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    O que é a coinfecção por Covid e influenza, apelidada de “Flurona”

    Infecção por dois vírus simultâneos já era esperada, mas pode ser controlada com medidas de distanciamento social e vacinas

    Ingrid Oliveirada CNN , São Paulo

    É possível ter coinfecção por Covid-19 e Influenza. Nos últimos dias, a combinação tem sido chamada de “Flurona” — um neologismo para misturar os termos “flu” (gripe, em inglês) e “corona”.  O termo, no entanto, não é adotado pela comunidade científica, que prefere tratar como coinfecção.

    O primeiro caso de coinfecção de Covid-19 e Influenza foi identificado em Israel e notificado no final de dezembro de 2021. Já no Brasil, ao menos sete estados e o Distrito Federal, até a data desta publicação, confirmaram casos de coinfecção.

    Poucas semanas atrás, a pneumologista Margareth Dalcomo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disse à CNN que era possível se contagiar com ambos os vírus ao mesmo tempo.

    A CNN conversou com três especialistas para explicar o que você precisa saber sobre o tema.

    Como e por que ocorre a coinfecção pela influenza e pela Covid-19

    É importante ressaltar que “Flurona” não se trata de um novo vírus, mutação ou uma junção dos dois patógenos. É apenas o fenômeno de ser infectado por dois vírus simultâneamente.

    “Você tem uma coinfecção de Covid e influenza, não é como se a gente tivesse um vírus combinado, uma mistura. São dois vírus diferentes”, disse à CNN João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

    Ele explica que ambos os vírus que estão circulando têm forma de transmissão parecida e podem infectar as pessoas. “Assim como era comum nas arboviroses de antigamente ter coinfecção, como a dengue, zika e chikungunya”, aponta Prats.

    “São vírus de famílias diferentes, não há possibilidade de junção deles”, explica à CNN Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

    Ele aponta que a coinfecção ocorre porque são dois vírus de transmissão respiratória com o mesmo mecanismo.

    Quando o corpo está combatendo uma infecção, ele fica suscetível a doenças secundárias. “As pessoas vão adquirir através do ar, geralmente naqueles que não estão imunizados, ou parcialmente imunizados”, explica Furtado.

    Ainda é cedo para traçar um panorama de gravidade da Flurona

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse em nota que ainda é cedo para entender a interação dos dois vírus e avaliar a gravidade dos casos.

    A OMS também destaca que a prevalência desses casos de coinfecção ainda é baixa.

    Furtado diz que não tem nada que justifique, nem que leve a para pensar que a coinfecção pode levar  um quadro mais grave.

    “A maioria dos casos são leves. Os que foram descritos na literatura [científica], não têm nenhuma descrição de potencializar a gravidade, ou chance de ser entubado ou de ir para UTI, ou aumento de mortalidade. A gente tem poucos dados para traçar um padrão de mortalidade e de gravidade. A priori, os casos descritos não tiveram essa característica de maior gravidade”, disse.

    Prats diz que há uma preocupação teórica, uma vez que o sistema imunológico vai ter que se esforçar para combater dois virus diferentes.

    Contudo, ele aponta que, na prática, o que se tem observado da variante Ômicron é que agora, “a gente tá diante de uma situação que nenhum dos dois vírus têm a chance tão grande de causar doença grave.”

    Algum vírus vai se sobressair durante a coinfecção?

    Isso ainda não está claro. “Você pode ter formas que misture um pouco dos dois. Uma gripe mais prolongada, em vez de ter uma influenza com dois ou três dias de febre e depois melhora [como habitual], ou um coronavírus que vai piorar lá para o sétimo ou décimo dia.”

    Prats aponta ainda que a pessoa infectada com os dois vírus “não necessariamente vai ter uma doença dominante, mas é possível que aconteça. Varia muito”, explica.

    Por que isso ocorre após dois anos de pandemia, uma vez que ambos vírus não deixaram de circular?

    O virologista professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, Fernando Spilki, disse à CNN que ao longo do tempo, desde a primeira onda de Covid-19, os cientistas já detectaram casos de coinfecção.

    Apesar disso, ele conta que “o que ocorre agora é que nós temos dois vírus concorrendo ao mesmo tempo: o surto da Ômicron e o da gripe pela cepa Darwin (H3N2). O que aconteceu na primeira onda de Covid-19 é que praticamente não havia circulação de gripe”, explica.

    Spilki aponta que a baixa circulação de gripe durante o início da pandemia ocorreu por conta do distanciamento social, o uso de máscara e adesão à vacina. “Agora que há flexibilização muito grande, e aumento da Covid-19 com o surto de gripe, vai acontecer mais”, aponta.

    O infectologista Álvaro Furtado, do HCFMUSP, aponta que as variantes, surgidas nesse período, colocam à prova a cobertura vacinal. “Essa variante [Ômicron] tem um potencial de transmissibilidade. Quando as pessoas voltam a se encontrar, voltam a pegar a doença. E a vacina não impede compeltamente que se pegue a doença”, disse.

