vírus está se propagando tão rapidamente que [o Brasil] se tornou o lugar perfeito para a testagem de vacinas”, diz Cabral.

    Ou seja, as farmacêuticas Pfizer, Sinovac e AstraZeneca, juntamente com instituições parceiras, como a Universidade de Oxford, encontraram no Brasil o ambiente ideal para testar suas fórmulas. Em um ambiente com a população tão exposta ao SARS-CoV-2, é mais fácil perceber se a vacina projetada consegue proteger o organismo da infecção, pois é altamente provável que o voluntário testado seja exposto ao vírus em algum momento.

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    Efeitos colaterais

    Apesar de ser positivo o fato de a ciência estar a caminho de produzir uma vacina eficiente em tempo recorde, um pensamento ainda intriga muitas pessoas. 

    Produzir e aplicar uma vacina tão rapidamente na população pode causar efeitos colaterais graves? Os tempos de testes tão curtos fazem com que alguns se questionem sobre efeitos colaterais a longo prazo.

    Sobre isso, Gustavo Cabral explica: “O efeito colateral rápido é muito comum, a maioria dessas vacinas geram, por exemplo: dor no local, dor de cabeça, mal estar, dor muscular. Mas a longo prazo precisamos ser mais cuidadosos, porque a maioria dessas vacinas não tem antecedentes que foram licenciadas para seres humanos, o que daria uma garantia que em um, dois, três anos não vai ter nenhum efeito colateral mais sério”. 

    Distribuição no Brasil

    Outra pergunta frequente sobre esses testes no país é sobre se essas vacinas estarão disponíveis para a população brasileira caso aprovadas. 

    Cabral confirma que é muito provável que o acesso e a produção sejam facilitados para o país devido à ajuda na fase de testagem. “Nenhuma instituição aceitaria realizar testes sem garantir uma cota dessa vacina. Caso dê certo, nós teremos a cota”, disse à CNN Brasil.

    “É um investimento alto fazer esses testes. É um investimento humano e financeiro. A quantidade de profissionais que estão envolvidos para aplicar essa vacina, acompanhar, depois obter as amostras, ou seja, sangue, saliva, enfim, pra fazer os testes em laboratório, isso é muito dispendioso”, completa.

    Dr. Gustavo Cabral e Karla Chaves conversam em frente à fundo com coronavírus
    Dr. Gustavo Cabral responde à perguntas acerca das pesquisas em vacinas contra a Covid-19
    Foto: CNN Brasil