Nove a cada dez brasileiros com Covid-19 têm ao menos sintomas leves, diz estudo
Pesquisador recomenda foco em pacientes que apresentem perda de olfato e paladar para identificar precocemente contaminações pelo coronavírus
Estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) concluiu que, diferentemente do que se pensava a princípio, a Covid-19 é assintomática apenas em uma fração pequena dos casos. Segundo Pedro Hallal, professor da UFPel, o levantamento permitiu concluir que o que acontece é que uma fração considerável não chega a ter necessidades hospitalares, mas apresenta uma versão leve dos sintomas.
“Se formos usar o termo assintomáticos, ou seja, sem sintomas, o contingente é só de 9%”, afirmou Hallal. Portanto, 91% dos entrevistados com resultados positivos haviam sentido algum sintoma da doença.
O estudo foi conduzido pela UFPel em parceria com o Ministério da Saúde e o Ibope em três fases, entrevistando um total de 89.397 pessoas, também submetidas a testes rápidos. Destas, cerca de 2 mil tiveram resultado positivo para a presença de anticorpos.
Para o professor, o resultado vai ajudar a combater a disseminação da doença no país, com o Ministério da Saúde adotando protocolos que orientem a testagem de acordo com os sintomas mais comuns. “Os sintomas de Covid-19 aparecem e essa é uma boa notícia para a Secretaria de Vigilância em Saúde, para desenvolver protocolos para identificar pessoas sintomáticas e ajudar a prevenir a doença”, afirmou, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (2).
Olfato e paladar
De acordo com Hallal, um sintoma deve ser focalizado: a perda de olfato e paladar. Além de ser sintoma mais comum, registrado por 63% dos respondentes que testaram positivo, é uma ocorrência que ajuda a diferenciar em relação a outras doenças.
“É um sintoma raro, que acontece em poucas doenças, diferentemente de outros como dor de cabeça e tosse”, explicou o professor. Dor de cabeça (62,2%), febre (56,2%), tosse (53,1%) e dor no corpo (52,3%) completam a lista dos sintomas mais comuns da Covid-19, segundo o questionário.
Recorte social
De acordo com o pesquisador, o levantamento evidenciou a diferença de impacto social a respeito da pandemia do novo coronavírus. “Em qualquer uma das três fases, 20% dos pobres apresentam o dobro da infecção em relação aos 20% mais ricos”, explicou.
Uma das principais razões apontadas é a falta de distanciamento social dentro das próprias casas. “Acomodações menores, com mais pessoas e menos cômodos”, disse.
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A pesquisa mostrou que a região Norte foi a única a apresentar retração entre a segunda e a terceira fase, sendo que o Nordeste registrou uma alta menor e Sudeste, Sul e Centro-Oeste tiveram uma aceleração. A segunda fase aconteceu entre os dias 4 e 7 de junho e a terceira fase entre os dias 21 e 24 de junho.
Diante dos resultados, o especialista afirmou que a aceleração menor de forma geral no Brasil “é uma ótima notícia”. No entanto, Hallal acredita que a flexibilização do distanciamento social só deveria acontecer em estados e municípios com os números em queda.