Pessoas inteligentes demoram mais para responder questões complexas, diz estudo
Estudo publicado na Nature Communications explica que cérebros com maior sincronização evitam tomar decisões precipitadas em resposta a um desafio
Pessoas que pontuam muito em testes de inteligência geralmente estão associadas a respostas mais rápidas a perguntas simples, quando comparadas a indivíduos menos inteligentes. No entanto, quando as questões se tornam mais desafiadoras, a situação é invertida: aqueles de QI alto demoram mais para respondê-las – mas têm mais chances de acertar a resposta.
A descoberta faz parte de um estudo publicado recentemente na revista Nature Communications e que foi conduzido pelo Instituto de Saúde de Berlim (BIH, na sigla em inglês), pelo Hospital Universitário Charité e por um colega em Barcelona.
“Queremos entender como o cérebro toma decisões e por que elas acontecem de maneira diferente em pessoas diferentes”, disse a pesquisadora Petra Ritter ao portal do BIH.
Ritter e seus colegas utilizaram modelos de rede cerebral para simular a conectividade do cérebro dos indivíduos, combinando-os com dados digitais de imagens cerebrais (como ressonância magnética) e conhecimento teórico sobre processos biológicos na forma de modelos matemáticos.
Inicialmente, esses passos resultaram em um modelo “geral” de cérebro humano, que os pesquisadores especificaram com medições individuais de participantes e, assim, obtiveram modelos cerebrais personalizados.
Para o estudo, eles trabalharam com os dados de 650 participantes do Human Connectome Project, uma iniciativa americana que estuda as conexões nervosas do cérebro humano desde 2010. A ideia era entender como essas conexões se comportavam quando desafiadas e em repouso.
“É o equilíbrio certo entre estimulação e inibição entre as células nervosas que influencia as decisões e, assim, mais ou menos permite que as pessoas resolvam problemas”, explicou Ritter.
Os participantes mais inteligentes, que também eram geralmente aqueles com maior sincronização cerebral, foram capazes de rapidamente ver a solução para os problemas fáceis.
Contudo, à medida que a complexidade aumentava, a sua grande vantagem era ter paciência para esperar até que todas as áreas do cérebro tivessem feito o processamento necessário, em vez de “pular para conclusões precipitadas” quando apenas algumas delas haviam concluído as etapas necessárias para a resolução do problema.
Assim, enquanto os cérebros com menor sincronização apresentaram conclusões precipitadas, os circuitos neurais do lobo frontal daqueles sincronizados evitavam tomar decisões até que todo o cérebro tivesse tempo de fazer o processamento necessário.
“A sincronização, ou seja, a formação de redes funcionais no cérebro, altera as propriedades da memória de trabalho e, portanto, também a capacidade de ‘aguentar’ por muito tempo sem tomar uma decisão”, disse Michael Schirner, também autor do estudo, ao BIH.
“Para problemas mais complicados, você precisa armazenar o progresso anterior à memória de trabalho enquanto explora outros caminhos de solução e, em seguida, integra-os uns aos outros”, completou.
Essa coleta de evidências para uma solução específica pode levar mais tempo, mas também guiar a melhores resultados.
Planejamento de tratamento de doenças neurodegenerativas
Ritter conseguiu replicar esses recursos do cérebro humano em simulações, criando modelos de rede cerebral individuais cuja conectividade se assemelhava à de cada participante. Ela espera agora que o desenvolvimento de cérebros artificiais que simulam cérebros reais ajude a identificar alvos para intervenções caso a caso para portadores de doenças neurodegenerativas.
“A tecnologia de simulação, que foi significativamente aprimorada neste estudo, também pode beneficiar o planejamento personalizado in silico de intervenções cirúrgicas, medicamentosas ou de estimulação cerebral”, explicou Ritter.
“Dessa forma, o médico já pode usar uma simulação de computador para estimar qual intervenção ou qual medicamento é adequado para um paciente específico pode funcionar melhor e ter menos efeitos colaterais”, completou.
Paralelamente, pode ser válido rever como as provas são conduzidas. Caso o que os cientistas descobriram se aplique a outros tipos de desafio, curtos limites de tempo podem ser bons para testes de várias questões relativamente simples.
Do contrário, naquelas provas em que os participantes precisam responder a um pequeno número de questões mais complexas, restringir o tempo pode ser uma má maneira de encontrar candidatos mais promissores.