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    O que os marsupiais podem ensinar sobre o desenvolvimento do cérebro humano

    Estudo de semelhanças no desenvolvimento cerebral de marsupiais e de humanos pode levar a uma melhor compreensão da condições como o espectro do autismo, dizem pesquisadores

    Miropa/Getty Images

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    Características do desenvolvimento inicial do cérebro humano podem ter mais semelhanças com as dos cérebros dos marsupiais do que se imagina. É o que aponta um novo estudo da Universidade de Queensland, na Austrália.

    Os pesquisadores avaliam que as descobertas podem levar a uma melhor compreensão dos padrões cerebrais associados a condições de neurodesenvolvimento, como o transtorno do espectro autista (TEA). Os achados foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

    “Os marsupiais são mamíferos nascidos em estágios extremamente precoces — o equivalente ao meio da gestação em termos humanos”, disse Suárez. “A maior parte do desenvolvimento do cérebro marsupial ocorre após o nascimento, dentro da bolsa da mãe”, detalha o principal autor, Rodrigo Suárez, do Queensland Brain Institute e da Escola de Ciências Biomédicas da universidade.

    O especialista explica que a análise permitiu estudar padrões de atividade neural na espécie nativa australiana dunnart de cauda gorda, o que levou a descobertas de semelhanças ao cérebro humano em formação no útero.

    Os pesquisadores utilizaram indicadores de luz para registrar a atividade elétrica dos neurônios nos marsupiais. “Acompanhamos o início e a maturação de padrões de atividade complexos, usando microscopia avançada para ler como as células cerebrais em desenvolvimento se comunicam pela primeira vez”, disse Suárez.

    Ele detalha que foram identificados padrões distintos desde o início, indicando não apenas que a atividade neural começa antes da experiência sensorial, mas que características elétricas únicas em células recém-nascidas podem ser cruciais para o estabelecimento saudável de conexões cerebrais.

    “Da mesma forma, defeitos sutis nesses padrões podem levar a condições de neurodesenvolvimento como TEA”, acrescenta.

    Segundo o pesquisador, está bem estabelecido que bebês humanos respondem à estimulação bem antes do nascimento. “Mas exatamente quando, onde e como a atividade elétrica começa no cérebro em desenvolvimento permanece amplamente desconhecido”, disse.

    Suárez afirma que isso ocorre principalmente porque apenas os mamíferos desenvolveram um córtex cerebral — a superfície enrugada de nossos cérebros que controla as tarefas sensoriais, motoras e cognitivas — e a maioria dos modelos experimentais não pode sobreviver em estágios tão iniciais fora do útero.

    O estudo de marsupiais pode ajudar os pesquisadores a avançar no conhecimento sobre a evolução do cérebro humano. “Essas descobertas destacam os primeiros processos de desenvolvimento do cérebro que surgiram há milhões de anos e estão em andamento com poucas mudanças, provavelmente influenciando a evolução e a diversificação do córtex cerebral”, conclui.