Pausa em testes de vacina mostra critério e cuidado, diz ex-presidente da Anvisa
Gonzalo Vecina Neto diz que caso do paciente com reação adversa do estudo de Oxford tem que ser 'cuidadosamente estudado'
Ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e professor de Saúde Pública na Universidade de São Paulo (USP), Gonzalo Vecina Neto falou à CNN, nesta quarta-feira (9), sobre a suspensão dos testes da candidata da AstraZeneca a vacina contra Covid-19.
A decisão foi anunciada após uma suspeita de reação adversa séria em um participante do estudo. Um porta-voz da AstraZeneca disse que o caso ocorreu com um voluntário no Reino Unido, e acrescentou que vai interromper os testes do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford em todo o mundo, incluindo no Brasil.
Leia e assista também:
Após suspensão, comitê internacional fará pente-fino em vacina de Oxford
Reação à vacina da AstraZeneca pode interferir no recrutamento da Coronavac
AstraZeneca suspende teste de vacina da Covid-19 após voluntário ficar doente
À CNN, Vecina Neto avaliou que esse movimento não deve ser visto como algo pessimista diante da expectativa pelo imunizante contra o novo coronavírus, que já causou 898 mil mortes em todo o mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins.
Para ele, trata-se de uma prova de que a vacina está sendo feita de forma adequada e com segurança. “É a certeza de que está sendo feito criteriosamente e com todo cuidado. Não deve nos deixar triste, mas [sabendo que] está sendo muito bem feita”, avaliou.
O professor e ex-presidente da Anvisa ainda frisou o caso do paciente com reação adversa tem que ser “cuidadosamente estudado e explicado” tanto para a comunidade científica quanto para a população.
Isso porque, segundo ele, há chances de que a condição apresentada pelo paciente não seja, necessariamente, causada pela vacina, mas algo que ele já iria ter mesmo sem ter recebido a substância em teste. “Esse evento adverso tem que ser investigado para verificar se que é devido a ela ou uma condição clínica do paciente, que ele teria mesmo sem a vacina”, acrescentou.
A fim de tranquilizar, Vecina Neto também afirmou que “o que aconteceu com essa vacina não é necessariamente o que acontecerá com as outras”. “É outra tecnologia e dificilmente terá o mesmo efeito adverso”, concluiu.
Próximos passos
Especialistas em vacina com os quais a CNN conversou disseram que, a partir de agora, será preciso esperar o posicionamento oficial do Comitê Internacional de Pesquisadores, que fará uma inspeção na vacina de Oxford. O órgão dará o parecer final sobre a continuidade ou não dos estudos em todo o mundo.
O comitê vai avaliar a relação da reação com a vacina e se a voluntária tem algum histórico que justificasse a resistência ao imunizante. Não há, no entanto, um prazo estabelecido para que o comitê finalize a avaliação.
De acordo com técnicos que acompanham os experimentos no Brasil, o comitê é formado por até 10 pesquisadores internacionais que não estão envolvidos com a produção do imunizante. Ou seja, atuam de maneira independente. Eles têm os nomes preservados para que se mantenha isenção e independência no processo de avaliação.
(Com informações de Kenzô Machida, em Brasília)