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    Número de indígenas mortos por Covid-19 pode ser 4 vezes maior que dado oficial

    Levantamento feito pela Articulação dos Povos Indígenas aponta 107 vítimas da doença, mais que o quádruplo dos 25 informados pelo governo

    Giovanna Bronze, José Brito e Luiz Fernando Toledo, , da CNN, em São Paulo

    Um levantamento feito pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma associação nacional de entidades que representam os povos indígenas brasileiros, aponta que o número de indígenas que morreram de Covid-19 é mais de quatro vezes o dado oficial informado pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) até o momento.

    O balanço mais recente da Apib, divulgado nesta quarta-feira (20), mostra que 107 indígenas já foram vítimas do novo coronavírus e outros 610 estão contaminados. No balanço oficial, são 526 casos confirmados e 27 mortes.

    A entidade contabiliza todos os casos envolvendo indígenas, enquanto o governo federal só considera aqueles que estão dentro de regiões atendidas pelos DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas), do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), que repassam as informações para a Sesai, do Ministério da Saúde. Procurada, a pasta apenas confirmou que, de fato, faz somente o levantamento de áreas específicas.

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    O aumento de casos entre indígenas reflete a situação da Amazônia Legal como um todo, que tem visto crescer exponencialmente, em todos os seus estados, o número de casos e mortos pela doença. 

    Segundo a Apib, Amazonas concentra a maior parte das mortes (80), seguido por Pernambuco (8), Pará (7), Ceará (4) e Roraima (4). As outras mortes, em menor quantidade, aconteceram em Amapá, Alagoas e até mesmo em São Paulo. Já de acordo com o Ministério da Saúde, o Amazonas também concentra o maior número de mortes (18), seguido pelo Ceará (2),  Pernambuco (2), Roraima (2), Pará (2) e uma na região atendida por um DSEI em parte do Pará e do Amazonas, demarcado conforme o território indígena.

    O povo kokama, no estado do Amazonas, é o mais afetado pelo novo coronavírus. De acordo com Suni Kokama, líder indígena e mestranda em antropologia social pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), as principais vítimas são os anciões e falantes da língua materna.

    “Do povo kokama já foram 43 mortos. Em um dia morreu um tio meu, no outro dia uma tia. Eu conheço quase todas as vítimas. Ontem mesmo morreu mais um”, disse. 

    Segundo Suni, as 120 aldeias da etnia, na região do Alto Solimões, precisam de atenção urgente do poder público.

    “Está uma calamidade feia. Os indígenas estão morrendo demais. Todo dia a gente denuncia esses casos, porque está horrível. As pessoas ficam internadas em Tabatinga e a maioria morre lá.”

    Ela diz ainda que outra briga ocorre quando eles morrem, principalmente, na capital Manaus.

    “Eles estão sendo enterrados como pardos e não como indígenas. Nós temos o nosso ritual. Não somos pardos. Somos indígenas; Somos kokamos. E isso precisa ser respeitado”, reclama.

    Segundo Dinaman Tuxá, coordenador da Apib e doutorando em direito pela UnB (Universidade de Brasília), esse número configura a ausência de políticas estruturantes do Estado aos povos indígenas.

    “Eles não estão notificando os números reais. Isso é muito assustador. Sendo que em vários momentos da história, várias comunidades indígenas foram extintas por contaminação por vírus”, revela.

    Para o líder indígena do povo tuxá, no norte do estado da Bahia, os povos indígenas estão passando pelo pior momento político da história recente.

    “Houve um enfraquecimento da política indigenista em governos passados, que se intensificou com o governo atual. E esse enfraquecimento se refletiu no agravamento das violações e dos nossos direitos com a Covid-19. Essa falta de um plano do governo configura como um novo genocídio dos povos indígenas. Uma institucionalização do genocídio no Brasil”, afirma Dinaman.

    Amazônia Legal

    Barreira sanitária do povo krahô na aldeia Kapej, no Tocantins
    Povo krahô faz barreira sanitária na aldeia Kapej, no Tocantins
    Foto: Povo Krahô/Divulgação

    Relatórios do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), órgão ligado ao Ministério da Defesa, mostram que o número de mortes da população em geral mais que duplicou em apenas duas semanas na região composta por oito estados brasileiros: saltou de 943 para 2.200 entre 1º e 11 de maio.

    Já o número de casos confirmados foi de 14,7 mil casos para 35,3 mil. A reportagem tentou contato com o ministério para uma entrevista, mas não obteve retorno após uma semana.

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