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    Por que os pernilongos ‘atacam’ no calor e outras dúvidas sobre os mosquitos

    Existe relação direta entre calor e a capacidade de reprodução dos mosquitos

    Murillo Ferrari, da CNN, em São Paulo

    Com o aumento nas temperaturas registradas nos últimos dias e a proximidade do fim do inverno, um problema muito comum nesta época do ano volta a incomodar muitas pessoas: os pernilongos.

    Além das picadas que causam coceiras, o zumbido do inseto nos ouvidos, principalmente à noite, está entre as principais reclamações sobre os pernilongos, cujo nome científico é Culex quinquefasciatus.

    Mas afinal, qual a relação entre a variação da temperatura e a intensificação no surgimento do inseto?

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    De fato, existe uma relação direta entre o calor e a capacidade de os mosquitos se multiplicarem. O ciclo de vida de um mosquito varia de acordo com a espécie, mas pode durar de uma até várias semanas.

    Em temperaturas elevadas, principalmente no verão, os ovos eclodem mais rápido e isso causa um aumento na população destes insetos, incluindo o Aedes aegypti – que transmite doenças como zika, dengue, febre amarela e chikungunya – e o Culex, os mosquitos em maior número em ambiente urbano.

    “O clima e a temperatura quente de algumas estações do ano de países tropicais favorecem as atividades fisiológicas e de comportamento dos insetos de maneira geral. Isto é, as fases aladas adquirem energia para o voo, reprodução e a alimentação tanto do açúcar das plantas como do sangue de animais e seres humanos”, diz a bióloga Sirlei Antunes Morais, especialista em Entomologia, Mestre e Doutora em Saúde Pública pela FSP-USP (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo).

    A especialista diz que não existem pesquisas concretas para determinar se os animais têm algum tipo de preferência – com base em sexo, idade ou tipo sanguíneo – na hora de picar humanos.

    “O Culex é um tipo oportunista. Ele faz uma espécie de investida antes de picar a pessoa. O que favorece é a pessoa estar em repouso para que ele tenha sucesso na sua alimentação.”

    Veja abaixo outras respostas da bióloga para as principais dúvidas sobre pernilongos: 

    – Quanto tempo vive um pernilongo?

    Em boas condições ambientais, vive até 30 dias ou mais.

    – Qual a melhor forma de enfrentar o aumento de pernilongos nessa época?

     O aumento desordenado da população de pernilongos está relacionado ao desequilíbrio ambiental. A população de mosquitos cresce de modo exclusivista, pois não há predadores. E as condições para a sua procriação são favorecidas pela abundância da fonte de sangue para as fêmeas em comunidades onde há aglomeração de pessoas e condições ambientais precárias. Assim, a situação pode ser atenuada com ações na fonte deste problema.

    – Qual a função dos pernilongos no meio ambiente?

    Os mosquitos, assim como os insetos fazem parte da cadeia alimentar. Tanto as larvas aquáticas quanto os alados servem de alimento para uma diversidade de peixes e animais. Uma espécie, por exemplo, está em equilíbrio em um ambiente natural, sendo que na mata existem muitos mosquitos, porém estão distribuídos em diversidade de espécies. Quando há exclusividade de espécie é porque algo está errado. E essa espécie passa a ser considerada uma praga. Como no caso do Culex em ambiente urbano.

    – Como funcionam os repelentes? As alternativas naturais funcionam?

    Basicamente, os repelentes tópicos possuem substâncias voláteis cuja ação é repelir os mosquitos. Os insetos em geral têm sensores para diversos compostos, tanto para os sintéticos como o DEET, piretrinas e IR3535 usados em repelentes comerciais, como para os terpenos e benzenos produzidos pelas plantas para a sua própria defesa.

    Assim, as alternativas naturais funcionam, porque encontram receptividade natural nos sensores dos mosquitos. No Brasil, não há muitos estudos com substâncias naturais para uso comercial, pois envolve uma série de pesquisas e áreas científicas diversas sobre como isso vai funcionar em contato com a pele.

    Entretanto, na Grécia e Turquia há estudos milenares sobre o tema, incluindo voláteis importantes de terpenos de origem vegetal utilizados como aromatizadores e fumigadores com excelente função sobre a repelência.      

    – Tomar vitaminas do complexo B evita picadas de mosquito? 

    Ao ingerir algumas substâncias, mesmo por um período muito curto de tempo, a pessoa pode ou não repelir mosquitos pelo conteúdo volátil que emana por meio da pele. Porém, a ingestão de componentes medicamentosos nunca é indicada para a proteção e/ou repelência de mosquitos devido aos efeitos colaterais diversos. 

    – Por que a picada do pernilongo coça (e, em algumas pessoas, até incha)?

    O mosquito libera componentes anticoagulantes no ato da picada e demais conteúdos proteicos que podem desencadear a alergia.  

    – Só as fêmeas se alimentam de sangue? E os machos?
    Fêmeas se alimentam de açúcar e água das plantas como fonte de energia, e de sangue quente cujas proteínas servem como catálise para a fecundação. Os machos adultos se alimentam somente de açúcar e água.  

    – Os pernilongos atacam mais de noite?

     O Culex é crepuscular e noturno. Ele tem a visão adaptada para a refletividade desses horários. 

    – O que é aquele zunido que ouvimos quando eles passam perto dos ouvidos?

    O zunido é o bater das asas, que produz uma frequência de som.

    – Por que eles voam tão perto das cabeças dos humanos? Tem a ver com odor ou emissão de CO2?

    Sim, eles vêm pelo calor que a pele emana. E odores, como ácido lático, cetonas e CO2. Ele tem sensores bem desenvolvidos para vários sinais que possibilitam a sua aproximação e picada.

    – Cor escura (de cabelo e roupa, por exemplo) atrai mais os mosquitos?

    O mosquito tem olhos do tipo composto. São centenas deles em um só de cada lado. Assim, quanto menos refletividade melhor para o seu direcionamento até o alvo. 

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