Morcegos com coronavírus similares ao SARS-CoV-2 circulavam no Camboja desde 2010
Estudo mostra que distribuição geográfica de animais portadores de coronavírus semelhantes ao da Covid-19 é ampla
Um estudo publicado na revista Nature Communications indica que vírus quase idênticos ao SARS-CoV-2 (com correspondência de 92,6% de suas identidades nucleotídicas) foram encontrados em amostras de 2010 provenientes de dois morcegos do Camboja, país do sudeste asiático. A pesquisa foi publicada em 9 de novembro.
O grupo de cientistas analisou os genomas dos vírus encontrados em dois morcegos-ferradura de Shamel (Rhinolophus shameli) e identificou que a maior parte das regiões dos genomas desses vírus são muito semelhantes às do SARS-CoV-2, exceto pela região da proteína spike, que está associada à capacidade de entrada do vírus nas células humanas, pois se acopla à proteína ACE2 humana. Nos vírus encontrados, a proteína spike não é compatível com a proteína ACE2 humana.
A descoberta sugere que os vírus semelhantes ao SARS-CoV-2 provavelmente circularam em várias espécies do gênero de morcegos Rhinolophus. Assim, o estudo indica que a distribuição geográfica do SARS CoV-2 pode ser mais extensa do que a relatada até o momento.
Em setembro, foi publicado na Nature outro estudo que indica a presença de vírus muitos similares ao SARS-CoV-2 em morcegos encontrados em Laos, outro país do sudeste asiático. Já em 2020, coronavírus similares ao SARS-CoV-2 foram detectados em grupos de pangolins apreendidos durante operações anticontrabando no sudeste chinês. Os animais, embora tenham sido encontrados na China, têm um alcance geográfico natural que compreende regiões do sudeste da Ásia.
Segundo os cientistas que estudaram os morcegos do Camboja, o atual entendimento da distribuição geográfica das linhagens do SARS-CoV-2 pode refletir uma falta de amostragem do sudeste asiático ou, pelo menos, na sub-região do Grande Mekong — que compreende Mianmar, Laos, Tailândia, Cambodja e Vietnã, assim como as províncias chinesas de Yunnan e Guanxi.
Lucy Keatts, co-autora do estudo e membro do programa de saúde da Wildlife Conservation Society (WCS), afirma que essas descobertas ressaltam a importância do investimento na vigilância de patógenos que afetam a vida selvagem, principalmente em escala regional, no sudeste asiático.
“A região está passando por mudanças dramáticas no uso do solo, como desenvolvimento de infraestrutura, desenvolvimento urbano e expansão da agricultura, o que aumenta o contato entre morcegos, outros animais silvestres, animais domésticos e humanos”, diz um trecho do estudo.
“Vigilância ampla e contínua de morcegos e outros animais silvestres no sudeste asiático é um componente crucial para a preparação e prevenção de pandemias futuras”, alerta a pesquisa.