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    O painel da Johns Hopkins: A equipe envolvida no site mais visitado da pandemia

    Eles afirmam que o site, mais os downloads dos dados contidos nele, acumule entre três e cinco bilhões de interações diárias

    Kristen Rogers, CNN

    Se o ano de 2020 for bom para alguma coisa, é para ensinar que, durante uma crise, qualquer um que construa uma alternativa melhor encontrará o mundo abrindo um caminho à sua porta.

    Uma humilde equipe da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, relembrou ao mundo a frase atribuída ao poeta Ralph Waldo Emerson quandou criou um mapa de monitoramento em tempo real dos casos e mortes pelo novo coronavírus.

    E o mundo veio à sua porta. Eles afirmam que o site, mais os downloads dos dados contidos nele, acumule entre três e cinco bilhões de interações diárias. Pelo monitoramento deles, interações incluem usos usos da painel pública e pedidos de um site separado para os dados utilizados por veículos de notícias e outros que desenham seus próprios mapas e gráficos.

    Agências governamentais, departamentos de saúde pública, a publicação e veículos de mídia, incluindo a CNN, frequentemente utilizam suas últimas atualizações em casos confirmados, mortes e recuperados relacionados a essa doença angustiante.

    “Nós estávamos coletando dados sobre um novo vírus que ninguém entendia no momento em que não havia uma única página dedicada a contagem de casos da Covid-19”, afirma Lauren Gardner, chefe do projeto, professora associada e codiretora do Centro de Sistemas em Engenharia e Ciência da Escola de Engenharia da Johns Hopkins. 

    Entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, Ensheng Dong, estudante de Gardner de PhD, ouviu da família na China que estava sendo regularmente registrado como o surto estava piorando e piorando as vidas deles. Depois de passar de um exame que permitiu a ele obter seu PhD, rastrear os casos confirmados na China era o que ele queria fazer depois.

    Ensheng Dong
    Engshend Dong, estudante de primeiro ano do PhD, que ajudou a criar o painel em menos de um dia
    Foto: Ensheng Dong/Acervo pessoal

    O seu background na visualização de dados espaciais e o passado de Gardner em modelar doenças infecciosas convergiram para criar a primeira formatação do painel — que eles terminaram naquela noite e publicaram no dia seguinte. Os alarmes vermelhos do mapa reportavam apenas 320 casos confirmados — a maioria na China e o resto na Tailândia, no Japão e na Coreia do Sul.

    “Ele passou a desempanhar alguns papeis bastante importantes em alguns problemas realmente centrais para a sociedade, para a alguém que está a apenas seis meses no curso”, disse Gardner. “Eu fico falando para ele que o que ele precisa é não ficar acostumado a isso e que isso não é normal. E o resto da experiência dele no PhD será realmente entendiante, mas ninguém acha que ele acredita em mim.”

    Por duas semanas, do amanhecer ao anoitecer, Dong viveu e respirou o painel. O projeto acabou ganhando destaque sobre seu tempo livre das aulas e logo das próprias aulas. Com a bênção de Gardner, ele adiou o curso necessário até o próximo semestre.

    Manter tantas responsabilidades afetou a sua saúde de alguma forma? “Na realidade, não”, ele disse. “Eu acho que é isso que a pesquisa precisa fazer. A responsabilidade por esse mapa me dá energia”. 

    Mas conforme os casos se tornavam disseminados globalmente, eles precisavam de ajuda. “Inicialmente, (eu me preocupava com a minha família). Agora, é a hora de eu me preocupar com a minha situação nos Estados Unidos”, disse Dong.

    Mapa da Johns Hopkins University
    A professora Lauren Gardner e a sua equipe trabalham para manter o painel da Covid-19, construído pelo time dela na Universidade Johns Hopkins
    Foto: Will Kirk/Universidade Johns Hopkins

    O que antes era o objetivo modesto de preencher uma lacuna de pesquisa em um campo com métodos antiquados para monitorar a disseminação de doenças agora é uma ferramenta amplamente utilizada ao redor do mundo.

    Eles não tinham nenhuma ideia “que evoluiria para algo que literalmente impacta a vida de quase qualquer pessoa no planeta”, disse Gardner.

    Dos dados para o mapa

    Cerca de 25 pessoas, de diversas áreas do conhecimento, agora apoiam o painel, incluindo estudantes de graduação, desenvolvedores de software e pesquisadores baseados em vários lugares, como Maryland, Califórnia e Inglaterra.

    Assimo como muitas pessoas, eles estão trabalhando em homeoffice. Os dias deles começam com ligações pela plataforma Zoom durante as quais eles formulam listas do que fazer e questões urgentes. A conversa continua através de diversos canais do aplicativo Slack, e-mails e ligações telefônicas.

    “É eficiente, mas é entendiante”, diz Gardner. “Eu realmente sinto um pouco do mundo real”.

