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    Mulheres vivem mais que os homens, mas com pior qualidade, diz estudo

    Análise mostra que mulheres sofrem mais, ao longo da vida, com doenças não fatais, enquanto homens enfrentam maior risco de morte precoce por doenças cardiovasculares e lesões relacionadas a acidentes de trânsito

    Gabriela Maraccinida CNN

    Um novo estudo buscou examinar as principais diferenças na saúde entre homens e mulheres, através da análise de 20 principais causas de doenças e mortalidade ao longo dos últimos 30 anos. Publicada em maio na revista científica The Lancet Public Health, a pesquisa mostra que, apesar de viverem por mais tempo, as mulheres possuem um pior quadro de saúde em comparação aos homens ao longo da vida.

    Segundo o estudo, as mulheres são mais atingidas por condições não fatais como problemas musculoesqueléticos, transtornos de saúde mental e dores de cabeça. Já os homens são desproporcionalmente afetados por condições que podem levar à morte precoce, como Covid-19, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e hepáticas, além de lesões relacionadas a acidentes de trânsito.

    Os pesquisadores ressaltam, ainda, que essas diferenças de saúde entre homens e mulheres continuam a crescer com a idade. Além disso, por viverem mais que os homens, as mulheres apresentam níveis mais elevados de doenças e incapacidades ao longo da vida.

    No estudo, os autores diferem “gênero” e “sexo”, sendo que o primeiro termo se refere aos papéis, comportamentos e identidades socialmente construídos de mulheres e homens, além de incluir a identidade de gênero. Já “sexo” se refere às características biológicas e fisiológicas de homens e mulheres. Os pesquisadores acreditam que a análise servirá como um apelo a ações para países atualizaram dados de sexo e gênero e reverem as abordagens à saúde com base nessas diferenças.

    Como o estudo foi feito?

    A pesquisa utilizou dados do Global Burden of Disease Study 2021 para comparar o número total de anos de vida perdidos por doenças e morte prematura — uma medida conhecida como anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) — para as 20 principais causas de doenças em mulheres e homens. Foram analisados dados globalmente, em sete regiões do mundo, entre 1990 e 2021.

    A análise não incluiu condições de saúde específicas do sexo, como doenças ginecológicas ou câncer de próstata, por exemplo. No entanto, a pesquisa examina as diferenças de saúde entre condições que afetam tanto mulheres quanto homens.

    Mulheres sofrem mais com dores e distúrbios depressivos e de ansiedade

    O estudo mostra que as principais condições que causam incapacidade entre as mulheres são a dor lombar, distúrbios depressivos e de ansiedade, dor de cabeça e outros distúrbios musculoesqueléticos, além de Alzheimer e outras demências. Segundo os autores, essas condições podem contribuir para uma maior predominância de doenças e incapacidades ao longo da vida, em vez de levarem à morte precoce.

    De acordo com a pesquisa, a maior diferença está na dor lombar, com taxas de DALYs mais de um terço mais altas para as mulheres do que para os homens, em 2021. A disparidade foi maior no Sul da Ásia, onde as taxas eram 50% mais elevadas nas mulheres do que nos homens. Em seguida, surgem a Europa Central, Europa Oriental e Ásia Central, com taxas 30% mais elevadas.

    Já as condições relacionadas à saúde mental afetam desproporcionalmente as mulheres em todas as regiões do mundo. Segundo o estudo, a perda de saúde causada por depressão foi um terço maior entre as mulheres do que entre os homens, mundialmente, em 2021.

    “Grandes causas de perda de saúde em mulheres, especialmente distúrbios músculo-esqueléticos e problemas de saúde mental, não receberam a atenção que merecem”, afirma a co-autora do estudo Gabriela Gil, do IHME.

    Homens sofrem mais por doenças cardíacas, Covid-19 e lesões rodoviárias

    O estudo mostrou que os homens são mais afetados por condições de saúde potencialmente fatais e que podem levar à morte precoce. É o caso da doença cardíaca isquêmica, que teve a segunda maior diferença (45%) entre homens e mulheres. Em relação à Covid-19, homens também sofreram 45% mais perda de saúde em comparação às mulheres.

    O número também foi desproporcional, sendo maior entre os homens, nos casos de lesões rodoviárias, ou seja, acidentes de trânsito, em todas as regiões do mundo. As maiores perdas foram observadas no público masculino jovem, entre 10 e 24 anos.

    “Entre estes desafios estão as condições que levam a mortes prematuras, nomeadamente sob a forma de lesões rodoviárias, câncer e doenças cardíacas. Precisamos de planos e estratégias nacionais de saúde para responder às necessidades de saúde dos homens ao longo da vida, incluindo intervenções que visem riscos comportamentais, como o consumo de álcool e o tabagismo, que normalmente começam numa idade jovem”, afirma o coautor principal do estudo, Vedavati Patwardhan, da Universidade da Califórnia, em San Diego, EUA.

    Soluções para as disparidades entre sexo e gênero

    Para Sorio Flor, o estudo evidencia “uma necessidade urgente de maior atenção às consequências não fatais que limitam a função física e mental das mulheres, especialmente em idades mais avançadas”. “Este tipo de investigação crítica, comparável e abrangente é importante, tanto para compreender a magnitude e distribuição das diversas e evolutivas necessidades de saúde de mulheres e homens em todo o mundo, como para identificar oportunidades-chave para ganhos de saúde em todas as fases da vida”, comenta.

    Os pesquisadores também sublinham que as diferenças de saúde entre homens e mulheres começam a surgir na adolescência. Para eles, esse padrão ressalta a necessidade de respostas específicas desde uma idade precoce para prevenir o aparecimento e o agravamento de problemas de saúde e para adotar abordagens nos sistemas de saúde que se adaptem às necessidades da população ao longo da vida.

    Por fim, os autores consideram importante desvendar as raízes das diferenças de saúde entre homens e mulheres através da coleta e notificação de dados específicos de sexo e de identidade de gênero para a criação de políticas públicas que ofereçam melhores oportunidades de acesso equitativo à saúde e futuro saudável para todas as pessoas.

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