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    Pessoas que assistem a vídeos de tragédias também podem sofrer estresse pós-traumático

    Transtorno pode atingir tanto testemunhas oculares de acidentes quanto pessoas que acompanham imagens pela internet

    Fabrizio Neitzkeda CNN

    Em São Paulo

    Na edição desta segunda-feira (10) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes falou sobre o quadro de estresse pós-traumático, comum após acidentes graves, como o deslizamento da rocha no lago de Furnas, em Capitólio (MG), que matou dez pessoas no último sábado.

    Segundo o Corpo de Bombeiros, 32 pessoas ficaram feridas. Entre os mortos, cinco pessoas com idades entre 18 e 68 anos já foram identificadas. Cerca de 70 turistas estavam no local no momento da tragédia. Em entrevista à CNN, um guia turístico que estava em uma das embarcações contou sobre o “grande susto” que viveu e revelou ter visto dois amigos morrerem na sua frente.

    Para Fernando Gomes, a cena, comparável a de um filme, é capaz de desenvolver sintomas em que flashbacks causam sensação de angústia, dores físicas, alteração do apetite e do sono, com maior incidência de pesadelos. O quadro pode ser notado tanto em testemunhas oculares do acidente quanto em pessoas que viram os vídeos pela internet.

    Nestes casos, o funcionamento de estruturas cerebrais profundas também pode ser alterado. É o caso do hipocampo, a área do cérebro conhecida por ser a “sede” da memória, e o córtex pré-frontal, que controla a realidade e as emoções do ser humano.

    De acordo com o neurocirurgião, os primeiros traumas podem surgir dias após o contato inicial com a tragédia. “A tendência é, obviamente, todo mundo ficar chocado, principalmente quem vivenciou a situação e não se machucou. No decorrer do tempo, a memória vai se espaçando e misturando com vivências do cotidiano.”

    “Cerca de 30 a 40% das pessoas podem apresentar essa síndrome do estresse pós-traumático, no qual aquela tela mental e os pensamentos que ficam voltando a todo o momento tem a ver com a vivência traumática. Muitas vezes é seguido… dias, semanas e até mesmo meses depois, isso pode ter sua manifestação presente”, explicou.

    Gomes defende que a abordagem precoce por psicólogos e psiquiatras é o mais adequado após o aparecimento dos primeiros sintomas, sem que seja necessário o uso de medicamentos. A chave, segundo o médico, pode estar em “ressignificar” a situação causadora do estresse. Em casos mais graves, a hipnose clínica também pode ser uma alternativa viável.

    A síndrome do pânico também pode ser desenvolvida em pessoas que nunca estiveram em Capitólio, apenas vendo as imagens circulando pelas redes sociais. A orientação, segundo Gomes, é a de diminuir a relevância do assunto, evitando assistir novamente os vídeos e comentar sobre o tema.

    Já para as pessoas que ficaram receosas com a situação e com locais similares aos cânions de Capitólio, o neurocirurgião recomendou cuidados básicos, como checar a segurança do ambiente e seguir as orientações específicas para o acesso.