Não é ideal priorizar doses de reforço contra a Covid-19, diz artigo na Lancet
Pesquisadores da OMS, Oxford e outros defendem que não há dados que embasem a aplicação da dose extra agora
Um artigo conjunto de um grupo internacional de cientistas publicado na revista Lancet nesta segunda-feira (13) concluiu que, mesmo para a variante Delta, a eficácia das vacinas contra a Covid-19 é tão alta que as doses de reforço para a população em geral não são adequadas nesta fase da pandemia.
Os pesquisadores, incluindo membros da Organização Mundial da Saúde (OMS), da agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), da Universidade de Oxford e outros alertam que não há dados suficientes para justificar a aplicação extra neste momento.
Para eles, a prioridade deveria ser atingir grupos que porventura ainda não foram completamente imunizados.
“A mensagem de que doses de reforço serão necessárias em breve, caso essa não seja uma situação justificada com dados e análises robustos, poderia causar efeito adverso na confiança nas vacinas e diminuir a importância da vacinação primária [com duas doses ou dose única]”, diz o texto. Leia o artigo na íntegra [em inglês].
Tal análise vem em um momento em que diversos países começaram a implementar a dose de reforço em populações de maior vulnerabilidade à Covid-19, como idosos e profissionais de saúde.
No entanto, a medida não é consensual entre a comunidade científica.
A OMS, por exemplo, colocou-se contrária a aplicação da terceira dose – para imunizações previstas com duas doses, como é o caso das vacinas da Pfizer ou Coronavac, por exemplo – em detrimento de países e regiões que ainda permanecem sem acesso amplo aos imunizantes.
“Mesmo que a dose de reforço seja eventualmente assocada a uma diminuição de risco de contrair a doença em sua forma grave, os estoques de vacinas atuais poderiam salvar mais vidas se eles fossem utilizados em populações ainda não vacinadas do que usadas como extras em pessoas já vacinadas”, diz trecho do artigo, corroborando com a tese da OMS.
Brasil, Estados Unidos e Israel são alguns dos países que já iniciaram o processo de aplicação de doses de reforço.
Vacinas já são efetivas contra as variantes
Segundo os dados disponíveis a nível global e analisados pelos pesquisadores, as vacinas permanecem altamente eficazes contra casos severos da doença, incluindo todas as principais variantes virais identificadas até o momento.
O artigo traz a média dos resultados relatados dos estudos observacionais: a vacinação teve 95% de eficácia contra situações graves, tanto da variante Delta quanto da variante Alfa, e mais de 80% de eficácia na proteção contra qualquer infecção por essas mutações.
Com isso, os benefícios de uma dose de reforço ainda não encontram respaldo nos dados obtidos até o momento.
Uma exceção ao caso seria aplicá-las em pessoas imunossuprimidas, argumentam, mas não sabe-se sequer se a dose extra seria capaz de aumentar os índices de proteção nessa população.
Além disso, acrescentam, a necessidade de uma aplicação a mais de alguma dose vacinal poderia ser feita no futuro levando em conta possíveis outras variantes que pudessem, em tese, abalar a capacidade de resposta das vacinas já existentes.