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    Multivitamínico diário pode trazer melhora da cognição em idosos, diz estudo

    Benefício parece ser maior para pessoas com histórico de doenças cardiovasculares, sugere pesquisa

    Jacqueline Howardda CNN

    Tomar um multivitamínico diário pode estar associado à melhora da função cerebral em adultos mais velhos, diz um novo estudo, e o benefício parece ser maior para aqueles com histórico de doenças cardiovasculares.

    As descobertas não surpreenderam os pesquisadores – em vez disso, eles ficaram chocados, disse Laura Baker, autora do estudo e professora de gerontologia e medicina geriátrica na Wake Forest University, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

    “Tenho que usar a palavra ‘chocado'”, disse Baker.

    Os pesquisadores – da Wake Forest University School of Medicine, em colaboração com Brigham and Women’s Hospital em Boston – analisaram a função cognitiva em adultos mais velhos que foram selecionados para tomar um suplemento de extrato de cacau contendo flavonoides, um multivitamínico ou um placebo (substância sem efeito algum) todos os dias, por três anos. Ninguém, nem mesmo os pesquisadores, sabia quem era escolhido para qual dieta diária até que os resultados fossem revelados.

    “Nós realmente acreditávamos que o extrato de cacau teria alguns benefícios para a cognição com base em estudos anteriores de benefícios cardiovasculares. Então, estamos aguardando essa grande revelação em nossa análise de dados – e não foi o extrato de cacau que beneficiou a cognição, mas sim o multivitamínico”, disse Baker.

    “Estamos entusiasmados porque nossas descobertas apontaram um novo caminho para investigação – para uma intervenção simples, acessível, segura e barata que poderia ter o potencial de fornecer uma camada de proteção contra o declínio cognitivo”, completa.

    Mas ela acrescentou que ela e sua equipe não estão prontas para recomendar que os idosos adicionem imediatamente um multivitamínico diário à sua rotina com base apenas nesses resultados.

    As descobertas, publicadas nesta quarta-feira (14) no Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, não são definitivas e não podem ser generalizadas ao público. Mais pesquisas são necessárias para confirmá-las.

    “É muito cedo para fazer essas recomendações”, disse Baker. “Sinto que precisamos fazer isso em outro estudo”.

    Encontrando conexões na saúde do cérebro

    O novo estudo incluiu 2.262 pessoas, com 65 anos ou mais, inscritas entre agosto de 2016 e agosto de 2017 e acompanhadas por três anos. Os participantes completaram testes por telefone anualmente para avaliar sua função cognitiva. Eles foram pontuados na narração de histórias, fluência verbal e ordenação de dígitos, entre outros testes.

    Os pesquisadores analisaram a função, com base nos resultados dos testes, entre aqueles que tomaram extrato de cacau diariamente em comparação com um placebo, e entre aqueles que tomaram o multivitamínico diário em comparação com um placebo.

    Os pesquisadores descobriram que três anos tomando o multivitamínico parecem ter retardado o envelhecimento cognitivo em 1,8 anos, ou 60%, em comparação com o placebo. A suplementação diária de extrato de cacau por três anos não afetou a função cognitiva, escreveram os pesquisadores.

    O estudo – apoiado pelo Instituto Nacional do Envelhecimento dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, em inglês) – também descobriu que as multivitaminas eram mais benéficas para adultos mais velhos que tinham histórico de doença cardiovascular.

    “É bem conhecido que aqueles com fatores de risco cardiovascular podem ter níveis mais baixos de vitaminas e de minerais no sangue. Portanto, suplementar essas vitaminas e minerais pode melhorar a saúde cardiovascular e, em virtude disso, melhorar a saúde cognitiva – e sabemos que há uma forte conexão entre a saúde cardiovascular e a saúde do cérebro”, disse Keith Vossel, professor de neurologia e diretor do Centro Mary S. Easton para Pesquisa e Cuidados de Alzheimer da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

    Graças a essa conexão entre saúde cardiovascular e cerebral, tomar medidas para prevenir doenças cardiovasculares ou outras doenças crônicas – como manter uma dieta saudável e exercícios – também pode beneficiar o cérebro, disse Vossel, que não esteve envolvido no novo estudo.

    “Se pudermos realmente eliminar ou de fato prevenir doenças crônicas, poderemos prevenir demências”, disse ele. “Aproximadamente até 40% da demência poderia ser prevenida com apenas melhores medidas preventivas ao longo da vida”.

    Os fatores específicos que impulsionam essa ligação entre um multivitamínico e a função cognitiva não são claros e exigem mais pesquisas, mas Baker e sua equipe acham que as descobertas podem estar relacionadas à maneira como os multivitamínicos podem beneficiar pessoas com falta de micronutrientes, como vitamina C, vitamina E, magnésio ou zinco.

    “Com o envelhecimento, a situação pode piorar. Muitos de nossos idosos não têm nutrição adequada por várias razões”, disse Baker.

    “À medida que envelhecemos, é mais provável que tenhamos condições médicas que possam comprometer a suficiência de micronutrientes”, disse ela. “Os medicamentos que tomamos para essas condições também podem afetar a suficiência de micronutrientes, interferindo na capacidade do corpo de absorver esses nutrientes essenciais da dieta”.

    ‘Já passamos por esse caminho um pouco antes’

    Outros estudos tiveram resultados mistos na associação entre certas vitaminas e suplementos e risco de demência, alertou Vossel.

    “Já percorremos esse caminho um pouco antes com pesquisas sobre vitaminas e demência. Por muitos anos, especialistas em demência recomendaram vitamina E com base em alguns resultados promissores iniciais com vitamina E e cognição, e especialmente aqueles com doença de Alzheimer, mas os resultados foram mistos desde então”, disse Vossel.

    Os adultos mais velhos devem conversar com seu médico de cuidados primários antes de iniciar uma rotina de vitaminas ou suplementos, acrescentou.

    “Suplementar geralmente é seguro, mas precisa ser monitorado com cuidado, especialmente para quem tem perda de memória, porque a overdose de vitaminas pode ser muito perigosa”, disse Vossel. “Mesmo com overdose de vitamina E ou tomando altos níveis de vitamina E pode aumentar o risco de sangramento. Portanto, essas são apenas algumas considerações”.

    No geral, as descobertas do novo estudo são encorajadoras, disse Heather Snyder, vice-presidente de relações médicas e científicas da Associação de Alzheimer.

    “Certamente, há trabalho de acompanhamento que precisamos ver acontecer – confirmação particularmente independente em estudos que estão em populações maiores e mais diversas – mas isso é encorajador”, disse ela. “Há mais pesquisas que precisam ser feitas para entender o que pode estar no multivitamínico que pode ter um benefício”.

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