    A professora está no comando, então todos os envolvidos se reportam a ela. A lista de tarefas diárias dela envolve conduzir um grupo de pesquisa de estudantes de PhD, coordenar acréscimos de dados e o design do painel, além de fazer decisões estratégicas para o desenvolvimento do projeto. Ela gasta cerca de metade do tempo em pesquisa de dados para o mapa.

    De dezenas de fontes, que incluem os departamentos locais de saúde e sites que agregam dados, o painel reporta os casos de mais de 3.500 localidades, no detalhamento de províncias na China, de condados nos Estados Unidos e nacional ou regional nos demais lugares.

    Como eles atualizam o painel, ao menos, a cada hora, eles tiveram que passar da coleta manual de dados para a automática — a equipe elogia os mágicos dos dados do Laboratório de Física Aplicada (APL, na sigla em inglês) da universidade por criar um código que periodicamente viaja em sites confiáveis e busca por dados. 

    Para pesquisadores independentes e o governo dos Estados Unidos, o APL fornece sistemas de engenharia tecnológica, desenvolvimento e análise. O código automatizado agrega dados e publica no GitHub, um software de desenvolvimento de plataformas.

    Um sistema de detecção de anomalias revisa cada número que chega e segura tudo que não faz sentido, explica Ryan Lau, um engenho de software formado no laboratório.

    Algumas vezes, fontes da internet são tecnologicamente inconfiáveis, mas os dados são precisos com aquilo que foi registrado, explica Gardner. Os times manualmente validam e aprovam números antes de permitir que eles sejam processados na ferramenta de visualizações geográficas que nós vemos.

    Ryan Lau
    Ryan Law, estudante de engenharia de software no Laboratório de Física Aplicada na universidade, desempenha um papel chave na coleta dos dados
    Foto: APL/Johns Hopkins University

    “Me desculpe o clichê, mas uma imagem vale mais do que mil palavras”, diz Lau. O time da APL trabalha em construir e manter capacidades automativadas no código de fornecimento dos dados.

    As atualizações frequentes e as múltiplas fontes de dados são o que faz o painel diferente do rastreamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), que conta apenas estados e nações, diz Beth Blauer, diretora executiva do Centro para Impacto Civil da universidade, que apoia governos e ações sem fins lucrativos para fazer mudanças direcionadas pelos dados.

    O trabalho de Blauer com o Centro de Impacto Cívil é o seu emprego, mas ela também começou a trabalhar com os dados em março, depois de ter usado o mapa para assessorar o risco de viagem.

    Beth Blauer
    Beth Blauer, diretora executiva do Centro de Excelência Governamental da universidade, ajuda a comandar o painel dos Estados Unidos
    Foto: Matt Pazoles/Johns Hopkins University

    Blauer é uma das gurus de tecnologia e dados por trás do mapa dos Estados Unidos, que é separado e mais detalhado que o mapa global. As funções incluem pesquisar, revisar e entrevistar sobre testes no país e a contagem de dados de casos para fornecer percepções adicionais para o centro de pesquisas do coronavírus.

    Ela também é mãe solteira. “[Meus filhos] merecem algum tipo de prêmio pela forma como eles foram capazes de me manter através disso”, diz Blauer.

    O mapa coloca na ponta dos dedos das pessoas “informações a partir das quais elas podem tomar decisões realmente importantes”, diz Jennifer Nuzzo, que trabalha para projetos similares aos de Beth Blauer, mas para o centro de pesquisas do coronavírus.

    Nuzzo é uma professora associada na Escola Bloomberg de Saúde Pública, da universidade, e pesquisadora sênior do Centro Johns Hopkins para Segurança da Saúde.

    Jennifer Nuzzo
    Jennifer Nuzzo, professora associada da Escola Bloomberg de Saúde Pública, da Johns Hopkins, contribui para o painel dos Estados Unidos
    Foto: Johns Hopkins University

    “Para os governos, é algo sobre decisões com altas consequências para a proteção da saúde e o apoio à economia. Para as pessoas, é sobre proteger a si mesmo e aqueles que você ama”

    Os desafios de informar o mundo

    O trabalho que consiste em informações em constante mudança de milhares de lugares vem com obstáculos. Não há um modus operandi internacional sobre como contar infecções e mortes pelo coronavírus.

    A infraestrutura do painel está mais estável atualmente, mas as “fontes e a chegada da informação continuam mudando um pouco”, diz a professora Gardner.

    Os obstáculos cresceram quando o Centro dos Estados Unidos para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) sugeriu aos oficiais locais de saúde contabilizar não apenas casos e mortes confirmadas como também casos e mortes prováveis.

    E, às vezes, os números entre os departamentos de saúde estaduais e municipais não batem — eles reportam de forma diferente ou em momentos variados.

    Cada vez que essas mudanças acontecem, a equipe precisa descobrir como lidar com elas.