    Prats aponta que apesar de a variante ser mais contagiosa, a vacina protege contra casos graves. “Talvez esse combo de variantes da influenza (H3N2) e da Covid-19 (Ômicron), o fato de não termos uma vacina específica para essa variante da gripe, e as pessoas relaxando um pouco nas medidas de segurança possam explicar o aumento de casos agora”, avalia.

    Confira orientações do Ministério da Saúde diante do diagnóstico de Covid-19

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    As vacinas diminuem a possibilidade de doença grave pela coinfecção

    Os três especialistas ouvidos pela reportagem disseram que as vacinas contra a Covid-19 já mostraram redução de doença grave.

    “As vacinas têm um caráter de proteção para a forma grave das duas doenças. Tanto para influenza quanto Covid-19. Quem está vacinado vai ter uma chance muito menor para doença grave”, disse Furtado, do HCFMUSP.

    O virologista Fernando Spilki diz que “é necessário transformar esse alarde [de coinfecção] em um alerta positivo. O especialista explica que “é relevante que as pessoas saibam dessa possibilidade, porque elas precisam estar com o calendário vacinal em dia para ambas as doenças”.

    Além disso, Spilki lembra que o uso da máscara é fundamental, uma vez que a vacina disponível para gripe ainda não tem proteção contra a H3N2.

    Colapso no sistema de saúde

    À medida que aumenta a quantidade de casos, “isso pode resvalar no sistema de saúde”, aponta o infectologista Álvaro Furtado.

    Para Spilki, tal processo já está acontecendo, principalmente no sistema ambulatorial de atenção primária.

    “Você tem dois surtos de doenças respiratórias concomitantes em grande volume acontecendo e isso vai gerar uma pressão importante no sistema de saúde. Sem dúvidas, estamos vivendo uma nova onda de Covid-19 devido à quantidade de número de casos que já estão reportados”, alerta.

    Prats, por outro lado, destaca que o momento agora é diferente do começo da pandemia. “A Ômicron tem casos muito mais leves, a influenza não tem a mesma contagiosidade da Ômicron. A gente tem uma população com uma taxa de vacinação muito maior do que antes. Acho que é muito cedo para pensar em colapso do sistema de saúde.”

    “A gente tem surtos de influenza anualmente, o atípico foi a época em que aconteceu. Normalmente isso acontece no inverno. A gente não está esperando colapso no sistema de saúde”, diz Prats.

    Vacina da Pfizer
    Especialistas apontam que vacinas contra influenza e Covid diminuem a chances de quadro grave na coinfecção / Sandro Araújo/Agência Saúde DF

    Cuidados para evitar a coinfecção

    Como ambos os vírus têm mecanismos de transmissão semelhantes, os especialistas afirmam que a forma de evitar o contágio é o uso de máscara.

    Spilki diz que novas variantes do vírus vão ocorrer e esse processo de evolução não pode ser parado. “Mas ele pode ser refreado à medida que haja um controle dos casos, com pessoas vacinadas, os cuidados tomados.” Ele explica que tendo menos casos em pessoas suscetíveis, haverá menos velocidade no processo de coinfecção.

    As pessoas “precisam continuar usando máscara, lavando a mão e tomando as vacinas”, disse Furtado.

    “O mais importante é evitar aglomerações e tomar as doses de reforço da vacina contra a Covid-19 e a atualização da influenza que vai ocorrer no começo desse ano”, aponta Prats. Ele faz um apelo àqueles que estiverem com “sintomas leves, resfriados, gripados, não visitem outras pessoas”, alerta.

    Flurona no Brasil

    Diversos estados brasileiros estão testando seus pacientes e já identificaram casos de Flurona. Em um levantamento feito pela Agência CNN, até o momento, Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Rondônia e o Distrito Federal notificaram casos.

    Em nota, o Ministério da Saúde esclarece que os dados de influenza e outros vírus respiratórios são monitorados pela pasta via vigilância sentinela, onde, por amostragem semanal, são feitos diagnóstico para influenza e alguns outros vírus respiratórios, além da vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e Covid-19.

    Segundo o texto, o objetivo é identificar o perfil epidemiológico dos casos e conhecer os vírus respiratórios circulantes, para traçar medidas de prevenção e de controle pelas autoridades de saúde.

    “Diante da pandemia, ficou definido um fluxo para diagnóstico de vírus respiratórios, no qual investiga-se a infecção por SARS-CoV-2 e, quando não é detectado, verifica-se a presença de influenza e outros vírus respiratórios”, diz o comunicado.

    Além disso, o ministério informa que já iniciou as tratativas junto ao Instituto Butantan para aquisição das doses para a Campanha Nacional de Vacinação Contra a influenza que será realizada em 2022, conforme ocorre anualmente.

    *Com informações de Giulia Alecrim, Giovanna Bronze e Leonardo Lopes, da CNN

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