Não temos dados científicos mostrando que 3ª dose é benéfica, diz infectologista
À CNN, infectologista da Unesp afirma que imunossuprimidos que fizeram transplantes de órgãos sólidos são os que têm mais chance de necessitarem de reforço
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia de uma terceira dose da AstraZeneca. Mesmo distantes de uma cobertura vacinal satisfatória no país, especialistas e autoridades já discutem a continuidade da campanha em 2022 ou a aplicação de uma dose de reforço.
Em entrevista à CNN, o chefe de infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alexandre Naime, diz que ainda não há resultado que comprove a eficácia da dose adicional, chamada de booster. “Nós não temos dados científicos mostrando que isso seja necessário ou seja benéfico, nós precisamos criar esse tipo de ciência a partir dos estudos que começaram.”
Neste primeiro momento, as pesquisas buscam identificar quais populações são mais vulneráveis à reinfecção ou mesmo a terem sintomas graves da doença, mesmo tendo sido vacinado com duas doses.
“Doses de reforço podem ser necessárias, principalmente, para alguns subgrupos, pacientes imunossuprimidos transplantados de órgãos sólidos, talvez as pessoas mais idosas, talvez as pessoas que se exponham mais, como profissionais de saúde, aí essa dose de reforço será feita para todas as plataformas de vacina: Pfizer, Oxford/AtraZeneca, Coronavac ou Janssen”, explica Naime.
O infectologista explica que idosos, acima de 70 e 80 anos, têm menor capacidade de produção de anticorpos em relação à população jovem, por isso a faixa etária também é um fator a ser considerado nestas avaliações. “Quanto mais velho a pessoa fica, existe um fenômeno chamado imunossenescência, que é o enfraquecimento do sistema imunológico, do sistema de defesa. Então, a gente sabe que não só para Covid, mas para outras estratégias de vacinação, quanto mais idoso for a pessoa, acima de 70, 80, a resposta à vacina pode ser mais fraca.”
De acordo com Naime, não existe, hoje, um exame capaz de comprovar se o indivíduo foi capaz de produzir resposta imunológica após a vacina contra a Covid-19. “Nós ainda não temos na Covid-19 um correlato de imunidade. Não temos um exame específico que nos dê certeza se acima de determinado valor, se eu tiver aquela quantidade [de anticorpos] eu vou estar protegido, por isso que não adianta sair por aí fazendo dosagem de anticorpos neutralizantes.”, orienta.
Estes marcadores são um dos focos de estudo, uma vez que, ao encontrarem, será possível identificar com mais facilidade quanto tempo a imunidade dura em cada grupo de pessoas e quais vacinas promovem mais ou menos tempo de proteção.
* (supervisionado por Elis Franco)