    O maior desafio é tentar coletar dados “de vários locais simultaneamente e fornecê-los em tempo real, enquanto todas essas dinâmicas estão em jogo”, disse Gardner. Saber que há tantos olhos nele e ter que também explicá-lo é difícil, acrescentou.

    O painel não ficou isento de controvérsias. A solidez do site de agregação de dados Worldometer é considerada questionável por alguns acadêmicos, mas o site é uma das muitas fontes nas quais o painel da JHU busca dados.

    Lições do comportamento humano

    Além do painel, os dados também apoia, análises para o centro de pesquisas do coronavírus da universidade, que visa ajudar a entender o vírus e a formulação de políticas públicas.

    A linha do tempo da política estatal dos EUA é um gráfico interativo que estabelece “conexões distintas” entre as decisões dos estados em relação às fases de fechamento e reabertura e “como a pandemia está se desenrolando no nível local”, disse Blauer.

    Dados do mapa combinados com dados demográficos podem contar a história sobre como a pandemia exacerbou as desigualdades nas comunidades de pessoas de cor e naquelas com menor renda — que apresentam taxas mais altas de doenças graves e morte por Covid-19.

    A capacidade e o acesso ao atendimento médico em um condado, a demografia e a comparação dos dados da doença nesta localidade em comparação com o estado em que ela se situa são três fatores que começam a relevar as disparidades.

    Dados sobre testes e rastreamento de contatos entre pessoas podem iluminar padrões de longo prazo em relação à raça, status socioeconômico e barreiras sistêmicas ao acesso à testagem — um esforço liderado por Blauer e Nuzzo.

    “Não há nada mais difícil do que olhar para a quantidade desproporcional de negros e latinos que estão [contraindo e] morrendo desta doença, sabendo que não há rede de segurança médica para eles e também entender que há decisões deliberadas que não estão levando em conta os interesses deles”, disse Bauer.

    “Essa é a parte que eu acredito que esteja sendo a mais difícil para mim”.

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    Lidar com a pandemia

    Por um longo tempo, Gardner se sentiu fora da realidade, porque o trabalho não permitiu que ela tivesse tempo para refletir sobre o que estava acontecendo ao seu redor. Desde que os processos do painel se estabilizaram, ela pôde se concentrar mais nas circunsâncias.

    “Eu diria que eu provavelmente sou uma das pessoas mais frustradas com a situação, porque eu estou muito consciente dos padrões, das tendências, da direção que estamos seguindo e dos erros que estamos acontecendo”, disse ela. “Observar isso acontecer… é extretamente frustante”.

    Dong está inquieto a respeito da sua família na China, mas o trabalho também o coloca em modo automático. Os sonhos dele durante a pandemia são sobre se preocupar com os dados, o que deixa ele incrivelmente ansioso, diz.

    Ver que a realidade do contexto dos dados e, assim, poder entender os riscos relativos ajuda Nuzzo a lidar com aquilo que, de outra forma, seria uma preocupação. Ela, no entanto, também “não consegue desligar da pandemia”.

    “É o meu emprego e a minha vida, de um jeito que geralmente, ao final do dia, eu conseguiria uma pausa do que eu estou trabalhando”, diz Nuzzo. “Nós não escapamos disso nunca. E isso pode ser emocionante exaustivo”.

    O que o futuro nos aguarda

    A preocupação sobre esse tipo de dados e análises não irá embora tão cedo, avalia Nuzzo. “Eu estou focada nisso [preparação para a pandemia] por 20 anos”, ela diz.

    “Eu infelizmente sei que nós vivemos em uma era de epidemias. Nós estamos construindo um importante processo e infraestrutura que eu espero que nunca mais precisemos usar novamente, mas os dados me dizem que nós muito provavelmente precisemos usá-los novamente”

    Considerar como o painel vai ser usado durante e depois da pandemia vem sendo realizador. Dados para o painel informaram o estudo de Gardner sobre a relação entre o distanciamento social e a transmissão da Covid-19 nos Estados Unidos. 

    Um projeto baseado na Nasa vai analisar como o clima e a sazonalidade contribuem para a disseminação da doença. Eles também receberam apoio dos institutos nacionais de saúde e da Fundação Nacional de Ciências para estudos posteriores.

    Doações filantrópicas, incluindo das Filantropias Bloomberg e da Fundação Stavros Niarchos, estão sendo um suporte adicional necessário para manter o trem da pesquisa caminhando e flexível para alcançar o que o time quer perseguir.

    “Eu acredito que há uma visão do mundo no qual se um surto de um novo vírus acontecer, nós também tenhamos as capacidades de saúde pública para parar o vírus onde ele estiver, prevenindo este de se tornar uma pandemia”, diz Nuzzo. “Mas, da forma como vemos agora, nós temos mais trabalho a fazer para que isso aconteça”.

    (Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês).

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